Capítulo Único: Uma noite de travessuras

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Tudo começou com uma brincadeira de péssimo gosto.

Quando Shinobu deu o tabuleiro Ouija de presente e um recadinho sacana pra usar na noite de Halloween antes de abandoná-lo para sair com Douma, Giyuu sabia que ela estava fazendo uma piada no mínimo duvidosa sobre a solteirice dele desde que perdeu o namorado.

Mesmo sem acreditar naquelas coisas, Giyuu ainda seguiu o conselho - se é que podia chamar disso - já que não ia para nenhuma festa naquela noite e não tinha nenhum compromisso importante no dia seguinte. Fez todos os preparativos, ainda que se achasse meio bobo por isso: sentou-se sozinho na mesa da sala, acendeu algumas velas, desligou a televisão e decidiu que iria tentar entrar em contato com o além.

Era Halloween, afinal. Pelo menos iria render alguma história para contar no dia seguinte, caso acontecesse alguma coisa. De qualquer forma, não era como se ele esperasse muito daquilo.

Porém, ele definitivamente não estava preparado para acabar convidando para seu apartamento justamente o fantasma do namorado morto.

Depois de algumas poucas perguntas sem muita coisa de especial, Sabito materializou-se bem na sua frente, a identidade indiscutível. Giyuu conhecia bem demais aquele cabelo cor de pêssego, o sorriso sereno, a cicatriz no rosto. Aquela era a aparência do rapaz por quem se apaixonou, anos atrás, e por quem ele ainda era apaixonado, mesmo que tenha ido embora da sua vida.

A única diferença era que agora ele possuía uma leve transparência.

"Sabito." Ele experimentou chamar, em parte para testar a própria sanidade. Havia bebido um pouco com Shinobu mais cedo, e por mais que não estivesse completamente embriagado, não confiava totalmente nos seus sentidos.

"Giyuu." O fantasma o chamou de volta, o timbre igual ao das várias memórias que tinha do rapaz.

Era isso. Ou o tabuleiro realmente funcionava melhor do que o esperado ou Giyuu estava tendo uma viagem alucinógena muito forte.

Ele não sabia em qual opção devia acreditar.

Sabito andou - ou melhor, flutuou - até ficar bem em cima da mesa, sentando nela e deixando o corpo atravessar o tabuleiro, as velas, e os braços de Giyuu, que não sabia exatamente o que fazer. Não era como se ele fosse instruído para lidar com um visitante sobrenatural, ainda mais quando o dito cujo era um velho conhecido.

"Você ainda tá solteiro?" De todas as perguntas que ele podia fazer, Sabito acabou fazendo logo aquela. Se ele não estivesse morto, Giyuu podia jurar que ele tinha combinado aquilo tudo com Shinobu, de alguma forma.

Mas ele acreditava que Sabito não teve nenhum contato com a mulher antes de aparecer.

Giyuu fez que sim com a cabeça. Sabito deu uma gostosa gargalhada, que soava igualzinha com as que ele dava quando ainda era vivo: cheia de energia, intensa e chamativa. Giyuu se perguntou se os vizinhos não iriam escutá-lo, mas também não teve coragem de pedir para o outro parar, ainda mais quando podia vê-lo praticamente rolando na mesa.

Quando acabou de rir da cara dele, Sabito passou a mão no cabelo e sentou na ponta da mesa. Parte do seu corpo ainda atravessava Giyuu, que optou por tirar os braços de cima do tabuleiro mesmo sabendo que Sabito muito provavelmente não estava sentindo nada.

Mesmo assim, era quase como se ele estivesse vivo.

Sabito o encarava com a mesma ternura de sempre em seus olhos lilás, junto com um ar de traquinagem que parecia mais intenso do que o costumeiro, talvez por ele não ser mais humano.

"Eu já devia imaginar! Você precisa me superar, Giyuu." As palavras foram ditas mais em tom de brincadeira do que de reprimenda ou preocupação, algo parecido com o jeito que Shinobu tentava encorajá-lo a sair e buscar por novas companhias, nem que fosse apenas para amizade.

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