Algo velho

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Olá, divos e divas. Esse cap é a intro de um pontapé importante na história, para começarmos a resolver um mal entendido que dura anos e anos. Enfim, boa leitura e espero que a vida adulta me deixe atualizar de novo logo, logo <3


— Você tá me dizendo que viu meu primo, Tiago Corselle, em carne e osso, fodendo no escritório? — Luciana se recosta na bancada minúscula da minha cozinha, parecendo quase ofendida com meu relato.

Ignoro-a, dando de ombros. Talvez Tiago fosse mesmo o homem mais discreto do mundo, a ponto de ninguém conseguir reparar em seus casos. Ele realmente não me pareceu emocional durante o ato... ou durante os longos quatro anos em que o conheço num geral. Pego uma colher e afundo na panela de brigadeiro ao nosso lado, antes de engolir o montante de açúcar e responder:

— Se o pau dele dentro do rabo do Andrew for algum indicativo.

Franzo o nariz ao terminar de falar, a cena, clara demais em minha mente, me traz uma sensação ruim. Mais uma vez, decido que o melhor a se fazer é empurrar o sentimento de volta para uma gaveta escura e volto a atenção a receita de carne assada que, na minha humilde opinião, parece meio inapropriada para uma madrugada no meio da semana.

— Isso é estranho, no mínimo, sempre achei que meu primo gostava de... — ela engole as últimas palavras e a súbita interrupção me faz a encarar, esperando que prossiga.

— Gostava de...?

Luciana franze o cenho, o olhar em meu rosto.

— Esquece... Uau, essa é uma fofoca e tanto. Acho que já vi esse menino algumas vezes, ele não tem as bochechas sempre meio rosadas? Bonitinho.

Minha amiga pega o celular, rolando a tela, aparentemente procurando o que fazer a seguir com a carne mediana no balcão. Eu a cutuco com a ponta do dedo, interrompendo sua concentração.

— Bonitinho — repito, num tom mais fino. — Não fode.

Ela ri.

— Achei que você gostava dele.

— Eu gosto — retruco, pegando um tabuleiro no meu armário e o silêncio dela é resposta o bastante, então continuo: — O que foi? Eu gosto, ele é ótimo, muito bonito, é simpático, tá sempre sorrindo, a ponto de eu me perguntar se ele não fica com as bochechas doloridas, ele é perfeito — falo tudo de uma vez, sem desviar os olhos da minha função naquele jantar, seja ela qual for, levanto a peça de carne e a coloco na tábua.

— Uou.

— O que foi?

— Talvez a gente tivesse que ter saído para beber ao invés de fazer carne assada.

— Não posso, Tiago me disse para vir direto... — mordo as bochechas, me impedindo de continuar falando. Que merda eu estou fazendo? Pior ainda, por que estou dividindo essa parte com Luciana?

— Foi Tiago que te mandou direto pra casa.

Não é uma pergunta, Luciana está constatando um fato, aproveitando a informação que dei a ela de bandeja.

Que inferno.

— Cala a boca — retruco, incapaz de olhar direto para ela, com vergonha de ter obedecido tão cegamente o que nem sequer era uma ordem. Por Deus, o cara nem estava em horário comercial e, mesmo se tivesse, não cabe a ele decidir a hora que venho ou não para a minha casa.

Luciana, alheia a minha crise existencial, gargalha alto.

— E você obedeceu, meu Deus eu estava me perguntando por que você me fez cruzar a cidade no meio da noite.

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