CAPÍTULO 1

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— O que houve, meu amor? — Luciano sondou, abraçando a esposa por trás, distraída, olhando para a vista urbana do lado de fora do prédio

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— O que houve, meu amor? — Luciano sondou, abraçando a esposa por trás, distraída, olhando para a vista urbana do lado de fora do prédio.

Maria suspirou deixando-se envolver pelo abraço aconchegante do marido. Fechou os olhos para abri-los novamente.

— Quero vê-la! Não dá mais, Luciano. Quero vê-la.

Delicadamente, ele a virou para o encontro dos seus olhos encaixando as mãos em seu rosto.

— Calma, querida. Tudo ao seu tempo.

— Você não entende! — exasperou-se ela.— Passei 15 anos naquele inferno! Sem vê-la, sem saber nada! E agora que estou livre...

— Não coloque tudo a perder, Maria! Estou providenciando as provas, falta pouco, e aí sim, você começa o jogo, você a procura. A ela e... Também a ele.— A voz de Luciano foi desmaiando para um tom lamentoso, quase entristecido.

— Por favor, não começa! Você sabe que odeio aquele homem. Odeio Estêvão San Roman!

Maria devolveu a visão para a vista, concentrando-se na força de suas palavras. As íris dos seus olhos flamejando de ódio.

Luciano se encaixou por detrás da esposa, jogando suas mechas enegrecidas para o outro lado. Deu-lhe um beijo no ombro esquerdo subindo para o pescoço, buscava o clima romântico que sempre conseguia naquela situação. Mas precisamente naquele dia, Maria estava rígida, enervada, não demonstrou nenhuma emoção, não permitiu-se levar pelos beijos, convidativos, deixados na curva do seu pescoço.

Ele se afastou pondo-se à frente da esposa, ofuscando sua visão da vista panorâmica.

— Em pouco mais de uma semana, tudo estará pronto, e aí sim...

— Irei esfregar a verdade na cara de Estêvão San Roman. — interrompeu ela, afoita, determinada.

Luciano franziu a testa balançando levemente a cabeça:

— Não, Maria. Aí sim você poderá rever e conquistar o amor da sua filha. — Enfatizou ele, decepcionado.

Luciano se afastou um pouco mais, pondo-se às suas costas. Ela acompanhou os passos dele, observando-o com o canto dos olhos. Sentia o desconforto do marido, em cada movimento, na mão que deslizava pelo maxilar, a cabeça baixa, pensativa.

Luciano sempre tolerava a insistência e a pressa desesperada com que a esposa quisera resolver as pendencias relativas ao seu passado. Desconfiava, muitas das vezes, que toda a sua extrema vontade e necessidade de rever a filha, estar ao seu lado, e conquistar seu espaço de mãe, incluía também querer estar com o ex-marido, não somente no sentido literal. Chegar à essa conclusão era algo que travava seu lado amoroso e benevolente. Luciano, embora demonstrasse efusivamente ser um homem compreensível e demasiadamente tolerante, nutria dentro de si, o sentimento de posse, de pertencimento de que, ao ter livrado Maria da prisão perpétua, a via como umas de suas muitas conquistas profissionais, uma grande propriedade, na verdade. A mais valiosa, e portanto não estava disposto a perdê-la. Um advogado obstinado, e indiscutivelmente competente no meio em que atuava.

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