Capítulo 13

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Ana

Dentro de casa, fechei a porta e me encostei contra ela, incerta de que minhas pernas iriam me segurar por muito mais tempo. Tinha mudado muito desde que sai de casa ontem à hora do almoço. A luz vermelha piscando na secretária eletrônica chamou minha atenção, e arrastei uma respiração afiada, dolorosa.
Tinha que ser Dan. Atravessei a sala e me sentei no chão ao lado da mesa do corredor e apertei o botão, a cabeça em minhas mãos.
"Hey Ana..." Apenas o som de sua voz trouxe uma dor pesada no meu peito. "Sou eu... onde está você, baby? Eu realmente queria ouvir sua voz hoje à noite, foi um longo dia da porra... Sinto sua falta... é tudo uma bela merda aqui... a merda habitual. Bob é um pé no saco como de costume, com exigências descabidas e estragando as negociações... de qualquer maneira..."
ele suspirou de forma audível na linha, e fechei os olhos com força.
"Queria que você estivesse aqui. Ou eu estivesse aí. Qualquer que seja... amo você, baby. Até logo, sim?"
A mensagem acabou, e engoli em seco o ar enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Estendi a mão e
rebobinei a mensagem, ouvindo mais dos silêncios prolongados de Dan que suas palavras. Ele parecia desolado.
Onde eu estava quando ele precisava ouvir minha voz?
Verifiquei a hora de gravação na máquina. Oito horas. Lágrimas quentes e frescas de vergonha corriam por minhas bochechas. Não podia suportar a ideia de Dan de pé em algum lugar, sozinho, esperando-me atender, quando o tempo todo eu estava na porta de entrada de um Clube deixando Christian me foder com o seu grande vibrador prata. Queria arranhar meus
próprios olhos com vergonha, enquanto subi as escadas em linha reta, tirando minhas roupas e jogando-as em uma bola no patamar. Todas, exceto a calcinha, que ainda estava no bolso de Christian.
Engoli em seco, doente e com nojo de mim mesma quando entrei debaixo do chuveiro fumegante. Por bem mais de dez minutos, fiquei imóvel, com o rosto virado para cima no jato de água, esperando que ele pudesse lavar minha vergonha juntamente com o filme de suor que ainda estava em minha pele do clube. Eu era desprezível.

Apertei a metade da garrafa de gel nas mãos e me esfreguei, rangendo os dentes contra a sensação de minhas mãos em meus seios. Mesmo me tocando trouxe de volta memórias desconfortáveis das mãos de Christian sobre mim.
"Não. Não. Não." O som arrancado do meu peito, um grito animalesco de frustração enquanto batia os punhos contra a parede de azulejos. Me recusei a deixar a memória dizer que tinha me sentido bem. Deveria ter sido hediondo porque ele não era Dan.
Lágrimas se misturaram com a água do chuveiro no meu rosto, enquanto ensaboava meu corpo severamente. Estava gasta, imunda, e fiz uma paródia de meus votos de casamento.

E para quê? Um apalpar com um estranho em um clube de sexo? Que tipo de mulher sou eu que fez isso? Como Christian conseguiu tão facilmente me reduzir à minha essência sexual, para revelar uma mulher dentro de mim que eu nem sequer reconhecia? Uma mulher com torções e perversões, uma mulher sem inibição sexual ou respeito pela santidade de seu casamento.
Mas então, não seria qualquer mulher que ruiria tão facilmente, confrontada com a força Viking de Christian Grey e sua cruzada pela libertação sexual de mulheres não realizadas?
Não teria quebrado os fios da relação de alguém pelos dedos ágeis de um homem bonito e carismático?
Nem todas as mulheres descobriram como eu, o lado carnal escuro quando confrontadas com Christian? Ou era apenas emocional?
Sobrecarregada pela culpa, deslizei pela parede e deixei o chuveiro sobre a cabeça baixa, isso foi sem esperança.
Nenhuma quantidade de água pode purificar a auto-aversão de minha própria pele.
Nem sequer importa nesse momento que Dan pode estar se enroscando com alguém, porque a verdade horrível, foi que ele não teria mudado nada. A partir do momento que beijei aquele envelope e postei minha candidatura de trabalho, selei meu caso com Christian Grey.
Desmaiei logo após por a cabeça no travesseiro, exausta fisicamente por Christian e mentalmente pela culpa. Tinha esperado ficar agitada e revirar a noite toda, de modo que fiquei surpresa ao encontrar-me piscando contra os dedos da luz da manhã que se arrastavam as pressas por entre as cortinas abertas.
O despertador ao lado da cama informou-me que era um pouco depois das nove. Podia me levantar, mas os ossos e meu coração pareciam muito pesados. Queria fechar os olhos e ficar na cama, em minha própria cama, até que me sentisse como eu mesma novamente. Quanto tempo isso levaria? Alguns dias?
Algumas semanas? Uma vida inteira?

Virei de lado e puxei a colcha por cima do ombro, enrolando-me em um casulo contra o mundo exterior. Não poderia ficar para sempre na cama, mas poderia muito bem passar esta manhã aqui, e esta tarde também se eu quisesse, porque não tinha intenção de chegar perto da Grey Inc.

Teria Derek já ocupado o meu antigo emprego? A ideia de voltar, de chapéu na mão pra ele, me fez afundar ainda mais na colcha com a miséria, mas pelo menos seria um passo para puxar a minha vida de volta da beira do desastre.

Fechei os olhos e me forcei a respirar profundamente. Dentro. Fora. Dentro. Fora.

O sono rastejou de volta através de meus ossos, e relaxei agradecida. Dentro. Fora. Dentro. Fora.

E foi então que o telefone tocou.

Sentei-me no último degrau e apertei o botão de rebobinar na secretária eletrônica pela terceira vez. A voz tingida de pânico da secretária de Dan quebrou o silêncio novamente.

"Oi Dan, é Elise... Sinto muito incomodá-lo quando você está de férias, Bob está tendo uma de suas emergências." O suspiro dramático de Elise falou muito. "Você tem
alguma ideia de onde o relatório Matteson está? Por favor diga que sim. Eu não consigo encontrá-lo em qualquer lugar e ele precisa para uma reunião em dez minutos. Você sabe como ele fica.
Ligue-me se você puder. Eu tentei o seu celular, mas está desligado, então eu só estava esperando que você estivesse em casa. Desculpe de novo."

A linha ficou muda quando Elise desligou, e cai contra a parede.
Dan não estava de férias. Por quê ele estaria de férias?
Ele deveria estar em Milão para negociações. Com Bob. Mas Elise saberia disso, não saberia? Não poderia haver erro. Não havia nenhuma possibilidade de um imaginável mal entendido.
Franzi a testa, e rebobinei as mensagens de alguns dias de novo para ouvir de Dan. Baixei a cabeça nas mãos,
enquanto sua voz falava em torno do corredor vazio. Dan. Meu Dan.
Dan de alguém. Ele falou de Bob como se ele estivesse com ele, mas agora eu sabia melhor. Não podia afastar isso para longe, a conclusão era óbvia. Ele estava, na verdade, de férias com a sua amante.

Choque roubou o ar dos meus pulmões.
Posso ter perdido minha pretensão de superioridade moral no momento em que deixei Christian me tocar, mas essa coisa de Dan...foi diferente. Se eles estavam de férias, se ele estava mentindo sobre trabalhar... era propriamente um relacionamento extraconjugal. Jesus, será que ele a ama, quem quer que fosse?
Lágrimas escaldantes caíram por minha face com a ideia de Dan dizer aquelas preciosas palavras sagradas para alguém. Ele sempre tinha sido a minha âncora, mas depois de muitos meses de enterrar a cabeça na areia sobre as suspeitas de sua infidelidade tinha me cortado à deriva até que eu estava flutuando muito longe dele para chegar até sua mão.
À deriva, cheguei nas mãos de um grande Viking sexy com luxúria correndo em suas veias.
Um cobertor pesado de tristeza caiu em torno de meus ombros.
Meu casamento foi quebrado. Imagens de Dan e uma mulher sem rosto enrolados em minha mente. Uma morena em um restaurante. Uma loira em uma praia. Uma ruiva na sua cama.
Quem era ela? Quem era a mulher que Dan tinha decidido que valia mais do que seus votos matrimoniais?
Tristeza deslizou lateralmente em uma parede sólida de raiva.
Fervente raiva quente que chacoalhava em meu intestino como uma infecção rançosa.
Como ele se atreve? Como porra Dan se atreve a pisar em meu amor, por todas essas semanas e meses, anos até, por tudo que eu sabia.
Minha própria culpa derreteu sob o calor de minha raiva. Isso era sua culpa.

Isso. Era. Sua. Culpa.
Meus olhos moveram-se para cima, para o relógio.
Meio-dia.
Com uma determinação que não sabia que possuía, desliguei meu celular e subi as escadas para me trocar.
Não tinha a intenção de me atrasar para o trabalho.

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