Capítulo 5

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Sábado

Ainda era madrugada e Willow se mostrava ser o seu pior pesadelo. Como um ser poderia falar tanto e não cansar nem por um minuto sequer? Wheein estava tão cheia dos monólogos de Willow que Murta começara a lhe parecer muito menos irritante.

Mas não podia deixa-lo sem supervisão até que ele magicamente sumisse. E isso incluía suas horas de sono. O arrependimento batia em suas costas a cada minuto que permanecia sentada naquela poltrona.

Após mais alguns minutos ouvindo o falatório ininterrupto de Willow, a garota resolveu que, se quisesse se manter acordada, teria que abrir a boca e conversar com ele.

— Você não está com sono? — perguntou ela, interrompendo o discurso de Willow sobre algum momento histórico do mundo bruxo.

— É claro que não. — Ele riu alto. — Só faz algumas horas que estou vivo. — Olhou para a garota como se não acreditasse naquela pergunta. — E para falar a verdade, minha cabeça está fervendo com a quantidade de conhecimento que você descreveu para mim.

Wheein franziu o cenho em confusão.

— Como você sabe que eu"descrevi"... — Bocejou, fechando brevemente os olhos. — o seu conhecimento?

— Bom — Virou-se de costas para a garota, levantando seu dedo indicador direito enquanto andava. —, eu também tenho conhecimento sobre o livro, e é óbvio que você se utilizou da arte das palavras para me criar como alguém que poderia lhe ajudar, já que, até onde eu sei, e eu sei muito, por mais que você desenhe maravilhosamente bem, não há como desenhar a extensão do conhecimento de um ser.

Willow finalizou virando-se em direção da garota novamente. O sorriso surgiu no canto de seus lábios ao constatar que ela já dormia serenamente. Passou a mão em sua boca para representar um zíper sendo fechado e andou silenciosamente até a sua mesa, pensando em maneiras de usar seu tempo sem interferir no sono alheio.

***

Wheein remexeu-se na poltrona, os olhos castanhos se abriram lentamente identificando as chamas da lareira a frente. Primeiramente alongou seu corpo, fazendo uma careta ao sentir a dor em suas costas. A garota, então, olhou ao redor, estranhando o quão diferente aquela sala era do Salão Comunal da Lufa-Lufa. Aos poucos, as informações foram chegando ao seu cérebro e seus olhos se arregalaram em desespero.

Pulou da poltrona, correndo em direção da porta de madeira e tentou pensar em todos os lugares que Willow poderia estar, mas parou subitamente ao ouvir o som de uma lamentação. Girou os calcanhares e semicerrou os olhos, observando o pequeno ser de costas, sentado em sua mesa lotada de papéis espalhados.

Wheein se aproximou silenciosamente, podendo ver por cima de Willow os vários rabiscos que ele fizera.

— Hã... Bom dia, Willow — cumprimentou em tom de dúvida.

O pequeno ser pulou de susto, esbarrando no tinteiro que teria se espatifado no chão se Wheein não tivesse sido rápida o suficiente para pegá-lo. Ele colocou a mão sobre o peito, olhando indignado para a garota ao seu lado, que sibilou um pedido de desculpa.

— Bom dia, senhorita Jung — falou já recuperado de seu pequeno susto, sorrindo docemente para ela.

— O que está fazendo aí, Willow? Nós terminamos todas as minhas tarefas ontem.

— Ah — Ele pegou uma folha envergonhado, ajeitando os óculos que haviam descido um pouco. —, você desenha tão bem, eu queria tentar também. Mas não consegui fazer nada além de palitinhos. — Virou a folha em suas mãos, desaminado, para mostrar à outra sua falta de habilidade.

Art & Magic - WheesunOnde histórias criam vida. Descubra agora