Nine|| drunk

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CARLOS SAINZ

A corrida em Mônaco sempre foi especial para mim. As ruas estreitas, a pressão de não cometer erros, e a expectativa que pairava no ar faziam desse circuito um dos mais intensos do calendário. Hoje, a pressão estava em outro nível. Desde que o escândalo com Jasmin explodiu, eu tinha me focado o máximo possível nas corridas, tentando me manter distante de tudo que não fosse a pista. O terceiro lugar que conquistei hoje, porém, não me trouxe a mesma sensação de satisfação de outras vezes.

Ver Lewis em primeiro, no topo do pódio, com aquele sorriso vitorioso, só intensificava o peso da situação. Ele tinha sido impecável, enquanto eu não consegui me concentrar o suficiente para subir além do terceiro. Parte de mim queria simplesmente desaparecer depois da corrida, mas havia a comemoração que todos esperavam. Os pilotos, suas famílias, namoradas e amigos estavam planejando uma grande noite, e não ir seria sinal de derrota.

O bar onde a comemoração aconteceu era um dos mais badalados de Mônaco. Música alta, luzes coloridas piscando, e risadas ecoando pelas paredes. Eu estava cercado pelos meus colegas, todos animados após a corrida. A atmosfera estava elétrica, e as bebidas começavam a circular mais rápido do que eu conseguia contar. Não que eu estivesse me esforçando para evitar.

Ao meu lado, Rebeca sorria e conversava com alguns amigos, a bebida em sua mão era apenas um acessório para sua presença glamorosa. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, ainda mantínhamos as aparências em público, como uma espécie de trégua silenciosa. Ela tinha deixado claro que seu foco estava no contrato, e desde então, evitávamos falar sobre o que aconteceu com o vídeo ou com Jasmin. Era como se ambos fingíssemos que a tempestade tinha passado.

Mas, a verdade? Ela não tinha.

Quando eu vi Jasmin do outro lado do bar, conversando com um dos pilotos, algo dentro de mim se acendeu. Ela estava rindo, os olhos brilhando como eu me lembrava, e por um segundo, me perguntei como tinha conseguido ficar tanto tempo sem falar com ela. Desde a gravação do vídeo, tínhamos nos evitado, tentando deixar a situação morrer naturalmente. Mas ali, sob as luzes piscantes e com algumas bebidas a mais no meu corpo, a distância entre nós parecia insuportável.

O piloto com quem ela falava – Charles,– estava inclinado para perto dela, rindo de algo que ela tinha dito. Algo dentro de mim ferveu, uma raiva irracional tomou conta. Era como se ele estivesse ocupando um lugar que deveria ser meu. Eu sabia que estava bêbado, mas a bebida apenas potencializava o que já estava guardado há semanas.

Sem pensar muito, larguei o copo e caminhei na direção deles. Meus passos estavam decididos, mas dentro de mim, tudo estava um caos. Quando cheguei perto, Charles me notou primeiro, recuando sutilmente, percebendo a tensão no ar.

— Carlos! — Jasmin disse, surpresa. Seu sorriso diminuiu um pouco ao perceber minha expressão.

Eu não estava aqui para cumprimentos educados ou conversas casuais. O que estava preso dentro de mim há semanas estava prestes a explodir.

— Preciso falar com você. — Eu disse, minha voz mais alta do que pretendia. O barulho do ambiente fazia parecer que eu estava apenas tentando ser ouvido, mas quem estava perto de nós notou que algo não estava certo.

— Agora? — Jasmin perguntou, seus olhos piscando rapidamente, claramente desconcertada com minha abordagem.

— Sim, agora. — Respondi, a bebida falando por mim, me impulsionando a fazer o que eu já deveria ter feito há tempos. Charles se afastou, percebendo que aquela era uma situação que não lhe dizia respeito.

Jasmin olhou ao redor, percebendo que várias pessoas estavam nos observando. Não só os pilotos, mas também suas namoradas e até mesmo alguns membros das equipes. Eu sabia que isso iria gerar comentários, mas não me importava. Eu precisava falar, precisava que ela soubesse.

— Carlos... — Ela começou, como se quisesse acalmar a situação, mas eu interrompi.

— Jasmin, você precisa ouvir isso. — Minha voz estava mais firme agora, mas ainda carregava o peso da bebida. — Eu sei que fiz tudo errado, eu sei que baguncei tudo... mas o que eu sinto por você... — Parei por um segundo, as palavras pesadas, mas honestas. — O que eu sinto por você não mudou, nem por um segundo.

Os olhos dela se arregalaram, e eu vi a surpresa e o choque estampados em seu rosto. Ela não estava esperando por isso, especialmente não ali, em frente a todos.

— Carlos, você está bêbado. — Ela disse, tentando manter a calma, mas sua voz estava trêmula. — Não faça isso aqui.

Mas eu já tinha começado e não havia mais como voltar atrás.

— Eu estou, sim, bêbado. Mas isso não faz o que eu sinto ser menos real. — Apontei para mim mesmo, e depois para ela. — Tudo o que aconteceu... todo aquele vídeo, a confusão com a Rebeca... Nada disso muda o fato de que eu me importo com você, Jasmin. Eu sempre me importei.

A essa altura, as pessoas ao redor estavam observando abertamente. Lewis, que estava do outro lado do bar, parecia pronto para intervir, mas ficou parado, observando de longe. Rebeca, por outro lado, estava imóvel, seu rosto uma mistura de raiva e frustração. Sabia que minha declaração só pioraria as coisas, mas naquele momento, eu não me importava.

— Carlos, por favor... — Jasmin sussurrou, seus olhos implorando para que eu parasse. — Não aqui. Não agora.

— Mas por quê? — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia. — Por que a gente tem que continuar fingindo que nada aconteceu? Que eu não sinto nada?

Ela balançou a cabeça, claramente abalada.

— Porque não é assim tão simples! — Ela respondeu, e dessa vez sua voz também estava mais alta. — Você não pode simplesmente se declarar e esperar que tudo desapareça. Nós dois sabemos o que aconteceu, sabemos o que está em jogo!

O bar ficou em silêncio por um momento. As palavras dela ecoaram na minha mente, e por mais que eu odiasse admitir, ela estava certa. Não era simples. Nada disso era. Eu tinha arruinado as coisas de uma maneira que talvez não pudesse consertar. E agora, ali, sob o olhar atento de todos, eu percebia o quanto tinha deixado tudo escapar das minhas mãos.

— Eu... — Comecei a dizer, mas as palavras me faltaram.

Jasmin olhou para mim, seus olhos brilhando com uma mistura de raiva e tristeza. Ela balançou a cabeça, como se quisesse colocar um ponto final naquilo.

— Você precisa de tempo, Carlos. — Ela disse, sua voz mais suave agora. — E eu também.

Com isso, ela se afastou, e o silêncio no bar foi substituído por murmúrios e olhares curiosos. Eu fiquei parado ali, sentindo a confusão das emoções se aglomerarem dentro de mim, sem saber como sair daquilo.

Tudo o que eu queria dizer havia saído da pior forma possível.

𝐒𝐄𝐗𝐓𝐀𝐏𝐄 ||CARLOS SAINZ Onde histórias criam vida. Descubra agora