✿ CAPÍTULO 1 ✿

375 37 32
                                    

Após analisar minuciosamente os papéis recém-chegados em suas mãos, Joana soltou-os sobre o balcão onde dezenas de outros com conteúdo semelhante pareciam estar ali apenas para tirar a paz da jovem mulher.

Tomada pela preocupação apoiou suas costas no encosto da cadeira cinza levando os dedos esguios sobre o rosto moreno e suspirou pesadamente deixando seu corpo descansar por um breve momento. Deslizou vagarosamente pelo assento, sentia suas costas doerem pelo peso das responsabilidades que carregava sobre si.

Joana e Timóteo eram os únicos netos de seu Antônio e sua esposa Belinda. Timóteo, o neto mais velho havia cursado Agronomia e agora cuidava da fazenda dos avós.

A floricultura também era um dos bens da família e era a queridinha de D. Belinda, que alegremente contava que ela e seu marido haviam se conhecido ali. O sorriso nos lábios da avó, a riqueza dos detalhes e o brilho nos olhos deixava a história ainda mais bela. Seu Antônio era um jovem recém chegado da capital que havia ido com seus pais morar em Monte Sião para herdarem as terras da família. Por algum motivo, sua chegada só ocorreu uma semana após a chegada de seus genitores, o que fez com que algumas das jovens da pequena cidade ficassem eufóricas com a presença de um novo rapaz da capital morando ali.

Ao desembarcar na rodoviária da pequena cidade o jovem Antônio, não sabia como chegar na fazenda da família. Ergueu atenciosamente os olhos e observou, havia poucas casas ao redor, alguns comércios rodeavam a praça central, entre eles um pequeno estabelecimento com uma placa chamativa e algumas flores bem espalhadas pelo local, "parecia um ótimo lugar para pedir informações e quem sabe tomar um café", concluiu o jovem.

— Boa tarde! Me chamo Antôni... — o jovem não era de rodeios em suas palavras, mas os lábios entreabertos denunciaram que não estava preparado para o que seus olhos viram.

— Boa tarde! — Seu olhar permaneceu fixo na moça que caminhava em passos lentos e delicados em direção ao rapaz. — Sou Belinda, a responsável pela floricultura.

Os olhos do jovem percorreram pela moça analisando a beleza da mesma, seus longos cabelos castanhos e ondulados desciam por seus ombros e percorriam até sua cintura como uma cascata. Não era alta, então seu vestido azul percorria delicadamente por seu pequeno corpo magro. Seus olhos  pareciam duas amêndoas, e seu sorriso...uau... o que falar dele?

— Desculpe, como se chama mesmo? — Antônio balançou a cabeça na tentativa de despertar de seus devaneios.

— Sou Antônio. — ergueu uma das mãos e aceitou o cumprimento da moça. — Estou, huum... — desestabilizado, pensou — estou em busca de uma informação. — Encarou a jovem. — E quem sabe um café.  — Ergueu levemente um dos lábios superior na tentativa de um sorriso galanteador.

— Moço, te garanto que flores e informações você consiga aqui. — Desfez o contato com rapaz. — Agora café com segundas intenções é da porta pra fora.

Cortou as investidas do rapaz, e suspirou aliviada ao vê-lo sair após conseguir sua informação e comprar uma rosa vermelha, insistindo para a jovem aceitá-la.

Agradeceu internamente por não precisar ver aquele jovem da capital com frequência, já que a fazenda que o moço moraria era do lado oposto da cidade.

Ele não teria tempo ou coragem de ir para a cidade só para procurá-la, ou teria?

Belinda só não imaginava que Antônio havia prometido a si mesmo a voltar no estabelecimento todos os finais de tarde, até que fosse convidado pela própria moça bonita para um café.

E quase 50 anos depois, eles ainda se amavam como na primeira tarde de café juntos.

Haviam passado por muitas dificuldades para cuidar da fazenda, manter a floricultura e criar a filha Madalena.

Pleno AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora