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- Temos de ir mesmo? - Reforcei a mesma pergunta tantas vezes que começava a imaginar ter passado despercebido.

- Nick, filho… Irá se arrepender de suas lamentações quando chegarmos lá. - Entortei o rosto, contrariado, constatando que meus pais não desistiriam da viagem que direcionaria nosso futuro apenas por birra de minha parte. - Vai ser divertido! - Não se demorou ao que esmagou minhas bochechas, arqueando as sobrancelhas num só suspiro inspirado.

Mamãe e papai estavam esperançosos em finalmente conquistar o próprio negócio; os dois eram arquitetos e adoravam o que faziam. Porém, nesse clima agitado do trabalho, todos iniciamos uma nova rotina bem dificultosa. Passei a ficar na responsabilidade de minha avó a mais tempo e não só após a escolinha, consequentemente, via menos meus pais que fizeram muito para acompanhar minhas fases, mesmo tão exaustos.

Eu compreendia que sempre desejaram me dar do melhor e, por isso, trabalhavam tanto, mas eu não esperava muita coisa. Quero dizer, eu acreditava arduamente na competência deles, porém passei a me sentir esquecido e somente quis ter pais presentes. A despeito disso, começaram as viagens frequentes, aumentaram o expediente no trabalho e o tempo para mim apertou um pouco mais.

Minha cabecinha pensante e infantil tinha em mente que eu era a razão deles suportarem tudo para viver aquilo, a rotina cansativa.

E então, naquele dia, tudo estava mais intenso. Daquela vez, a viagem decisiva que fariam para Europa com seus sócios poderiam me levar. Ao contrário do que esperavam, eu não pulei de alegria por isso.

Eu me sentia mal apenas pela idéia de estar aborrecendo meus pais pela minha indiscreta insatisfação. Minha intenção não era essa.

Eu padecia de um coraçãozinho apertado aos meus recém sete anos de idade. Nem com toda a preparação poderia pôr em palavras o que acontecia comigo.

Só não apreciava o pressentimento de solidão por mais um longo tempo.

Após meus pais dedicarem todo esforço e tempo ao trabalho deles, minha posição privilegiada de filho único passou a não valer nada, pois eu não recebia prioridade. Pelo menos era o que parecia.

Esse garoto é nossa preciosidade, cuide dele como tal!, diziam meus pais por toda vez ao me deixar na responsabilidade de vovó.

E se eu pudesse mudar minha mente, então eu mudaria, sem dúvidas. Porque, desde muito novo, eu apresentava índices claros de auto sabotagem, só não entendia.

Sendo assim, instalado em minha mente que minhas sensações não passavam de instinto que se dissiparia no instante em que eu e minha família estivéssemos em solo europeu gozando da felicidade de uma nova vida bem mais sucedida. Respirei fundo com as sobrancelhas baixas e um sorriso no rosto, me apressando para o lado de minha mãe, ajudando-a a fechar uma das últimas malas.

E eu não pude deixar de notar o sorriso agradado que ela esboçou diante da minha desistência de desalentá-los. Gosto de ver mamãe sorrir.

Então, a ouvi indagar em voz alta para o meu pai - que acreditava estar em outro cômodo - sobre alguma coisa de ter pego nossas passagens. Minutos depois, o homem espirituoso com seus um metro e oitenta e três retorna com diversas maletas muito mal sustentadas pelos braços. E, claro, as passagens!

- Estão todas aqui, amor! - Informou, com seu típico divertimento atrapalhado dando as caras.

Naquele dia, pela manhã, a energia da minha casa, talvez, até transbordava festividade. Com convicção, então, decidi que não daria espaço a preocupações fora de hora. Me animei, genuinamente, junto aos meus pais.

honey, we're not the sameOnde histórias criam vida. Descubra agora