Capítulo 1 - Ritmo Para Dois

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      Enquanto me arrumo para sair pela primeira vez em semanas, ouço o toque insistente e irritante do meu celular. Saio correndo com o vestido recém passado em busca do aparelho, que se encontrava perdido no mar de roupas jogadas na cama.

      Quando finalmente o alcanço e atendo no sétimo toque, ouço a voz extremamente animada de Ayana:

       -Hey! Buenas Noches, muchacha! Como vai minha ...pelo amor de Deus, Badu, quero ver seu rosto,não seu ouvido.

      Me dou conta que é chamada de vídeo por essa frase, levando em seguida o celular defronte ao meu rosto, caminhando até a frente do espelho, pondo o vestido em frente ao meu corpo, analisando se havia sido uma compra válida. É muito provável que só o usarei aqui, e talvez com muita sorte, em uma aula ou outra que irei dar.

      -Desculpe, Binah, estou um pouco ocupada, a cabeça está longe - Digo ainda me analisando.

      -Sabe que não gosto que me chame assim. Sempre digo que mamãe se enganou ao pôr nossos nomes. A melhor dançarina aqui sempre vai ser você. - Ela diz, claramente observando a bagunça que estava na cama, preparando um comentário provocativo para fazer. Esse era seu ponto forte, pois como ela mesma já disse, dançar não é sua praia.

     Isso porque minha mãe adorava pôr nomes com o melhor significado possível em suas filhas, tendo sempre de ser nomes africanos. Acordo dela com meu pai, já que o sobrenome iríamos carregar da parte dele. Apesar de tudo, ele ainda a convenceu de colocar meu primeiro nome de Juliette, que significa "pequena jovem". Até hoje, não sei qual foi o preço pago por ele por essa pequena brecha no trato.

     Já o Badu, significa poderosa, algo que minha mãe insiste em dizer ter percebido essa característica desde quando eu estava em seu ventre. Não posso dizer que cometeu um erro em achar isso.

      Sobre Ayana...bom, quando minha mãe viu que eu era apaixonada pela dança tanto quanto ela, fez questão de pôr seu segundo nome como Binah, seguindo a tendência de que ela compartilharia desse mesmo amor por uma das quatro artes. Se enganou, tendo acertado apenas no primeiro nome, Ayana, que significa "flor bonita". Não é atoa que ela prefere ser chamada assim.

      -É isso mesmo que estou vendo? Minha irmã louca pelo trabalho está saindo para se divertir?? A data da viagem de volta ainda não chegou, então uma noitada é a única coisa que justifica essa zona. Ou pode ter um homem envolvido... quem é o sortudo? - Despejou ela tudo de uma vez só, me fazendo encarar sua face animada pelo celular.

      -Eu lá tenho cara de me apaixonar por alguém que nem do meu país é? Aya, estou aqui para aprender mais sobre a Salsa, apenas isso. Essa é uma oportunidade que raramente vou conseguir novamente, por isso só vou sair essa noite. O hotel vai fazer tipo uma festa, onde alguns dançarinos praticamente profissionais virão. É algo imperdível.

      Largo o vestido em cima da cama e vou em busca de um par de saltos ao seu nível. Acabo encontrando um salto agulha dourado, com tiras que me trariam firmeza aquela noite, e que não fossem tão altos para não chamar atenção, pois o vestido já faria isso por si só.

      Havia comprado ele em uma das noites que saímos para turistar na Ciudad de México, lugar onde estou hospedada há umas duas semanas. Meu amigo Juan Lucca, ao ver esse vestido na vitrine de uma loja entrou em transe, dizendo que ele havia sido feito magicamente para mim. Entrei rindo na loja apenas para prová-lo e parar de ser infernizada, mas acabei gostando. O vestido era da cor laranja, seu topo era em alças com um decote em V nem tanto discreto. O comprimento ia praticamente até meu joelho mas possuía uma cauda lateral, onde o babado do vestido dava movimento ao mínimo sinal de vento, o que me daria liberdade para dançar se necessário.

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⏰ Última atualização: May 24, 2020 ⏰

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