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            Por que, diabos, acabei de convidar um completo estranho para a minha casa? Eu não sei se foi o seu sorriso contagiante, ou o seu físico claramente sedentário e incapaz de derrubar uma mosca sequer,mas não me senti ameaçada ou com medo, apesar de ser forçado chamar o que senti de segurança. Andamos lado a lado, em um silêncio confortável, que eu senti a necessidade de quebrar antes da hora:

- Então, qual decepção você teve que passar na vida para vir nesse bar meia boca, sozinho, escutar uma estranha mais ou menos afinada cantar?

-Primeiro que mais ou menos o cacete, você estava incrível! Segundo, sua pergunta não tem uma resposta tão interessante assim, é só.... A vida, eu acho. Sei que devia estar fazendo qualquer outra coisa, estudando, arrancando os cabelos por não estar em uma faculdade ainda, dando meu sangue para procurar um emprego decente. Mas... Eu não sinto essa necessidade ainda, e nem achei algo interessante o suficiente para me encaixar pelo resto dos meus dias. Me sinto em um limbo, e descarrego esse sentimento em algo produtivo, dirigir. 

    Aquelas informações não me deixaram surpresa, muitas pessoas passam por isso, eu mesma vivenciei isso na época do ensino médio, antes de ser contagiada pelo fascínio dos números. Ocupada demais com meus devaneios, quase não escutei quando ele perguntou:

- Mas e você? Quem você perdeu para achar consolo em um bar tão tarde da noite?

-Minha mãe, mas já faz bastante tempo.

    Um pouco atordoado pela minha resposta nem um pouco sutil, Matheus não sabia o que fazer, mas acabou se decidindo pelas duas palavras mais batidas que existem:

-Sinto muito.

-Está tudo bem, como eu disse, já faz bastante tempo. Na verdade eu estava no bar mais para me distrair, conheço o dono há algum tempo. Cantar me faz bem.

-Percebi.

- Tá bom engraçadinho, o que te faz bem? Eu entendo quando você diz que tem diversos interesses, mas não acredito que nada te motiva. O que eu realmente acho, é que sua paixão  não se enquadra como algo que pode te trazer um futuro estável, e isso te assusta.

-Você é boa.

-Ainda quero uma resposta.

-Escrever. Eu simplesmente adoro escrever, qualquer coisa.

-Que interessante-Abri um sorriso genuíno, nunca tinha conhecido alguém com essa capacidade antes.

-Não finja que está tão interessada, não é nada demais, nenhum "Harry Potter" da vida,  só algo que eu gosto de fazer no tempo livre. Ajuda a clarear os pensamentos, e é uma ótima fonte de distração. Posso ser quem quiser, onde quiser, com quem eu quiser, tem algo que seja mais libertador do que isso?

-Desconheço, e te invejo bastante. Não consigo ter essa imaginação, acho que é a desvantagem de gostar tanto de números.

-Coitada... Ainda bem que estou aqui para te salvar dessa chatice- O sorriso já se transformando em uma risada, e socorro, que risada gostosa de ouvir.

Estávamos quase chegando no meu apartamento, uma construção branca e sem graça com os característicos três andares permitidos nesse bairro (será que é bairro mesmo? Sempre me confundo)

-Olha Matheus... Não sei se você é tão especial a esse ponto. Vamos entrar?

-Claro, primeiro as damas.

    E assim começa uma grande aventura, ou um perfeito desastre. Depende do ponto de vista de cada um. O meu... Só vendo para descobrir.

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⏰ Última atualização: May 23, 2020 ⏰

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