Único

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    A cabeça do jovem pintor latejou ao tentar abrir seus olhos, a luz que transpassava as finas cortinas que recobriam a grandiosa janela de seu quarto, fizeram-nos arder. Quando, enfim, conseguiu erguer seu corpo, completamente nu, suas pernas tremiam e ele não pode evitar seguir cambaleante até a cozinha, precisava de água. Seus lábios estavam secos e o gosto em sua boca não era dos melhores, mas estava mais do que acostumado com aquilo. Ressaca

    Pontos negros ainda dançavam em sua vista quando o Choi escutou vigorosas batidas a sua porta, não fazia ideia de quem poderia ser aquela hora da manhã e, como havia dispensado Sana no dia anterior, suspirou fundo e vestiu o primeiro roupão que achou jogado em meio a bagunça que eram seus aposentos, antes de ir atender a porta. Lá fora, vestindo os uniformes reais em tons de verde e azul, o mensageiro real lhe esperava, pronto para bater mais algumas vezes à porta. 

    ― Carta do rei para o senhor Choi Youngjae ― Disse de forma mecânica, sem ao menos olhar nos olhos do pintor. Youngjae pegou o envelope e agradeceu baixinho antes de se enfiar novamente dentro de casa. Apesar da curiosidade, ele poderia esperar um pouco para ler o que tinha ali, deixou o papel com o selo real em qualquer lugar e observou o que deveria ser seu estúdio. 

    Tudo estava revirado, telas em branco e algumas outras manchadas de tinta haviam sido deixadas por todo o lado, os quadros já prontos empilhados ao fundo, o chão e as paredes manchadas de tinta e inúmeras garrafas de vinho, completamente vazias espalhadas por todo o cômodo. Fazia um tempo que não conseguia pintar nada, suas mãos, chamadas antes de mágicas por alguns, agora não faziam nada além de levantar alguns copos. Youngjae andava desmotivado, eram tempos difíceis para os sonhadores e quando a inspiração abandona um artista, nada lhe resta. E, Youngjae estava extremamente cansado de sentir-se vazio, por mais que fugisse daquilo, em diversos momentos de sua curta vida, o sentimento sempre o encontrava de alguma forma. 

    Quando olhou para o lado e viu novamente o envelope, não importava o que havia escrito ali, Youngjae sabia que estava ferrado. Sentou-se junto a um cavalete sem tela alguma e abriu, seus olhos passeavam pelas palavras e o Choi não acreditava que aquilo realmente estava acontecendo. As relações entre os reinos de Ji-jung e Taeyang andavam um tanto quanto problemáticas e uma grande tensão pairava sobre ambos os reinos, tentando acalmar um pouco os ânimos de seus antigos aliados, o rei de Taeyang havia decidido mandar, como forma de presente, o seu melhor pintor, no caso, o próprio Choi, para fazer um retrato do solitário príncipe de Ji-jung, Lim Jaebeom.

    Youngjae, após terminar de ler o que havia lhe sido escrito, passou as mãos um tanto trêmulas pelos cabelos.

    Como diria que não estava conseguindo pintar nada aceitável? Ele não poderia! Sabia que não lhe restava opção, partiria em apenas três dias. 

    Tinha o pressentimento de que nada aconteceria como de fato era esperado, como se jamais fosse voltar para casa. No entanto, Youngjae ainda não havia decidido se aquilo era de todo, algo ruim. Ao olhar ao redor e ver o seu estúdio, antes tão cheio de vida, agora naquele estado de decadência, percebeu que ali parecia não lhe restar muita coisa, talvez uma mudança de ares fosse tudo o que precisava. 

(...)

    Na noite antes de sua partida, tudo o que precisaria levar já estava embrulhado e suas mãos tremiam, ele não sabia se pela abstinência do álcool ou pela ansiedade que preenchia seu corpo. Provavelmente um pouco dos dois, saber a verdade naquele momento pouco importava.

    Antes de ir embora, precisava fazer uma visita a alguém. O pintor deixou o seu cavalo preso em qualquer lugar ali perto e caminhou até a grande casa que se estendia aparentemente inofensiva a sua frente. Quem passasse por ali, nunca imaginaria o que acontecia lá dentro. 

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