Música

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Passaram-se alguns poucos dias desde que aquela doida do conselho estudantil me beijou e me fez perder o bv – claro que dessa última parte ela não precisa saber. Depois daquilo, eu estava decidida a fingir que nada aconteceu e que nunca tinha falado com ela antes. E pelo visto estava dando certo, já que ela também não tinha vindo falar comigo.

Sempre que eu a via nos corredores ou na sala de aula, ela parecia super ocupada – ser presidente não deve ser lá muito fácil. Sempre me distraía a observando, e a vontade que eu tinha de me estapear era grande.

Enfim, eu estava novamente no lugar que sempre ficava após o fim das aulas, atrás da escola, onde quase ninguém ia além de mim. Por culpa de Yaoyorozu, agora eu tinha lembranças vergonhosas naquele lugar – o beijo. Mas eu não ia parar de ficar ali só por isso.

Enfim, eu me sentei no chão, me encostei em uma árvore qualquer e peguei meu celular. Coloquei uma música aleatória e aumentei o volume no máximo, na intenção de me isolar de tudo mesmo.

Infelizmente, a escola não permitia que entrássemos com instrumentos, se não eu estaria com meu violão, compondo minhas músicas. Tive que me contentar com o fone de ouvido e as músicas do meu celular. Era relaxante ficar ali, apesar de solitário. Eu me sentia em paz.

Mas essa paz durou pouco, pois logo senti alguém cutucar meu ombro. Era Yaoyorozu, sentada do meu lado e me fitando com curiosidade.

– O que você tá escutando?

Olhei pra ela confusa.

– O que você quer? – perguntei, conseguindo não gaguejar. Me sentia meio nervosa, e implorei aos céus para que meu rosto não estivesse vermelho.

– Quero saber o que você tá escutando, ora. – ela disse como se fosse óbvio. – E eu te vi aqui sozinha e me deu vontade de ficar com você.

Aí sim o meu rosto esquentou tanto que era impossível ela não notar o tanto que eu fiquei corada. Ela não tem noção do que diz não?

– O-olha, só porque você sabe dos meus podres, não quer dizer que somos amigas ou coisa assim – eu disse, evitando olhar pra ela.

– Podres? – ela colocou o dedo indicador no queixo, pensativa. – Você diz sobre como você fica toda corada quando tá perto de mim?

– Não, sua idiota! – elevei o tom de voz, querendo bater naquela presidente doida e irritante. – E isso nem é verdade! Eu tô dizendo sobre você me pegar fumando.

– Oh, claro, claro – sorriu. – E você tá parando de fumar?

– Não!

– Pois devia, Jirou-san, isso não faz bem para sua saúde.

– Vai se ferrar! Vaza daqui!

Ignorando completamente o que eu disse, ela se aproximou mais e encostou seu ombro no meu.

– Você tá brava por eu ter te beijado? – perguntou sem me olhar, fitando algum ponto específico em sua frente. Eu olhei pra ela.

– N-não é que eu esteja brava – eu não sabia o que estava dizendo, só deixei que as palavras saíssem, sem pensar. – Eu… eu só não entendo por quê você fez isso.

Ela me olhou e sorriu.

– Eu fiz porque gosto de você.

E então minha mente entrou em pane.

– V-você nem me conhece, não sabe nada sobre mim! – falei. – Nem faz sentido, garota! Isso não tem graça.

– Bem, é verdade que eu não sei muito sobre você…

– Tá vendo?!

– Além do que vejo na escola. – ela continuou, ainda me olhando com um sorriso pequeno. – Sei que você prefere ficar sozinha, e que tem poucos amigos com quem você raramente conversa. Que você sempre dorme na sala de aula e por conta disso não tira notas muito boas. E que depois da escola, você poderia ir pra casa, mas geralmente prefere ficar aqui, fumando. Aliás, por quê você não fumou hoje?

– Eu…

– Então – ela continuou, me interrompendo novamente – no outro dia, não foi coincidência te encontrar aqui. Eu estou interessada em você, Jirou-san.

Eu estava chocada demais com tudo que ela havia dito para ter alguma reação. Apenas lhe olhava com os olhos arregalados e a boca meio aberta, provavelmente parecendo uma boba.

– Interessada… em mim. – repeti, ainda meio incrédula.

– É.

O jeito que ela afirmava com naturalidade e sem nenhum pingo de vergonha me deixava ainda mais sem jeito.

– Hm, Jirou-san, você ainda não me disse o que está escutando. – ela disse, mudando de assunto de repente e pegando um dos fones do meu ouvido para colocar no seu. – Oh, é música indie? Eu pensei que você era mais fã de rock.

– É-é… eu gosto dos dois...

E foi assim o restante da minha tarde na escola, fiquei escutando músicas aleatórias ao lado de Yaoyorozu, que havia praticamente se declarado para mim, incapaz de dizer algo de tão envergonhada que eu estava.

Entre Cigarros, Música e Nerds OusadasOnde histórias criam vida. Descubra agora