o girassol

1K 95 44
                                    

Nico achava desconhecer os sentimentos.

Tudo bem, ele já tivera uma queda por Percy. Já gostara dele, e muito. Mas, naquela tarde tranquila, se pegou pensando no quanto estava diferente agora.

Ele estava ajudando Will Solace na enfermaria, então logo saiu de seu devaneio, atarefado. Em dias como aqueles, os meninos atendiam quem precisasse e tratavam os doentes e feridos do Acampamento Meio-Sangue.

Aquela experiência era ótima. Principalmente para Nico, que sempre fora tão frio.

Perto do calor de Will, era bem mais difícil.

As vezes, o filho de Hades se surpreendia com o quão caloroso e interessante o outro poderia ser. O quão era inteligente manuseando ervas medicinais, e, bem...

... a forma como seus cabelos loiros as vezes caíam sobre os olhos, ou suas sardas claras apareciam mais em dias enrolarados.

Will era como um dia de sol. Nico achava preferir as noites.

Ao final do dia e terminadas as tarefas, os dois se despediram. Foi meio de longe, sem nem sequer um toque.

Nico se aborreceu um pouco. Ocasionalmente pensava na possibilidade de...

Não era por querer. Ele só se intrigava um pouco com o calor que Will emanava, com sua energia tranquila e vibração praiana.

Mas, ora, por que Nico estaria pensando nisso? Ele nunca gostara de contato físico.

Quem ele queria enganar? Suas células ansiavam por conhecer as de Will, por envolvê-las como nunca haviam antes. Seus átomos desejavam encontrar os do loiro, para nunca mais se separarem.

Aquilo o estremecia. Nico nunca admitiria a si mesmo tamanha verdade.

O jovem conseguiu, por instantes, afastar os pensamentos, mas os mesmos sempre retornavam.

Então, com tal sentimento e intensidade, ele resolveu não ir a seu chalé de imediato.

Não desejava ficar a sós com a própria mente.

E, sem saber ao certo onde queria chegar, caminhou pelo Acampamento. Àquela hora não havia muitas opções, e, como a brisa era agradável, o garoto se sentou na grama do jardim.

As flores estavam bonitas e eram muito bem organizadas pelos filhos de Deméter, por cores e espécies. Tudo parecia em seu devido lugar.

Menos, é claro, os pensamentos de Nico.

Ele pensou em Will, voltando a seu chalé, o rosto levemente corado pelo cansaço do dia...

NÃO, não quero mais pensar em W...

Enfim, algo chamou a atenção de seus olhos escuros. Um girassol.

É claro que havia vários girassóis no Acampamento, mas aquele... era muito alto, contanto a flor em si e alguns centímetros de caule estavam prestes a despencar no chão. Parecia que alguém tentara cortar ou retirar, sem sucesso.

E seu amarelo, mesmo à noite, lembrava certas mechas loiras...

Bem... de qualquer forma, a flor representava o Sol, como Apolo. E isso remetia Will, mas não só por esse motivo: o loiro amava girassóis.

Nico sabia disso. Ele gostava de observar.

Algumas manhãs, Will ia até os girassóis e se sentava para meditar. Apolo parecia reservar toda a sua atenção ao filho naquele momento, pois o Sol pousava em seus cabelos de uma forma divina, as mechas parecendo uma mistura de ouro, mel e outras coisas boas. Todas amarelas, a cor favorita do mesmo.

Além disso, no molho de chaves de Will havia um chaveiro de girassol excessivamente grande. Nico olhou para o objeto de forma interrogativa um dia, e a resposta foi simples, como previra: "Eu gosto. Traz sorte".

Enquanto falara, Nico percebeu, as pupilas de Will dilataram de leve, preenchendo uma parte de seus olhos azuis. Para seu ajudante, o contraste perfeito. Além disso, ele sorriu de lado, o que fez suas sardas subirem de um jeito charmoso, e uma pequena ruga se formar no canto do olho. Toda essa intensidade em questão de segundos...

Não, o filho de Hades se repreendeu, enterrando a cabeça na manga do moletom escuro, como se isso pudesse conter seus pensamentos. Pensar em Will, não. Chega.

Mas, em questão de segundos, seus olhos foram novamente atraídos pela formosura da flor. Ele se inclinou de leve.

Por que, Afrodite, por quê?

Uma mecha de seu cabelo expesso caiu sobre os olhos. Ele não os cortava há um tempo, sempre os preferiu daquela forma.

Tal julgamento trouxe Will. Droga.

Uma tarde, enquanto o ajudava na enfermaria, a preencher alguns papéis, Nico foi supreendido pelo toque de Will em suas mechas. Repentinamente.

Will sempre fora ousado.

O filho de Hades, sentado, levantou os olhos, não sabia se deveria dizer algo.

O loiro parecera corar.

"Os seus cabelos — dissera. — eu gosto. Parecem o céu no verão. Aqueles dias sem estrelas."

Ele sempre dizia o que vinha na cabeça. Será que Will sabia o quão atraente isso era?

"Atraente"

Era mesmo o que Nico achava. Nem ele próprio sabia explicar aquele sentimento. Aquela complexidade.

Parecia que sua mente iria explodir.

Mas que, dessa explosão, nasceriam girassóis.

Sim, o amor era misterioso e incerto. Nico gostava de certezas, ele preferia seguir a razão e agir com frieza em situações sentimentais, e nada disso parecia coerente enquanto encarava aqueles olhos azuis-céu...

Foi então que os seus olhos começaram a pesar. Perdido em pensamentos, o garoto não percebera o horário. Ele se levantou, hesitante.

Fez o que sabia que não resistiria a fazer: caminhou até o jardim para apanhar o girassol.

A flor era leve. Seu aroma era leve. Parecia a brisa do verão. Parecia W...

Nico andou mais um pouco, dessa vez até a enfermaria. Não estava certo sobre nada, deixara seus sentimentos tomarem controle sobre suas ações e o guiar. Ele mesmo reprovaria a atitude em outras circunstâncias.

Assim, entrou na recepção e pegou uma folha de papel. "Espero que goste, Will", escreveu, na mais caprichada caligrafia, então encheu um vaso decorativo de água e, lá, repousou a flor.

Não pôde deixar de sorrir indo para seu chalé. Nem mesmo até que pegasse no sono. Sorriu cada segundo em que Will esteve em seus pensamentos...

Ou seja: todo o tempo.

Onde quer que estivesse, Afrodite suspirou. Alguns sentimentos eram mesmo especiais.

Solangelo • 𝚌𝚎𝚗𝚊𝚜 •Onde histórias criam vida. Descubra agora