Capítulo 2- Primeiro dia de trabalho, Primeiro drama.

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O resto do dia teria sido completamente normal se por acaso no final do jantar antes mesmo de ir trabalhar eu não fizesse uma fita.

-Tu tens de ir Angélica. Já te comprometeste com isto.- Ele diz enquanto me segue a andar pela casa toda.

- Não vou. Eu tinha te dito que não era capaz.

- És sim! Por favor faz isto. Se não for por ti, então que seja por mim.

- Mas eu não sou capaz. Eu não estou habituada a estar em locais tão movimentados barulhentos e com tantas pessoas como as boates.

- E nunca estarás se não os visitares. Nem sempre eu e a tua tia estaremos. Tu de certo irás casar um dia e ter filhos. Não podes simplesmente passar o resto da vida trancada nesta casa.- Ele disse, e eu apercebo-me de que ele realmente tem razão.

- Eu vou. Tu tens razão. Um dia terei que começar a viver. E isto até pode ser bom para o meu currículo.

- Currículo?

- Sim. Assim poderei mostrar que sou responsável.

- Não importa o motivo. O que importa é que vais. Vamos descer que a Ana já está à tua espera.- Descemos e eu comprimento a Ana e logo vamos para o carro.

- Então, vou já começar a avisar-te de como funciona na boate. 1º- Afasta-te dos Lancastre. Não são flor que se cheire. 2º- Cuidado com o que dizes em frente da Priscila. Ela é os ouvidos dos Lancastre, a queridinha deles. Ela apenas está a trabalhar por causa de um castigo.

- Castigo?

- Acho que o pai dela descobriu que ela gastou uns 5 000€ em sapatos e o pai a pôs a trabalhar para ela compreender que o dinheiro não nasce das árvores. Continuando, esta é a mais importante. Se eles te dirigirem a palavra apenas concorda. Eles são bastante mimados e pelo mínimo deslize que possas ter podes ser despedida.- Apenas acenava a cabeça enquanto ela falava até que ela pergunta- Porque é que és tão tímida? Quer dizer, não sais de casa, quase que falas e eu reparei que ainda nem sequer me olhaste nos olhos.

- Não entenderias.

-É claro que entenderia. Há algo que te deixa incomodada? Podes-me contar. Eu sei como é.

- Sabes?

- Sim. Eu estive em depressão entre os 7 e os 14 anos.

- Porquê?- Perguntei curiosa.

- Eu sofri bullying na infância.- Ela respondeu e parecia super normal- Eu apanhava porrada na escola e em casa. Os tribunais descobriram e fui para uma casa de acolhimento. E aqui estou. Feliz com o casal que me acolheu como uma filha.

- Então tu sabes como é perder os pais e nunca mais os poderes ver?

- Bem, os meus pais foram presos então... Praticamente.

- Eu não costumo me abrir com ninguém mas... Já se passou tanto tempo e a dor não desaparece.- Disse triste enquanto tentava não chorar.

- Não é preciso me contares. A mim basta-me que me olhes nos olhos.- Ela diz e eu levanto o meu olhar, não até aos olhos mas sim até as mãos no volante enquanto ela encostava o carro. Ouvia uma musica de fundo no entanto prestei mais atenção a ela enquanto mexia no telemóvel até que o agarra em frente da minha cara e diz- Esta sou eu.- Ela mostrou-me uma foto sua e ampliou no olho direito- Os meus olhos são assim. Agora vou querer ver os teus.- Num gesto rápido abracei-a. Ela pareceu surpreendida mas logo retribui ao abraço.

- Obrigada.- Eu realmente estava grata. Ela foi a primeira pessoa a confortar nestes anos além dos meus tios. Mesmo com as visitas a terapeutas eu nunca senti que aquilo me fizesse bem. Eles eram pagos para fazê-lo, não eram sinceros. A Ana não. Ela simplesmente o fez por consideração e não por pena. 

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