Sobre bots, entregadores de açaí e casas sem quarta parede

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notas: eu não sei se alguém vai querer se aventurar por esses 6k de nonsense, mas como gostei muito dessa fic, quero que ela fique no wattpad também. do meu docs para o mundo... o mundo sendo todos os sites de fanfic possíveis, ha. espero que gostem!

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Taehyung semicerrou as pálpebras, quase espremendo os olhos para dentro a fim de comparar o resultado de porcentagem entre os votos de Marcela e Flay. Meu Deus, parte do público queria mesmo mais uma semana daquele filhote de Hitler, que parecia protagonista de Amor de Mãe, dentro da casa? Cruz credo. Vai entender o Brasil. Ou Coreia do Sul. Depende do quão in character o leitor deseja a história, visto que dificilmente algum daqueles votos eram internacionais. Imagine um fã-clube vietnamita pro Babu? #ĐộiBabu! Incrível.

Preguiçosamente, Tae se levantou do monte de travesseiros onde fizera sua segunda morada — como uma casa dentro da própria casa... Genial, não?

As almofadas faziam um forte ao seu redor, suprimindo a arquitetura defeituosa da sua residência, que só tinha três paredes em cada cômodo. É, isso mesmo, no lugar da aresta que devia fechar cada cubículo, havia uma barreira invisível — afinal, o mundo andava muito violento, e, sendo um milionário, ele precisava se proteger de alguma maneira, mesmo que as linhas sociais já fizessem um bom trabalho. Taehyung nunca se sentiu tão aliviado depois de assistir à Parasita. Além de poder ver seu amigo bonito, Choi Wooshik, em cena — na sua opinião pessoal, ele nem convencia como pobre, mas, oh, os milagres da atuação —, ainda pôde ter a segurança que, sim, se ele vivia no bairro mais caro de Seoul Paulo, era porque ele m-e-r-e-c-e-u. Não tinha culpa de os pais dos outros não terem novecentos mil para dar de mesada, quinhentos mil para casos de emergência e cem kzinhos para cuidar do pet. Ai, ai, Yeontan ficava tão fofo naquelas coleiras da Tiffany... Valeu a pena usar umas frações do cofre de emergência para completar o colarzinho cheio de pedrarias, realmente valeu.

A coluna do jovem privilegiado estalou quando ele se esticou para trás, com a mão na base da cintura. Seu rosto contorceu-se em uma careta. Tinha ideia nenhuma de onde vinha aquela dor, pois se considerava uma pessoa muito ativa. Vivia correndo dos zumbis no Minecraft e só parava para descansar à noite, quando seu grupo de amigos se reunia para decidir um filme. A emoção nem era assistir, era decidir, mesmo. Só para no fim cada segmento fazer uma coisa diferente, e ninguém entender ninguém na call. Era gente construindo casa, gente vendo live na Twitch, outros derrubando a própria casa (pelo menos era o que o barulho do microfone dava a entender), um bot contando até 50.000 sem permissão... Difícil a convivência. Taehyung se perguntava como os desocupados do BBB aguentavam.

Ainda sentindo as costas doerem, arrastou-se tal qual um gambá com febre até a geladeira.

— Nada pra comer nessa casa — reclamou, mesmo que aquilo fosse exclusivamente culpa dele, e que sua barriguinha estivesse bem notável sobre a barra da calça de flanela. Parado em frente ao objeto que causava temor em certos interioranos, Taehyung refletiu. Naquele momento, se o dia de repente raiasse, e o Sol incidisse sobre si, voltariam os feixes de luz (entendeu? refletir...) de tão concentrado que se encontrou.

Logo optou pelo que qualquer jovem com empatia naquela crise de quarentena faria: movimentar a economia. Iria pedir delivery de algum restaurante no qual jamais pisaria vivo (ou morto), porque só suas meias valiam mais do que o salário de um dos empregados. Seria sua boa ação do ano, uma redenção periódica aos ensinamentos dos Céus, que obviamente chegaram bem deturpados da viagem à Terra. A caridade combinaria até com a época — não estava perto da páscoa? —, e cheio de cristãos batizados como era o país, não é possível que a energia divina empacasse no caminho até ele.

os embalos da quarentena à noite ミ vhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora