Capítulo 1

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Natan Scott
P.O.V

Fim das férias de verão, eu não tinha feito absolutamente nada a não ser trabalhar o tempo inteiro, Anne tinha se mudado para Califórnia há uns dias e lá se foi minha única amiga nesse colégio de merda. Estava empacotando algumas caixas e já via o sol se pondo, como de costume dezenas de pessoas entrando na casa de Tyler e eu já sabia que seria mais uma noite não dormida.
Resmungo e deixo um porta-retrato de minha mãe cair no chão, em alguns dias iria fazer 7 anos de sua morte e isso ainda me afetava pra caralho. Então, algumas lágrimas escorrem, mas logo as limpo com a manga desgastada do moletom que não saia do meu corpo. Termino de arrumar as coisas para amanhã, saio do meu quarto e me deparo mais uma vez meu pai jogado no sofá, com inumeráveis garrafas de bebida jogadas no chão, a vida não era fácil mesmo. Preparo um macarrão com queijo e deixo um prato na mesa de centro para quando ele acordar. Já eu, devoro o meu prato em poucos minutos e volto para o meu quarto. Chegando lá, arregaço as mangas do moletom e passo a mão sob os meus cortes...

Tyler Hills
P.O.V

As aulas já começavam na próxima semana, tudo de volta e ou dava o meu máximo no jogo, para conseguir a bolsa na NYU, ou era tchau tchau. Estava extremamente tenso e a ideia da Madison de dar uma festa, foi incrível. Já estava tudo pronto, música ligada e as luzes do jardim também, vejo o cara estranho da casa ao lado olhando pela janela enquanto os carros chegam, mas não dou importância alguma. Após algumas horas a festa já estava no seu auge, gente caída na cozinha, banheiro cheio de chapados, mas não me importava com nada disso, só queria passar o tempo com a Mad. Vou até ela que estava um pouco isolada na cozinha, olho em seus olhos e digo:

-Tá tudo bem mesmo? Se quiser eu te levo em casa.

Ela me olha com uma expressão meio abatida e responde com um sorriso meio forçado :

-Ei, tá tudo bem. Isso eu resolvo amanh...

Sua voz é interrompida pelo vibrar de seu celular, que estava na bancada e vejo um tal de Joe ligando, nunca tinha visto ela falar com algum Joe na vida e ela fica bem estranha quando ele liga. Ela rejeita rapidamente a ligação e percebo um disparar de mensagens logo em seguida, um pouco desconfiado a pergunto:

-Quem é esse?

Sem olhar em meus olhos, ela diz enquanto arrumava a bolsa pra ir embora:

-É o meu primo de Atlanta! Lembra que comentei com você semana passada? Ele acabou de chegar no aeroporto e vou ter que buscar ele e minha tia...

Ela diz e não me lembro dela ter mencionado, mas como andava bem tenso ultimamente realmente ela deveria ter falado. Dou um selinho nela e digo enquanto ainda estava com o rosto próximo:

- Fica bem viu? Qualquer coisa, vem aqui pra casa amanhã.

Ela sorri fraco e concorda com a cabeça. Madison pega sua bolsa e sai pela porta um pouco apressada. Vou até a janela para vê-la saindo com o carro e percebo que vai numa direção completamente oposta ao do aeroporto... Nossa relação não ia lá muito bem, mas ela nunca me trairia, eu tinha era que tirar isso da minha cabeça e relaxar. Pouco tempo depois dela sair, escuto breves batidas na porta e vou atender...

Natan Scott
P.O.V

O som da casa de Tyler já estava insuportável, já estávamos em plenas uma da manhã e nem passava na cabeça dele abaixar aquele som. Eu tinha dentista amanhã cedo e não ia deixar uma farrinha adolescente estragar o meu dia. Cubro a cabeça com o travesseiro como última forma de tentar dormir, sem sucesso me levanto apenas de cueca, coloco uma calça jeans que estava jogada no canto, pego meu moletom que estava na poltrona e calço meu all stars todo desgastado. De cabelo desarrumado e cheio de olheiras, atravesso o meu jardim em direção à casa de Tyler, ao chegar lá bato na porta e espero impacientemente alguém abri-la, o que era meio improvável considerando a altura que estava aquela merda de música. Após poucos segundos, vejo Tyler abrindo a porta e digo tentando ser um pouco educado, pois sabia muito bem como os doentes do futebol agiam por simplesmente nada.

-Então, é que já tá meio tarde e eu to precisando dormir, teria como abaixar o som só um pouco?

Ele me olha parecendo um defunto e diz completamente seco:

-Tá, claro.

Não digo mais nada e me viro para ir embora, mas o escuto vomitar e ao me virar para trás toda a entrada estava coberta de vômito, mas com o que me parecia ser sangue.

Tyler Hills
P.O.V

Após Natan, Nate, sei lá o nome desse garoto sair da porta, sinto um enorme mal estar e vomito ali mesmo. Me escoro na porta e olho pra baixo um pouco ofegante, meu vômito estava repleto de sangue justo hoje, dois dias antes do primeiro jogo do último ano. Ele se aproxima e diz um pouco surpreso:

-Tá tudo bem??

Me desencosto da porta e olho pra ele com uma cara completamente pálida:

-Tá sim, preocupa não, eu arrumo isso daqui!

Ele não liga muito para o que eu digo e me ajuda a andar até o banheiro passando pela festa lotada, e pelo visto ninguém dá importância. Ao chegar no banheiro me debruço no vaso e ele fica escorado na porta meio inquieto. Me sento no chão do banheiro escorado na parede e digo:

-Valeu, Nate... não é?!

Pergunto enquanto limpava a minha boca com uma toalha qualquer.

Natan Scott
P.O.V

Eu nunca tinha visto alguém vomitar tanto sangue, nem o meu pai quando apanhava de alguns bêbados na rua. Ando com Tyler até o banheiro e fico em silêncio enquanto sentia aquele odor insuportável vindo dele. Após alguns segundos ele me agradece e erra meu nome, não me chocava.

-Natan, mas de nada!

Rio fraco pra disfarçar o tom um pouco grosso da minha voz, ele completamente suado, com a camiseta branca já imunda, me olha com os olhos um pouco fechados. Fica um silêncio meio constragedor, então eu digo:

-Eu acho que já vou indo, fica bem!

Ele me olha e acena com um sorriso um pouco derrotado. Logo em seguida, ele se levanta e se despede:

-Tchau Natan, e mais uma vez obrigado!

Ele sorri simpaticamente e em seguida fecha a porta. Enquanto eu andava para fora da festa, percebo que tudo seguia completamente normal, mesmo com ele morrendo de passar mal no banheiro. Pelo visto ser popular não quer dizer ter amigos... Penso um pouco nisso, mas logo espanto esse pensamento ao fazer duzentas acrobacias para sair daquela casa sem pisar na enorme poça de vômito que havia se formado na entrada. Ando até em casa, tiro toda aquela roupa e me jogo na cama...

The Silence of our HeartsOnde histórias criam vida. Descubra agora