1°capítulo

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De trás da porta do quarto vinha um toc-toc-toc insistente.

- É a Ju! Com certeza ela deve tá bêbada denovo - deduziu Ana.

- Abre lá e engole esse choro, por favor. É só abrir e não falar nada, simples. - disse Li.

As mãos de Ana tremiam, parecia estar com Parkinson, quase não acertou o buraco da fechadura. Quando a porta abriu, Ju deu um grito descontrolado de fúria, empestando o quarto com um cheiro de cerveja e maconha.

- Vocês estão surdas? Toda vez é essa demora pra abrir essa porra. - gritou Ju, tropeçando nas próprias pernas.

Não houve respostas às suas objeções, só um barulho do medo - inaudível - gritante nos olhos das moças.

Vasculhou a sua bolsa, como um cão de caça. Levantou o colchão, passando as mãos pelos estrados da cama, e enfiou o dedo dentro de um buraco que ela mesmo tinha feito na parede do quarto, mas não encontrou o que queria, foi visível pela fúria que demonstrou.

- Ei, cadê o meu bagulho daqui? Eu deixei por aqui, não é possível que sumiu do nada. - vociferou enquanto vasculhava dentro das gavetas do seu guarda-roupas. - Vocês esconderam!?

- Pra que eu vou querer essa tua imundice? A única drogada aqui é tu - Li sentiu que não deveria ter falado nada.

- Então cadê? Sumiu do nada?

Ana escrevia nas paredes, enquanto as duas irmãs  discutiam. Quando se sentia amedrontada, todas às vezes era o seu pincel marcador preto que aliviava o medo. Todas estavam acostumadas com os episódios de embriaguez de Ju, mas a cada novi fim de semana tudo ficava pior, ela estava cada vez mais agressiva.

Dentro da cabeça de Li, um vulcão entrou em erupção. Estava farta das crises da sua irmã e sentiu que não conseguiria mais segurar sua língua.

- Não consegue ver que a gente tá sofrendo. Olha pra ti, Está cega, só consegue olhar pras tuas garrafas de cachaça. Vai dormir por favor!

- Eu faço o que eu quiser! Eu tô fazendo 15 anos hoje. Não posso comemorar?

A agressão verbal se estendeu por algum tempo. Até que tudo piorou. Ju partiu para cima de Li com uma lâmina afiada de barbear, que tirou do seu bolso. O golpe atingiu o punho da irmã. O sangue aflorou rápido e seguiu o corte, numa linha horizontal. Na tentativa de se defender de um outro possível ataque, girou desastrosamente sobre a mesa de cabeceira, atrás de si, e caiu com a cabeça no chão.

- Ju para por favor ela tá grávida, não machuca ela... - implorou Ana chorando.

Às três se olharam por alguns segundos quase eternos. Eram muitos pedidos de perdão à irmã grávida. E enquanto se abraçavam em meio às múltiplas facetas da dor, o sangue escorria do pulso da moça morena.

- Eu não quis fazer isso me perdoa?! Eu te amo.

O segredo que Li havia pedido à Ju, já não era mais um segredo, embora tivesse prometido para sua irmã, não dizer nada, enquanto ela implorava. A balbúrdia do momento foi a culpada. Foi tudo por medo e amor.

Sobre o chão encostadas na beirada da cama, Ju, Li e Ana choravam. Ju por sempre causar dor às irmãs e a si mesma, pelos impactos negativos dos seus vícios. Ana, por se sentir vítima diante dos problemas da sua mente, culpada e impotente diante das irmãs. E Li, por saber que carregava dentro do seu ventre, um bebê; o filho do seu próprio pai.

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Ju, Li e Ana (conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora