Júlio caminhava há bastante tempo e por mais que quisesse não sabia o quanto já tinha andado, só tinha uma certeza... que precisava descansar imediatamente. Toth, seu cão, também parecia estar cansado, ele já tinha feito um grunhido triste mais de três vezes. O andarilho seguiu no seu percurso, ele não sabia bem para onde ir exatamente e onde descansaria nessa segunda noite longe de casa. No dia anterior, pôde repousar entre algumas rochas com Toth, mas acordou muito desconfortável. Apesar das dores e o cansaço, ele estava bastante contente por ter passado sua primeira noite fora em sentido á sua jornada.
Sentindo sua boca a cada segundo mais seca e suas pernas tremendo de cansaço, Júlio avistou uma casa a alguns metros dele. ''Será que estou tão cansado a ponto de delirar?'' pensou. Mas não, era totalmente real. Uma casa humilde e mais que suficiente dentro das necessidades de Júlio.
- Olá! - disse Júlio, em passos lentos se aproximando da casa.
Silêncio.
- Eu gostaria de saber se tem alguém aí. - O menino diz em voz alta, na tentativa de obter uma resposta.
Antes que Júlio pudesse dar mais um passo em direção a entrada da casa, um homem de pele escura com uma aparência até que jovem e com seus olhos castanhos escuros, que usava um chapéu muito engraçado, apareceu entre as cortinas da entrada da casa.
- Olá, jovenzinho. O que procura aqui? Essa residência a mim pertence. - Disse o homem desconhecido.
- Eu gostaria de passar uma noite aqui. Por uma moeda, o senhor hospedaria eu e meu animalzinho? - Júlio indaga receoso da resposta que receberia desse homem desconhecido. Não conseguia imaginar mais uma noite dormindo entre rochas.
O homem fitou-o com os olhos, observou Toth e voltou seus olhos novamente para Júlio. Parecia criar um suspense proposital.
- Entre. - O homem disse - e tire os sapatos. - Concluiu.
No mesmo instante, Júlio soltou um suspiro de alívio, tirou seus sapatos como o homem havia mandado e atravessou as cortinas. Só conseguiu pensar uma coisa ''uau''. Júlio pode não ter verbalizado mas por um segundo imaginou que seus pensamentos pudessem ser ouvidos pela surpresa em ver o interior de onde aquele homem morava. Não era nada demais, já adiantando, mas era estranhamente cômodo. Havia algumas esculturas de madeira com imagens de seres espirituais. Júlio não foi capaz de assimilar, mas ficou incrédulo com as artes, as pinturas nas paredes e com a mesa que ocupava quase que a sala inteira daquela casa. Era uma mesa de madeira com diversas ferramentas e objetos diferentes nela. Um desses objetos, era um cálice dourado e uma espada que parecia ter sido feita por um ferreiro muito experiente. Será que era isso que esse homem misterioso era, afinal? Um ferreiro?
- E então, como está sendo sua jornada até agora, jovem? - O homem pergunta, trazendo consigo uma taça de água e um pote que também havia água dentro. - Me conte suas histórias. - concluiu o homem, sentando-se em uma de suas cadeiras que aparentemente ele mesmo havia feito e oferecendo a água para Júlio e Toth.
- Obrigado. - Júlio agradeceu ao pegar a taça- Bem, como sabe que estou no meio de uma jornada, senhor...?
- Pode me chamar de Mago. - O homem respondeu.
- Jovem, - continuou o Mago- muitos homens já passaram por aqui procurando abrigo e comida e todos eles eram andarilhos. Você não é o primeiro. Talvez seja o primeiro mais jovem andarilho que já vi por aqui, mas apenas isso.
Júlio se sentiu honrado. O primeiro andarilho mais jovem ao passar por ali. Ele estava fazendo história? Será que algum dia motivaria meninos a seguirem suas jornadas pela vida tão cedo e com todo o entusiasmo que ele tinha? Bem, ele não poderia saber isso e tampouco se interessava. O importante era concluir sua jornada, esse era o foco e o motivo de todo seu empenho.
- Eu ainda estou no começo da minha jornada. Esse é o primeiro lugar o qual eu paro para descansar. Não tenho histórias ainda mas e o senhor, Mago? Tem alguma para compartilhar com um jovem andarilho?
O Mago, pela primeira vez durante a conversa, deu um leve sorriso, quase que imperceptível. Mas pela reação, parecia de fato ter muitas histórias para contar. Júlio mal podia esperar. Apesar do seu maior desejo ser o poder de contar suas próprias histórias e experiências, adoraria ouvir de uma pessoa mais sábia um pouco do que poderia compartilhar sua vivência.
- Jovem, já ouviu falar sobre a deusa da noite?
- Não, senhor.
Calmamente o Mago se levanta, pega um punhal que estava em cima da grande mesa, juntamente um pedaço de madeira e volta a se sentar. Logo em seguida, faz um sinal com a mão para que o andarilho sentasse também.
- Eu vou falar sobre uma mulher quase deusa que conheci. Ela é muito misteriosa. . Ela se chama Ártemisia, mas prefere ser chamada de Papisa.
- Você já a viu? - Júlio, curioso, pergunta.
- Ela já me visitou algumas vezes. - O Mago respondeu, enquanto raspava a madeira com seu punhal. - Mas amanhã a gente fala mais sobre ela. Vá dormir. Tem um quarto para você e seu cão dormir bem ali. - apontou o Mago para uma cortina a qual cobria a entrada.
- Obrigado, senhor Mago.
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A jornada do louco
Historical FictionJúlio, representa a carta do louco no tarot e estará em sua jornada contínua de todas as 78 cartas. Conhecerá as maravilhas e os mistérios que cada arcano esconde e estará sujeito ás dificuldades que encontrará em seu caminho. ps: Adoraria saber qu...