É complicado fazer o que eu faço. Cansativo também. Pode parecer divertido, sei que muitos caras sonham em estar no meu lugar. Afinal, sexo é uma coisa que não sai da cabeça de noventa por cento dos homens. A ideia de poder transar sem compromisso algum pode ser considerada um sonho no universo masculino. Ganhar muito dinheiro para transar então... é uma conveniência tão grande que chego a agradecer todos os dias.Eu gosto de sexo e acredito que isso não seja incomum. Não é errado gostar de sexo; todo mundo gosta, claro, desde que seja bem feito. Entrei nesse tipo de vida sabendo bem o que queria: transar por dinheiro. Um sonho. Pois é, um sonho que pode se transformar em pesadelo de um minuto para o outro.
Sim, de um simples minutinho...
Estava extremamente feliz há um minuto, quando deixei a casa de uma das minhas clientes mais gostosas. A mulher é um espetáculo: morena, cabelos longos, olhos felinos, corpo escultural. Às vezes fico até envergonhado de cobrar alguma coisa dela, mas infelizmente – ou felizmente – este é o meu trabalho. A coitada não tem a mínima ideia do quanto é bonita. Ela não precisa contratar meus serviços, qualquer cara dormiria com ela sem pensar duas vezes, mas a tal da crise de inferioridade é uma tristeza mesmo.
Sei disso porque a maioria das mulheres com quem saio tem a autoestima lá embaixo. Meu dever é reerguê-la por meio de sexo prazeroso. Trato a infeliz com o maior carinho do mundo, faço ela se sentir especial, dou carícias, pego de jeito, empurro na parede, fodo a criatura... e pego o meu dinheiro.
Esta é a minha vida. Este sou eu. vinte e oito anos experientes.
Pode ser assustador. Muitos o consideram assim. "Como você consegue fazer isso, Shawn?", é o que me perguntam. A resposta é simples: conseguindo. Como dizia antes, as coisas podem ser muito prazerosas, principalmente quando a cliente é uma gostosa mal amada.
Tudo fica complicado mesmo quando tenho que encarar pessoas como a que estou prestes a encontrar. Podia simplesmente desmarcar o compromisso, mas é muito tentador ganhar o meu máximo: três mil reais a hora. Nem todo mundo tem esse dinheiro para gastar com um garoto de programa, tenho consciência disso. Nem eu mesmo me pagaria tal valor, mas bem... Há quem pague. É também um desafio, pois tenho que manter a calma – e a ereção, principalmente a ereção – diante de uma mulher que não me atrai de forma alguma.
Depois de quase dez anos fazendo isso, devo confessar que sou ótimo. Parece até que estou realmente excitado por causa da cliente. Mal sabe ela que meu pensamento está longe, imaginando que estou fodendo loucamente alguma celebridade tipo a Angelina Jolie ou a Julia Roberts. Às vezes penso até em outra cliente, apesar de ser estranho quando acontece. Não gosto de pensar, lembrar, imaginar ou ter qualquer outro tipo de relação mais íntima com ninguém. Isso pode ser perigoso, apesar de, depois de tantos anos, achar impossível algum envolvimento da minha parte.
Simplesmente não me apaixono. É um fato. Porém não significa que eu não tenha sentimentos, nem que não tenha vontade de me envolver, principalmente quando percebo que uma cliente que considero legal se apaixonou por mim. Acontece mais do que gostaria de admitir, e a minha única saída é inventar desculpas dizendo que a minha agenda está lotada. Cheguei até a dizer a uma louca que ficava me ligando de um em um segundo que não trabalhava mais no ramo e tinha me mudado para outro país. A coitada esperneou ao telefone, fiquei com dó. Mas o que posso fazer? Nada. É o meu trabalho. Ponto final.
Cheguei ao apartamento luxuoso da cliente – uma cobertura que valia, no mínimo, cinco milhões de reais –, sendo atendido por uma funcionária. Ela pediu para que eu aguardasse na sala. Aquele lugar era incrível, não posso negar. Tudo inspirava requinte e elegância; os quadros bem colocados, a iluminação embutida no teto... O ambiente era moderno, amplo, arejado e discreto, todo em tons pastéis. Parecia pertencer a alguém de muito bom gosto, mas aposto minha BMW, a Charlotte, que não havia sido ela quem decorou o espaço. Era noite de quinta-feira, portanto sabia bem o que ela queria.