Puxo a coleira do Kall, sentindo aquela sensação estranha de novo, de estar sendo observada. Kall levanta suas orelhas em alerta. Olho ao redor do parque, mas não vejo nada, apenas pessoas correndo e conversando, aproveitando o fim de tarde em Nova York. Moro a poucas quadras de distância do Columbus Park, meu refúgio, já que as intermináveis horas de trabalho na Walker Publicity, me deixa esgotada.
Já se passaram três meses desde que fui contrata para ser assistente do diretor de Marketing Eric Armstrong. Nesses 10 meses que deixei Londres, acabei trabalhando em uma loja de departamentos. Trabalhar com marketing sempre foi meu sonho.
Decidi tomar as rédeas da minha vida desde que me mudei para Nova York. Sei o que quero, e estou aqui para refazer a minha vida. Para mim, esse país, essa cidade... É um novo começo.
Minha vida era tranquila em Londres. Pais maravilhosos, uma casa confortável, um emprego de meio período em uma revista de noivas... Tudo nos conformes... Infelizmente, tudo isso mudou quando minha mãe ficou doente. Fiquei do lado dela o tempo todo, até o fim.
Meu pai mudou completamente depois da morte dela. Se tornou um homem fútil e sem princípios, envolvido em negócios ilícitos. Nesse exato momento, está planejando seu casamento com uma mulher 20 anos mais jovem que ele. A única coisa que sobrou da minha antiga vida foi o Kall. O cão da mamãe, ela o adotou quando entrei para a faculdade. Eu não podia deixá-lo para trás, então o trouxe comigo. Trago ele no parque para correr sempre que posso, um labrador tem muita energia para ficar trancado em um pequeno apartamento.
Faço um carinho atrás da sua orelha, o desprendo da coleira e jogo um bastão para ele pegar. Apoio meus braços cruzados sobre o encosto do banco e fico olhando ele brincar, seu pelo negro brilha com o pôr do sol, parecendo a cena de um paraíso canino.
De repente, do nada, como sempre, minha mente é tomada pela sua lembrança, o morador constante dos meus pensamentos e sonhos diurnos (às vezes noturnos). Ele se chama Dominic Castillo, mas todos o chamam de Dom. A boa notícia é que nos damos bem, talvez bem até demais. E a má, é que ele é meu colega de trabalho e se tornou um dos meus primeiros amigos em New York.
Ou seja... Só me enxerga como amiga.
No meu primeiro dia de trabalho, ele chegou em minha mesinha com um grande sorriso em seus lábios bem esculpidos, emoldurados por uma barba bem-feita, fazendo piada sobre o trânsito de Manhattan.
O dia mal havia começado e eu já tinha tido a bolsa furtada, quebrei meu salto e para piorar, cheguei atrasada.
Fiquei tão nervosa nesse dia, e ele me fez rir o tempo todo com piadas idiotas, tentando tirar meu nervosismo e acabou conseguindo.
Perto dele eu me senti bem logo de cara.
Em um primeiro momento, sinceramente, gostei dele. Dom tem um ar um pouco arrogante, mas quando você o conhece melhor percebe que ele não é nada assim, ele é o tipo de cara que sempre está brincando com você, fazendo seus amigos rirem e levantando o astral de todo mundo.
Rolou uma energia muito boa entre nós, e eu o achei atraente também, mas só o via como um amigo. Do tipo que a gente flerta, mas não com quem pensaríamos em passar uma noite... apesar de que até uma planta o acharia sexy.
Uma noite dessas eu estava um pouco pra baixo, ele foi até minha casa e levou uma pizza. Passamos horas conversando. Acabei me abrindo mais para ele, do jeito que nunca me abri para ninguém na vida. Falei sobre a morte da minha mãe, a aflição de estar longe de casa, e da mágoa pelo meu pai. Dom me ouviu e quando chorei, ele me consolou. Nunca havia me sentido tão bem nos braços de um homem. Tão segura. Naquela noite, ele não tentou nada. Estava lá apenas para me apoiar.
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Ligados ao Passado (Degustação)
RomanceKatherine Morgan abandona Londres, sua cidade natal, após a morte da sua mãe. Para ela Nova York é um recomeço, sua chance de ser feliz. Porém, ela se vê em um jogo de conquista com seu colega de trabalho, Dominic Castillo, um bad boy com pinta de a...