Mergulho no mar

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Abro os olhos, vejo a cortina aberta e lá fora está uma tarde linda.
Depois de alguns minutos me sento na cama, olho ao redor e parece tudo calmo.

Quando eu era criança essa casa sempre era barulhenta, meus primos correndo no andar de baixo, meu avô tocando violão na varanda, minha vó com a minha mãe juntas, e as minhas tias falando alto.

Fico de pé no quarto, antes era tão grande quando criança. Agora o quarto parece ser tão pequeno.
Observo os criados mudos, ainda tem a caixa vermelha que eu colocava meus adereços.
A tinta rosa da parede está descascando, e ainda tem as fitas adesivas que eu colava as fotos na parede.
A escrivaninha de frente para a porta está intacta, mas a cadeira que eu enchia de roupa, não está mais no quarto. A vovó deve ter levado para outro lugar.

Eu vou até a janela e consigo ver o mar, as ondas batendo na areia, pessoas correndo na calçada, outras de bicicleta. Abro a janela e sinto o vento bater em meu rosto. "Eu senti falta disso".

Sentada a mesa, vejo a minha vó preparando algo para a gente comer, não comi nada até agora. O cheiro é muito bom e familiar. "Vó o que a senhora está fazendo? Me lembro desse cheiro, mas esqueci do quê é", pergunto para vovó, "Ana não se lembra dos famosos bolinhos de chuva?", ela me olha incrédula. "Vovó não esqueci dos bolinhos de chuva, eles sempre foram os meus prediletos! Eu acabei de acordar estou meio grogue", explico para vovó, "Dormiu bastante até, também dirigiu a manhã toda", ela diz enquanto polvilha os bolinhos com açúcar e canela, "Nossa, eu estava tão casada que dormir de sapato", falo rindo. Ela trás para a mesa a vasilha cheia de bolinhos, depois pega a garrafa de café e o leite. 

Comemos e conversamos ao mesmo tempo, "Vó que delicia de café, os bolinhos estão uma maravilha", digo com a boca cheia, "Ainda faço os melhores bolinhos de chuva". "Vó! eu to pensando em ir dar um mergulho antes que escureça", não sei se ela vai concordar, minha vó é muito protetora, "Não acha muito perigoso? Já está tarde, o mar fica muito agitado", sabia que ela ia falar isso, " Vó não é perigoso, eu volto antes que escureça", não que eu precise da permissão dela, gosto de pedir apenas por educação, "Ok, só não demore muito".

Levanto dou um beijo na testa dela, "Obrigada, volto logo", subo para o quarto colocar meu biquíni, por cima estou usando um vestido vermelho. Olho no espelho e percebo que o meu cabelo está bem arrumado, ele é preto com ondas, muitas vezes me deixa furiosa porque arma atoa. Desço as escadas com pressa, não aguento de vontade de nadar. "Vó estou indo!", falo alto para que ela escute, em resposta recebo um "Ta bom! se cuida!".

Conforme eu caminho em direção ao mar, sinto meu coração bater forte no peido de ansiedade. O vento gelado bate em meu rosto, jogando o meu cabelo para trás, o cheiro...
Meu Deus o cheiro do mar que eu tanto amo, eu estou aqui com os pés na areia cada vez mais perto da água. Eu sinto o gelo da água em meus pés, a sensação é indescritível. Eu continuo caminhando de vagar, os pensamentos longe. Quando a água está na minha cintura eu paro de andar, as ondas batem contra o meu corpo, quando eu percebo estou mergulhando.

Por um momento eu esqueço de tudo, embaixo da água está um silencio, eu tenho vontade de eternizar esse momento. Quando sinto que preciso de ar volto a superfície, vou nadando até a praia. Quando saio da água e olho para baixo, "Não acredito", começo a dar risada, fiquei tão afobada para nadar que entrei com roupa. Meu vestido está encharcado, mas valeu a pena cada segundo.

Olho para o horizonte, o sol está se pondo. Me sento na areia e fico admirando a paisagem, que pena que não trouxe o celular, poderia tirar uma foto. Quando escurece decido fazer uma caminhada pela praia, acabo mudando de ideia, minha vó deve estar preocupada.

Quando chego sinto o aroma de comida, "Oba! janta", realmente o cheiro ta muito bom, "Demorou, vai tomar um banho...", droga ela vai me ver toda molhada, "Ana você está toda molhada!", sabia que isso iria acontecer, "Eu entrei no mar com a roupa", com certeza vai me dar sermão. "Ana Maria pode ir agora tomar um banho! que menina sem juízo. Como que entra no mar com roupa e tudo, não leva uma toalha não leva nada. Na minha época quando a minha mãe levava a gente para nadar, não importava onde, sempre levava uma bolsa enorme com tudo que iriamos precisar...", como que eu faço para escapar daqui? "Vovó meu amor, preciso de um banho, vou molhar todo o seu chão", ela para de falar, olha para mim, olha para o chão, faz isso umas duas vezes, "Ana Maria você está sujando todo o meu chão! Vai tomar um banho menina, agora!", não perco a oportunidade e subo correndo pegar minhas coisas para tomar banho, enquanto escuto minha vó falar, "Olha o que fez no meu chão... Ai minha comida vai queimar... Essa menina...", eu começo a dar risada, confesso, senti saudade da minha Vovó.

*Copiar de um autor é plágio*

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