Meu coração foi a boca. Mal conseguia pensar no que poderia falar para usar como desculpa.
- Sente aqui, vai ser melhor para você.
Tento parecer confiante, embora estivesse ainda com o gosto dos irmãos na minha língua.
- Não deixa nem eu entrar em casa primeiro. Estou toda suada por ter malhado.
- Eu sei onde você estava. Desde que você mudou comigo, eu tenho te observado. De repente, ficou mais carinhosa e vaidosa. Você não era assim.
- Claro, uma mulher tem que se arrumar – Retruco. Engolindo seco, esperando a pior das notícias depois.
- Deixa eu terminar... Depois ficou fria, sem conversar direito, sendo apenas uma pessoa que morava nessa casa.
- Por que você está falando isso, você que não me deu atenção. Eu estava aqui todos os dias querendo ser amada.
- Ainda não terminei...
A raiva começa a tomar conta do meu ser, chorando entrego o que eu sei:
- Eu vi no seu celular várias mensagens de mulheres falando sobre sair e marcar encontros. Você pensa o que de mim? Não foi para isso que eu me casei. EU TE AMAVA! E você tem coragem de fazer isso comigo.
Enfurecida, me levanto e vou para o meu quarto, contudo, antes que eu chegue:
- Se era assim, por que você não fez nada? Por que não brigou como quer fazer agora, Paula? Me diz!
Parece que tinha sido descoberta. Me tranco e começo a chorar. O meu casamento tinha acabado. Meu marido me traia e eu fazia a mesma coisa. Não sei mais o que sentia nessa relação. Toda a alegria de momentos atrás vai embora, e um sentimento de culpa se apresenta toda vez que eu respiro fundo.
- Abre essa porta, eu não terminei.
Ele batia com força ao ponto de os vizinhos ouvirem toda a nossa confusão.
- Me deixa. Você me traiu!
- Aí que você se engana. Eu não fiz nada, diferente de você que estava na casa do professor da academia. Pensa que eu não sei que você o trouxe aqui também? Eu percebi você toda estranha. Vi pela câmera de segurança da rua. Desde que você mudou, eu venho te observando.
- Não é bem assim. Eu não tive escolha. Ele me pegou a força, e me obrigou! – Minha voz fica até rouca de tanto chorar.
- Ele veio e saiu. Por isso eu voltei mais cedo. Pensei que você fosse largar esse cara de mão. Mas não, quer de novo outro homem na nossa casa! Pensa em tudo que a gente passou e me diz se é isso que você quer.
- Por que você fez isso comigo, por que? Eu não queria que fosse assim.
- Fiz questão de falar com meus amigos para tira-lo da academia e assim aconteceu. Pensei que assim a gente podia ser feliz de novo.
Sem acreditar no que escuto, respondo gritando:
- Você fez o que? Quer dizer que destruiu a vida dele por causa de ciúmes. Não quero mais falar com você. ME DEIXA EM PAZ!
Ouço do outro lado da porta seu choro sem, no entanto, ser maior que o meu. Logo depois, ouço o barulho do carro ligado e a garagem se abrindo. Enrolo-me com o lençol, enxugando minhas lágrimas pesadas. Não sabia para onde ele tinha ido, e não importava. Penso em Roberto e como ele era bom comigo nesses momentos de solidão. Queria estar perto dele agora para me sentir segura. Faço algo para comer e tomo um remédio para me dar sono. O meu único desejo era que tudo aquilo não estivesse acontecendo.
No outro dia, nada do meu marido voltar. Fico arrumada para sair e decido ir ver meu instrutor para contar o que meu marido tinha feito com sua carreira. Chego até sua casa, e assim que a porta se abre, tenho uma nova surpresa. Uma garota loira, de pernas grossas e quase sem seios aparece vestindo uma camisa masculina larga. Estava com cara de sono mal abrindo os olhos.
- eeerrr, o Roberto se encontra? Preciso conversar com ele um assunto particular – Falo sem jeito, sem saber o que era aquilo.
- Eu sou namorada dele, pode falar que eu dou o recado. – Diz ela ao se encostar na parede.
De novo, fico sem chão. Como pode, ontem estava aqui com ele e o irmão. E agora ele tem uma mulher que usa suas roupas. Com uma pontada no peito, digo que é só com ele e vou embora.
Meu ponto de refúgio era só uma ilusão. Poderia ter contato tudo que ele fazia comigo para ela. Porém, não tinha mais forças para me estressar de novo. Resolvo então, ir malhar mais uma vez, colocando toda a raiva que sentia em cada movimento. Chegava a sentir dor, como se quisesse sentir algo maior do que tinha passado ultimamente. Com o corpo doído, volto para casa e encontro meu marido sentado na mesa anotando uns papeis da empresa.
Entro sem falar nada. Não tinha mais o que ser conversado. Pensava apenas em como ia ser quando me divorciasse.
- E aí? Passou sua raiva?
- Não, só piorou hoje.
- Quando você vai me pedir desculpas?
- Pedir desculpas com aquele bando de mulher no seu celular. Me respeite.
- Eu não fiz nada com elas, diferente de você.
- Você não sabe de nada... nem conversa comigo, não transa comigo, diferente dele.
- Eu só quero suas desculpas e a gente volta a ser como antes. Pensei bastante quando sai ontem. Dormi no carro no meio da estrada, mal pude fechar os olhos. Estava querendo fazer uma loucura pior, porém, não consegui, e voltei disposto a te dar mais uma chance.
- Como você quer me dar uma oportunidade, se quando eu me senti só, você me ignorou. Tudo isso aconteceu por sua culpa. Eu era feliz contigo.
Minhas lágrimas escorrem pela minha roupa. Realmente seria uma péssima escolha abrir mão de tudo. Não tinha mais Roberto, e de fato, nenhum homem presta. E meu marido ainda queria algo, mesmo depois de ter errado tanto tempo. Jamais quis trai-lo. Quem eu era agora?
- Eu sei que errei, eu sei que você precisa de atenção. Não queria que você mudasse assim se cuidando. Era para o seu bem, nosso bem.
Acabo-me aos prantos enquanto ele me abraça. Tento criar forças para sair, mas não consigo. Apenas me encosto no seu peito e deixo tudo que eu sinto escapar como a água vinha dos meus olhos. Queria poder falar, queria conversar, queria morrer só para que acabasse toda essa situação.
- Calma, a gente vai se entender. Eu pedi férias do serviço e vamos nos conhecer novamente, como era nos velhos tempos. Comprei uma passagem para Búzios para termos uma nova lua de mel. Vai ser uma boa chance de entender o que você precisa.
Recupero o fôlego, e as palavras saem sem querer:
- Desculpa... eu te amo...
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Carência
Short StoryUm casamento sem graça leva a uma busca por prazer com o instrutor da academia e seu irmão ao mesmo tempo.