Eleven || end

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MANHÃ SEGUINTE
CARLOS SAINZ

Acordei com a cabeça latejando, como se um tambor estivesse sendo martelado dentro do meu crânio. O quarto estava escuro, e as cortinas grossas bloqueavam qualquer sinal de luz, mas o gosto amargo na boca e o peso no corpo me diziam que eu tinha bebido muito mais do que deveria na noite anterior. Me esforcei para sentar na cama, piscando os olhos enquanto tentava lembrar o que tinha acontecido.

E então veio o flashback. A festa. O barulho. A risada de Jasmin ecoando no fundo, e eu a observando de longe, conversando com o Charles. Aquilo havia me corroído de dentro para fora. Eu sabia que estava bêbado, sabia que estava fazendo uma cena, mas não consegui me segurar. As palavras tinham saído antes que eu pudesse pensar.

Eu tinha me declarado para ela. Na frente de todos. A confusão no rosto dela foi clara, mas, mesmo assim, eu disse o que estava preso dentro de mim por anos.

Suspirei, afundando as mãos no rosto. Eu estava ferrado. Não só com Jasmin, mas com Rebeca também. Olhei para o lado da cama e, como eu suspeitava, ela não estava ali. A mala dela também tinha sumido. O silêncio do quarto era quase ensurdecedor.

Me forcei a levantar, o corpo ainda pesado do álcool, e fui até o banheiro. Tomei um banho rápido, tentando clarear as ideias, mas a ressaca não era só física. Quando saí, encontrei Rebeca sentada no sofá, já vestida e com uma expressão que eu conhecia bem. Ela estava furiosa.

— Carlos. — A voz dela era fria. — Temos que conversar.

Sentei no sofá oposto, ainda com uma toalha enrolada na cintura, sem ter forças para começar uma discussão.

— Não sei nem o que dizer — ela começou, cruzando os braços. — Você perdeu completamente a cabeça ontem. Se queria que o nosso contrato acabasse assim, parabéns. Conseguiu.

Fechei os olhos por um segundo, sentindo o peso das palavras dela. Sabia que tinha estragado tudo, mas, no fundo, eu estava aliviado. Rebeca e eu nunca tivemos um relacionamento real. Era uma parceria conveniente, algo que ajudava na nossa imagem pública, e ambos sabíamos disso. Mas o que aconteceu ontem foi a gota d'água.

— Rebeca, eu sinto muito pelo que aconteceu. Eu estava bêbado, não devia ter dito tudo daquela forma. — Comecei, tentando parecer razoável.

— Isso é tudo? Você sente muito? — Ela riu, mas era um riso amargo. — Carlos, o que você disse ontem foi humilhante. Não só para mim, mas para você também. Acha que foi só o álcool que te fez dizer aquelas coisas? Ou será que você finalmente resolveu admitir o que já está mais do que claro?

Engoli em seco. Não podia discutir com ela, porque, de certa forma, ela estava certa. O álcool apenas me deu coragem para dizer em voz alta o que eu sentia por Jasmin há tanto tempo.

— Rebeca... eu... — Parei, tentando encontrar as palavras certas. — A gente sempre soube o que era esse relacionamento. Não era real, não para mim, e imagino que não para você também. Você sabe disso.

Ela suspirou, balançando a cabeça.

— Sim, eu sei. Mas a diferença é que eu tinha tudo sob controle. Você, claramente, não. — Ela se levantou, pegando a bolsa que estava ao lado. — Está feito, Carlos. Terminamos o que começamos há dois anos. Vou cuidar das formalidades do contrato. — Ela se dirigiu à porta. — E não se preocupe, não vou fazer um escândalo. Eu sei como jogar esse jogo.

Olhei para ela, sabendo que essa era a última vez que a veria nessa situação. Havia um alívio em saber que o teatro tinha acabado, mas também a sensação de que, de alguma forma, eu tinha feito tudo da pior maneira possível.

— Boa sorte, Carlos. — Foram as últimas palavras dela antes de sair pela porta, sem nem olhar para trás.

Fiquei ali por alguns minutos, o silêncio me engolindo. Eu precisava ver Jasmin. Precisava me desculpar por ontem, mas, acima de tudo, precisava que ela soubesse que, mesmo bêbado, eu falava a verdade.

Me vesti rapidamente, e saí do quarto, com a cabeça ainda pesada e os pensamentos confusos. o fui até a recepção do hotel onde estávamos hospedados,preciso falar com ela. Sabia que eles estariam lá depois da corrida de ontem e a noite de comemorações. Quando cheguei ao saguão, pedi para subir ao andar dela, mas o recepcionista me parou.

— Desculpe, senhor Sainz, ela pediu para não ser incomodada. — Disse o rapaz atrás do balcão.

Claro que ela não queria me ver. Depois do que fiz ontem, não a culpava. Mas isso não ia me impedir. Eu precisava pelo menos tentar.

Mandei uma mensagem.

"Jasmin, por favor, preciso falar com você. Sei que estraguei tudo ontem, mas não vou retirar nada do que disse. Me encontre no terraço."

Esperei alguns minutos, o coração acelerado, até que recebi a resposta.

"Estou subindo."

Dei um suspiro de alívio, mas ainda sentia um nó no estômago. Subi até o terraço do hotel e esperei. O vento era frio, e o sol da manhã começava a iluminar Mônaco de forma suave. Então, a porta do terraço se abriu, e lá estava ela. Jasmin, com o cabelo solto ao vento, e uma expressão indecifrável no rosto.

— Você tem cinco minutos, Carlos. — Ela disse, cruzando os braços.

Respirei fundo, me preparando.

— Jasmin, eu sinto muito pelo que aconteceu ontem. Eu bebi demais e... não devia ter feito aquilo na frente de todo mundo. — Comecei, a voz um pouco rouca. — Mas... eu não retiro nada do que disse.

Ela arqueou uma sobrancelha, surpresa.

— Como assim?

— O que eu disse foi a verdade. Sempre foi você, Jasmin. Desde aquela época, há sete anos. Eu só... eu nunca tive coragem de admitir, porque sempre achei que seria complicado demais, ou que não daria certo. Mas ontem, vendo você com o Charles, vendo como você parecia feliz... não consegui mais segurar. Eu amo você, Jasmin. Sempre amei.

Ela ficou em silêncio por um momento, os olhos dela brilhando com algo que eu não conseguia decifrar. A tensão no ar era palpável, e tudo o que eu conseguia fazer era esperar pela resposta dela.

— Carlos... — Ela começou, com a voz baixa. — Eu... não sei o que dizer.

𝐒𝐄𝐗𝐓𝐀𝐏𝐄 ||CARLOS SAINZ Onde histórias criam vida. Descubra agora