Capítulo 1 - Luz

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Quando acordei a primeira vez, vi uma rocha, ligada a ela estava uma corrente que saída de meu peito, uma luz surgia de um antigo poste sobre minha cabeça, sua luz era uma pequena chama que iluminava toda a praça. Tudo estava escuro, uma penumbra tomava as ruas que seguiam em todas as direções, tudo era sombra, tudo era escuro, restos de construções abandonadas e destruídas formavam a paisagem debaixo de uma noite pesada e sem luar.

Alguns segundos se passaram até que eu pudesse notar um pequeno grupo de pessoas ao meu lado, apenas um deles estava mais próximo, todos olhavam para mim como se estivessem esperando que eu dissesse algo, mas... Quem eram eles?

O homem que estava a frente me olhava diferente dos demais, todos carregavam um certo pavor ou receio em seus olhos, mas ele, por algum motivo, não. Tentei lembrar se já teria visto aquele rosto antes, mas nenhuma lembrança surgia, nada de antes de acordar em frente aquela rocha me resgatava a memória, e enquanto me perdia em uma luta sem frutos contra mim, ele proferiu as primeiras palavras:

– Você é diferente dos demais, qual o seu nome?

Dos demais? Que demais? A que ele se referia? Nome? Um nome... Por que não me recordo nem mesmo de meu nome? Comecei a olhar para todos tentando buscar qualquer tipo de referência que me permitisse recuperar qualquer pequeno pedaço de memória, o esforço era tamanho que podia sentir minha cabeça doer, e então, um nome. Rar? Rarntur? Arthur? Raerthur? Isso, Raerthur, esse era meu nome, mas quando o proferi, ouvi em resposta me chamar de Hunter, e por que não? Eu nem mesmo tinha certeza se esse era meu nome, então deixei que o pronunciasse assim, mas ele não parou.

– Hunter, creio que posso te oferecer algo, mas preciso de um favor.

Nesse momento, ele segurou a corrente próximo a rocha, recitou algumas palavras e então, a corrente se desprendeu sem esforço, se prendendo a sua mão. Aquilo me deixou confuso, mas ele parecia saber mais do que eu, então permaneci em silêncio na espera de mais palavras que talvez explicasse o que estava acontecendo.

– Caso me ajude, posso te libertar dessa pedra.

– Libertar? – olhei para sua mão que se mantinha presa a corrente – e eu não estaria trocando uma prisão por outra?

– Não, não estaria, o que te ofereço é de fato a liberdade, eu apenas não posso te oferece-la agora.

Ao proferir essas palavras, de alguma forma, senti sinceridade, não foi algo como instinto ou um voto de confiança, eu apenas havia sentido, mas "sentir" isso de fato não fazia um sentido lógico, de onde teria vindo isso? Será que em meio a toda essa confusão minha alma implorava por qualquer resquício de esperança que me tirasse desse vazio que me habitava? Precisava ter certeza, então continuei:

– Vamos partir do pressuposto de que acredito em você, que favor seria esse e por que eu deveria acreditar em alguém que não conheço, pois se perguntou meu nome, creio que não saiba quem sou.

– E você está correto – respondeu –, de fato não o conheço, mas algo em você me mostra que posso confiar em ti. Viemos em busca de um amigo, – continuou – alguém que está preso aqui, precisamos resgatá-lo e temos pressa, pois temos certeza de que ele está sendo torturado, e sei que pode nos ajudar.

Torturado? Preso? Ao invés de me trazer conforto ou recordações, apenas mais dúvidas cresceram, e se ele está preso por qual motivo seria? Ainda assim, por que deveria ajuda-los? Mas então me veio a dor, dor essa que sentia como uma amiga próxima, era isso, eu estava nessa praça a muito, muito tempo, anos convivendo apenas com a dor, a palavra tortura então me soou familiar, e pude novamente sentir a sinceridade, e me focando apenas na dor concordei em ajuda-lo. Não me interessei pela possível liberdade, ou pela promessa que havia feito, nem tão pouco suas palavras me convenceram, mas ainda existia a dor, dor essa que simplesmente não poderia deixar que outra pessoa sentisse enquanto não faço nada, e apenas isso me motivou a aceitar.

O homem então começou a caminhar, e eu apenas o segui, cegamente, todos os demais também o seguiam e podia notar que somente ele sabia onde estava indo. Seriam eles iguais a mim? Não, não existem mais correntes, era de alguma forma diferente.

Lembro-me de ter a sensação de encará-los por horas, sem que nem mesmo notassem que eu os observava, até que um prédio mais alto surgiu em meio a escuridão, era uma biblioteca, não me recordava de ter estado ali antes, mas ainda assim aquela imagem me era familiar. Todos entraram nessa biblioteca, e então o homem se voltou a mim e disse:

– Preciso fazer algo nesse momento, mas preciso ir sozinho, para que confie em mim, te deixarei junto a pessoa em que, acredito, te fará sentir menos aprisionado, só peço que cuide dela.

Em seguida, fez um sinal de mão, chamando uma das pessoas que estavam junto de seu grupo. Uma moça de traços suaves, cabelos lisos e pele branca se aproximou, uma elfa, ele segurou em sua mão, disse novamente as mesmas palavras e uma luz surgiu, então a corrente se desprendeu e foi presa novamente a mão dela. Após aceitar sem questionamentos, ela se virou a mim de forma serene, e sem demonstrar o medo que todos os demais exalavam, me disse com absoluta calma:

– Muito prazer, sou Lúthien – enquanto inclinava a cabeça como uma forma de reverencia ou cumprimento. Uma calma me tomou, outro sentimento que não podia entender sua origem, por um instante, senti um pouco de paz, e então, o homem que havia passado a corrente deu as costas e desceu as escadarias sem proferir mais nem uma palavra.

Foi quando então olhei novamente para ela, dealguma forma ela havia trazido sossego a minha mente, quanto mais a olhava,mais ela se aquietava, ainda não podia entender o motivo desses sentimentos,será que eu a conhecia? Mas se a conhecesse porque ela se apresentaria a mim?Eu continuava confuso e sem entender, mas por um instante, me prendi somente aessa paz.

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