3° Capítulo (final)

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A mãe entrou no quarto de Juliana, já fazia um tempo que não tinha coragem de ir lá. Abriu a porta, olhou às paredes rabiscadas e sentou-se na cadeira da escrivaninha. O pincel ainda estava lá, abriu a carta e leu novamente:

Para mamãe,

Antes de escrever essa carta, não sei se percebeu, mas deixei algumas mensagens nas paredes do meu quarto, sei que a senhora não gostava. É que a tristeza me invadia e eu precisava escrever. Antes de tudo quero que saiba que pensei em todos os motivos que me convencessem a ficar, mas não encontrei. A verdade é que sempre fui fraca, a senhora mesmo me lembrava disso todos os dias. Se está lendo essa carta é porque eu decidi ir embora.

Eu não conseguia mais dormir, tinha medo. Muito medo de ele entrar no meu quarto e me abusar de novo. Ele sempre fazia isso, me embebedava quando você ia ao seu trabalho na feira. Eu pedia pra ele parar, mas ele não parava.

Eu me tornei aquela drogada, bêbada e mal falada aqui do nosso bairro. Me perdoa mamãe, me doía tanto. A maconha me dava um conforto rápido, uma fuga repentina, mas suficiente pra me livrar da minha realidade infeliz. Só que tudo voltava a ser triste outra vez.

Às vezes eu me sentia forte por um momento, imbatível. Mas quando eu chegava em casa, enquanto o álcool transpirava do meu corpo, voltava a ser aquela Juliana fraca.

Foi difícil tomar essa decisão. Bebi bastante vodca e fumei o resto da droga que eu ainda tinha guardado na minha gaveta.

A lâmina que eu me mutilava não doía, parecia aliviar a minha dor. O sangue me assustava e o ar sempre me faltava. Sentia meu coração parar, só que ainda batia lentamente. Eu torcia pra morrer, mais continuava viva. Eram as vozes na minha mente que não deixavam eu ir.

Era por isso que eu me trancava no quarto e ficava naquela escuridão profunda. A senhora nunca percebeu porque eu usava sempre camisas de manga comprida.

Mas eu parti mamãe, eu e meu filho. Eu amo o meu bebê. Talvez aqui no Céu eu possa olhar para os seus olhinhos e não me lembrar de quando ele, o monstro, me abusava.

Se você está lendo essa carta nós já fomos embora e eu já devo está descansando em paz.

De Juliana.

Fim

Esse conto tem como objetivo, abordar sobre os problemas familiares e os silêncios internos de um adolescente. Ju, li e Ana, refletem sobre os vários conflitos que um jovem passa frente ao seu eu. Obrigado por ler.

Ju, Li e Ana (conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora