May 17

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Perdi o gosto de toda e qualquer coisa que envolve meu cotidiano. Conforme os dias passavam a vontade real de levantar da cama

construir um jardim

pintar a casa

fazer yoga 

cronograma de skincare 

ler livros 

quitar lista de filmes

tem se afastado de mim. Interpretei a quarentena e a ameaça do vírus como uma oportunidade de olhar pra dentro e dar atenção pra mim, coisa que não faço há tanto que já nem me lembro como é mais. Assim que assumi minha doença de peito aberto, achei que conviver com ela poderia ser aceitável. Passei por um tempo de dias bons que achei que durariam pra sempre, mas não duraram. Aquele desejo ainda me assola, como um mofo no canto do cômodo, que você sabe que está ali mas não quer olhar pra ele, tentando evitar que ele se torne cada vez mais real quando o olha. Mas ele está ali, te olhando sem piscar dia e noite, esperando que você vire as costas para que ele cresça, sorrateira e ininterruptamente. 

Acostumei-me aos bons dias como criança embalada no sono no colo, mas esqueci que eles ainda não são tão consistentes quanto eu gostaria. Há um tempo não lembrava como era acordar sem ter vontade de levantar da cama, de tomar um banho longo e se olhar no espelho sentindo-se miserável. Mas eles aparentemente voltaram. 

E com eles eu sigo tomando péssimas decisões, como ressuscitar fantasmas do passado, moldar o sofá com o formato do meu corpo, deixar a roupa descansar por tempo demais dentro da lavadora, comer sem sentir gostos de verdade. Não quero esses sentimentos e essas atitudes de volta. Lutar contra eles é parte da minha luta diária, e eu continuo lutando, ainda que alguns dias pareçam que estou lutando contra algo que já ganhou.



depression is an unstable roadOnde histórias criam vida. Descubra agora