Capítulo 03

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- Com licença, professor - eu falei, interrompendo a explicação do Hemmings ao abrir a porta do laboratório. Ele apenas parou de falar e me olhou de cima a baixo, com uma cara de desprezo, erguendo uma sobrancelha.
- Como eu estava dizendo, o relatório de hoje deverá ser entregue na próxima aula, porque a última parte dele deverá ser entregue em forma de pesquisa - ele continuou, um pouco irritado. Nem preciso dizer que a Smithers ficou me medindo desde que eu fechei a porta do laboratório até quando eu me sentei num dos bancos. Tadinha, ela pensa que aquele canalha dá a mínima pra ela. Tenho pena dessas pobres meninas iludidas.
O professor Hemmings logo terminou de explicar, sem dirigir um olhar sequer na minha direção, e foi se sentar em sua cadeira. Geralmente ele colocava os pés sobre a mesa e ficava de braços cruzados, apenas nos observando com seu risinho debochado, mas hoje ele parecia preocupado com alguma coisa. Ele não deixou de se sentar daquele seu jeito folgado, mas sua expressão estava fechada e o olhar perdido vagamente entre os alunos. Não que eu estivesse reparando nele nem nada, eu só notei esse comportamento estranho porque passei metade da aula sonhando acordada com tudo que tinha acontecido entre eu e o sr. null e conseqüentemente acabava observando as pessoas ao meu redor mais do que de costume. Meu coração ainda estava acelerado e minhas pernas estavam bambas só de lembrar dele me levantando do chão e me abraçando tão apertado.
Durante mais uma de minhas viagens pelo interior do meu cérebro, me peguei observando o professor Hemmings. Meus olhos viajavam pelo seu rosto, analisando cada detalhe, até que ele retribuiu meu olhar de um jeito incomodado, como se tivesse notado que eu o observava há algum tempo. Arregalei meus olhos, surpresa comigo mesma, e continuei copiando o relatório da lousa evitando ao máximo aproximar meu olhar dele. Por que toda vez que ele me olhava agora eu sentia um calafrio? Assim que ele me olhou de volta, me lembrei do beijo no elevador, e do quão tenso foi aquele último olhar. Talvez fosse medo de que ele pudesse me atacar de novo a qualquer momento ou algo do tipo.
A aula rapidamente acabou, e como eu tinha chegado um pouco mais tarde ao laboratório, estava igualmente atrasada na cópia da lousa em relação ao resto da classe. Resumindo, enquanto todos iam embora, eu ainda estava copiando o relatório, com as mãos trêmulas. Experimenta beijar seu professor lindo, maravilhoso e inalcançável e depois copiar uma folha inteira de lição pra você entender o que eu passei.
Quando todos já tinham saído, vi de rabo de olho que o professor Hemmings me encarava. Tentei me apressar, mas tudo que consegui foi pular uma palavra e ser obrigada a passar corretivo na folha. Enquanto eu soprava o líquido pra que ele secasse logo, pude ouvi-lo bufar e se levantar, caminhando lentamente até a janela e observando o exterior do prédio com a testa franzida. E foi aí que eu percebi que meu sopro ficou mais fraco quando meus olhos sem querer se fixaram na bunda dele. O que estava acontecendo comigo? Por que esquentou de repente?
- Perdeu alguma coisa, (S/S)? - ouvi a voz dele reclamar, e rapidamente ergui meu olhar até encontrar seu rosto, ainda virado pra janela. Com a maior cara de ânus, abri a boca várias vezes na tentativa de dizer algo, mas como nada saiu, apenas voltei a copiar. Ele soltou um risinho debochado e começou a balançar a cabeça negativamente.
- Num dia ela enfia uma caneta no meu braço, no outro ela fica secando a minha bunda - ele disse, e eu voltei a copiar pra não deixá-lo ver minha cara roxa de vergonha - Afinal de contas, o que você quer?
O sr. Hemmings virou seu rosto na minha direção, e me encarou de um jeito impaciente. Eu soube bem o que dizer, apesar de ter sido pega de surpresa por ele ter tocado no assunto tão repentinamente.
- O que eu quero? Engraçado, o senhor só menciona as partes que lhe convêm. Por que não mencionou também o dia em que me agarrou dentro do elevador contra a minha vontade? - respondi, frisando bem a última parte e olhando-o com raiva.
- Não diga como se eu fosse o vilão da história, se não tivesse gostado teria dado um jeito de me afastar - ele riu, vitorioso, cruzando os braços e exibindo uma pequena cicatriz circular onde eu o havia machucado. Sem um pingo de pena, revirei os olhos e comecei a copiar a última questão, doida pra sair dali e quem sabe encontrar o sr. Irwin na saída.
- Eu não vou discutir um absurdo desses - retruquei, possessa - Se o senhor prefere achar que me ganhou com aquele abuso, não vou destruir seus sonhos.
- Quem tá sonhando aqui é você, garota - ele falou, parecendo ainda mais bravo (o que só me deixou mais satisfeita) - Se tá achando que eu vou ficar correndo atrás de você, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Eu já consegui o que queria, agora é só te jogar fora e investir em outra.
Terminei de escrever a última palavra do relatório quando ele acabou de falar, e ergui meu olhar da folha pra ele. Com a frase perfeita pronta e na ponta da língua, apenas guardei minhas coisas e fui até ele, parando bem à sua frente. Sem mudar de expressão, ele me encarava avidamente, com um misto de raiva e algo mais brilhando em seus olhos. Dei mais um passo a frente, ficando perigosamente perto dele, e quando faltava apenas um centímetro pra que nossos lábios se encostassem, percebi que seus olhos não o obedeciam mais e fitavam meus lábios com um desejo imenso.
- Ótimo - sussurrei, sorrindo perversamente - Me jogar fora e investir em outra é um favor que você me faz.
O olhar confuso do professor Hemmings se ergueu até encontrar o meu, e sem dizer mais nada, me afastei dele e saí do laboratório, ainda mais feliz do que tinha entrado.

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