O nome dele é Tharn

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Nada realmente aconteceu naquela noite. Seus olhos não se cruzaram magicamente ou o baterista o notou e veio até ele, ou qualquer outro acontecimento ridículo que só aconteceria nos romances.

Na verdade, o próprio Type nem ao menos considerou nada disso. Mesmo tendo ganhado uma ereção num lugar lotado de gente e, principalmente, por ter ficado excitado apenas de olhar para um homem, ele não ligava. Type estava muito cansado e bêbado pra dar uma merda sobre tudo isso.

Ele esteve trabalhando no último mês como um escravo, mal lembrava a última vez que alguém havia tocado seu pau, ele nem se lembrava a última vez em que ele havia tocado seu próprio pau, então sua reação inconveniente poderia ser explicada pela sua abstinência.

E quanto ao resto? Bem, ele não podia controlar seu pau e não tinha tempo livre pra entrar em uma crise de sexualidade agora. Então, sim. Vida que segue.

Era só que, mesmo depois de dois dias, ele ainda não conseguia esquecer a expressão de prazer do outro homem. Em seu preciso tempo livre, ele ainda conseguia pensar naquele rosto, ele ainda se pegava pensando naquela pessoa.

Type não estava pensando nele de maneira sexual. Na verdade não. Ele estava simplesmente curioso. Curioso porque não entendia como alguém conseguia gostar tanto de algo a ponto de mostrar tal expressão.

Desde que se formara na universidade, Type havia se transformado em um adulto completo. Ele conseguiu um emprego, tinha um bom apartamento e ainda mantinha contato com seus amigos e juniores.  De vez em quando ele se envolvia em alguns relacionamentos e tinha alguns hobbies pra ocupar seu tempo, mas por mais que pensasse, Type não podia encontrar nada em sua vida que o faria mostrar aquele tipo de expressão.

Nem mesmo sexo.

Talvez... Talvez o futebol. Sim, quando ele estava no campo, naquela época, ele certamente sentiu uma faísca de algo próximo daquilo. Mas ele cresceu e o futebol foi deixado pra trás. Agora não lhe restava nada.

Aah. Type era realmente patético por estar com inveja de um homem desconhecido, porque ele tinha algo que Type simplesmente percebeu que queria.

Não tocar bateria ou a música em si, ele queria o sentimento. Aquele sentimento que ele não havia experimentado nem mesmo uma única vez. Era algo que ele não poderia entender até que sentisse.

Mais alguns dias se passaram e Techno lhe enviou uma mensagem o convidando para ir naquele mesmo bar, como um pedido de desculpa pelo que havia acontecido na última vez.

Sua primeira reação foi negar, porque ele ainda estava zangado com Techno e aquele seu namorado de merda, mas Type lembrou de repente que se ele fosse, ele poderia dá uma olhada naquela expressão novamente. Então, pra surpresa e delírio de Noh, ele concordou.

E aqui estava ele agora, sentado naquela mesma mesa que da primeira vez, ouvindo Techno reclamar sobre seus companheiros de trabalho pela milésima vez. Pelo menos dessa vez aquele bastardo não apareceu. Pelo menos ainda não.

"Você ouviu o que falei, Type?"

Uma careta enfeitou seu rosto enquanto ele se voltava para encarar seu amigo. "E tem como eu não ouvir?"

"Uma pessoa tão gentil como sempre", Noh revirou os olhos. "O que você está procurando, afinal? Não para de olhar ao redor desde que chegamos."

Agora isso fez Type congelar. Maldito Techno. O homem era um idiota, mas nunca deixava nada passar por ele com esse seu maldito radar. Sem falar que o próprio Type era tão transparente quanto água e nunca conseguia esconder qualquer coisa de ninguém mesmo que sua vida dependesse disso.

"Estou me assegurando de que nenhum homo maldito tente se aproximar de mim", zombou.

Suas palavras, na verdade, foram cuidadosamente escolhidas. Ele sabia que se respondesse com um "Não é nada" serviria apenas pra deixar o radar de Noh ainda mais alerta.

Sua escolha de palavras se mostrou correta quando seu amigo apenas revirou os olhos mais uma vez e resmungou algo como um "idiota" em sua direção.

Aquele homem ainda não havia aparecido e talvez sua ida aquele lugar tivesse sido uma má escolha no final. Ele pensou por um segundo em perguntar a Noh se a banda da última vez tocaria hoje novamente, mas desistiu rapidamente. Techno sabia que ele não se importava com músicas e bandas, então isso poderia chamar sua atenção.

"Parece que aquele idiota não vai aparecer dessa vez", Type lhe disse, antes de tomar um gole de sua cerveja.

Techno fez uma careta. "Ele não vem."

O homem estava claramente desconfortável com o novo assunto. Noh odiava falar de seu namorado com Type, porque sabia que seu amigo o odiava. Ele tinha certeza de que Type ainda não havia o perdoado totalmente por ter voltado com  Kengkla depois do último rompimento terrível deles.

Type bufou e preferiu deixar o assunto cair. Ele tinha prometido a si mesmo nunca mais se envolver no relacionamento de Noh depois de tudo que aconteceu da última vez.

Um silêncio desconfortável caiu sobre a mesa, mas não se prolongou muito. Afinal, Techno não era do tipo que calava a boca por muito tempo e talvez fosse principalmente por isso que ele e Type ainda eram grandes amigos.

Type estava se perguntando se era hora de voltar pra casa quando notou um grupo de homens entrando no bar. Aquele homem estava entre eles.

Type observou como a mulher que parecia a proprietária do lugar correu até eles sorrindo e os colocou todos juntos numa mesa. Eles pareciam se conhecer e até um pouco mais que isso, todos pareciam ser amigos.

"Tyyyyypeee." Techno acenou com a mão na frente do seu rosto. "O que há com você hoje?"

Quando seu amigo pareceu seguir com os olhos o caminho em que seu olhar estava minutos atrás, Type abruptamente se levantou.

"Estou saindo", ele murmurou enquanto retirava a carteira.

Techno piscou e depois o olhou como se ele tivesse perdido a cabeça. Finalmente. Mas Type não tinha mais interesse em ficar, porque sabia que a banda não tocaria hoje.

O homem se sentou junto com seus amigos e, do jeito que eles estavam rindo e conversando, não parecia que ele estava pensando em se levantar em nenhuma momento próximo dessa noite.

Type veio até aqui para ver aquela expressão. E ele sabia que ela só lhe seria mostrada se aquele homem estivesse tocando sua maldita bateria. Então, Type não tinha mais interesse em continuar aqui.

Noh suspirou e se levantou também chamando a atenção de um dos garçons. Ele sabia que se Type já tivesse decidido sair, ele simplesmente sairia. Era assim que a mente de seu amigo problemático funcionava.

Techno ainda está resmungando ao seu lado sobre seu egoísmo enquanto eles se dirigiam a saída, mas isso não o impediu de ouvir o "Isso não é engraçado, Tharn?" vindo da mesa em que ele estava, mesmo sem querer, prestando atenção.

E Type sabia que havia ganhando algo, Deus sabe o quê, quando o homem, aquele homem, riu e respondeu em uma voz clara: "Claro que sim".

Type revirou os olhos e fingiu que estava prestando atenção nas reclamações de Noh desde o início. Eles finalmente deixaram o bar e caminharam em direção a seu carro, pois Techno ficaria com ele pelo resto da noite.

A voz de Techno ainda dava vida ao ambiente, mas apenas chegava como um zumbido na cabeça de Type. Isso porque tudo que ele conseguia pensar se resumia a uma única palavra.

Isto é, Tharn.

Tharn.

E Tharn.

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