Underwood's - 1 (DEGUSTAÇÃO)

Capítulo Um

A família
Sempre será nosso maior legado.
O que ensinei será transpassado,
a memória da minha imagem
acompanhará toda minha linhagem.

Mih Franklim

O clima gélido com o sol fresco tocando suavemente a minha pele me causou uma nostalgia boa, todo o meu passado foi marcado por derrotas e vitórias, estresses e alegrias, seria um eufemismo dizer que fui feliz. Não existe palavra que possa definir o que vivi.

Quando enfim encontrei a paz, deixei o meu maior legado se mover sozinho – andar com as suas pernas e tirar suas próprias conclusões com as suas atitudes e decisões. Como eu e o meu amado companheiro fizemos.

Por mais que tenhamos tido nossas imperfeições no decorrer da evolução, creio que a perfeição foi alcançada na minha vida justamente quando tudo estava imperfeito. Minhas raízes serviram de aprendizagem para as minhas filhas e para os meus netos quando eu partir desse mundo materialista e viver em espírito. O pouco que sei sobre o outro lado da vida é que viverei eternamente ao lado do meu amado.

Francis tem um conhecimento bem maior quando se trata do submundo ou da nossa deusa da Lua, mas ele faz questão de não me contar. Ele sempre disse que envolve uma parte do sigilo por ter sido o primeiro Supremo.

Eu respeito isso, embora sinta vontade de plantar a mão na cara dele quase sempre.

Mais uma vez eu devo estar parecendo uma louca com meus pensamentos exagerados e extravagantes. Nem mesmo a idade foi capaz de ofuscar os meus pensamentos contraditórios e deixar a minha mente mais leve! Selene é a prova viva de que a minha cabeça continua sendo uma verdadeira confusão como um cenário de guerra, esta é a sentença que levarei para outra vida. As borboletas no meu estômago já vestem roupas de batalhas e estão sempre prontas para lutar.

Somente o Francis é capaz de aturar as minhas loucuras sem cabimento, e afirmo que ele também não é fácil de suportar. Selene não comente erros, hoje entendo isso com mais clareza.

— Nella, o que acha de tomarmos o café da manhã aqui fora? — Creio que o esboço do sorriso satisfeito que se formou nos meus lábios poderia ser visto a quilômetros de distância.

Meu companheiro leu os meus pensamentos, a conexão que eu tenho com o Francis ficou mais forte do que nunca com o passar do tempo. Sinto que somos um, e tragicamente isso nos levará para mais perto do nosso final como começamos. Eu e ele. Não, eu ainda não estou morta, embora meus cabelos brancos sejam bem visíveis — não é bem assim, são só alguns fios brancos, que me deixam revoltada.

Selene nos deu o privilégio de vermos nossos filhos e netos crescerem, formarem família e traçarem seus caminhos. Tenho devoção e gratidão por isso.

Com o tempo, aprendemos a aproveitar a paz da solidão e deixar a nossa família andar sozinha sem a nossa interferência ou opinião sobre decisões que julgamos erradas — e convenhamos que são muitas escolhas errantes.

Foi difícil entender que Francis e eu já tomamos nossas decisões e que não devemos interferir nas ações da nossa família. Claro, a não ser que um dos meus netos resolva fazer algo que possa prejudicar a nossa espécie. Sabemos que não estaremos aqui para sempre, este foi um dos motivos que nos levou a escolha de viajar pelo mundo afora aproveitando a companhia um do outro como uma segunda lua de mel. Seria hipocrisia dizer que não estamos aproveitando da melhor forma a nossa viagem. Francis me levou para conhecer o mundo, mas o meu lobão sabe que o meu mundo é ele.

Assim como foi no começo, deverá ser no final, eu e ele, se interpretarmos literalmente a situação. Hoje consigo entender a profundidade da conexão que existe entre os companheiros ou como os jovens da atualidade dizem: Laços de Sangue, amor à primeira vista, carma e entre outras formas de nomear o sentimento mais puro e intenso que vão sentir, o amor.