Confiança

85 8 3
                                    

"K-Kaminari... bro... não tem que ser assim..." Kirishima, jogado aos pés do traidor, implorava para que o amigo voltasse atrás em suas escolhas, voltasse a razão e, não mais importante que isso, voltasse para ele. "P-por favor... você não tem que fazer isso, não tem que obedecer às ordens deles..." A voz fraca de Kirishima o impedia de gritar por ajuda, mas, também, não era como se qualquer um pudesse ouvi-los naquela sala vazia e, assim como sua voz, o ruivo também não possuía forças para correr, tampouco lutar, contra aquele que ainda considerava seu amigo. "Kami, você não é assim, você não nasceu para ser um vilão..."

Aquilo era patético. Mesmo depois de destruir a segurança da Yuuei, de lutar contra os professores, até contra seus próprios amigos, de destruir tudo e todos que ele amava, Kirishima ainda conseguia ser tão ingênuo e iludido em acreditar que Kaminari, o Kaminari que o ruivo pensava conhecer, voltaria para ele, voltaria para aquela escola, voltaria como se nada tivesse acontecido apenas porque implorava por isso. Ah, patético. Kirishima conseguia ser tão burro e emotivo com seus amigos que Kaminari chegava a ter dó.

"Você não me conhece..." Disse friamente, acompanhado de um leve e doloroso tom de deboche. "Você é apenas um idiota sem cérebro e musculoso, só. Qualquer coisa que não envolva masculinidade ou lutas está fora da sua compreensão..." Zombou, se agachando e ficando próximo de Kirishima, apenas o suficiente para que o ruivo sentisse as palavras amargas saindo de sua boca "Isso inclui a mim."

"Está dizendo que os seus amigos não importam? Mesmo depois de tudo que passamos juntos?" Ele ainda tentava, em vão, juntar as poucas forças que possuía para se levantar, porém, seus ossos quebrados, assim como sua própria individualidade inútil, dificultavam a simples tarefa de se mover. E, ainda assim, ele não desistiria de Kaminari, levantando um braço na esperança de, pelo menos, tocar no rosto do amigo. "Denki, por favor... eu sei que você não queria machucar ninguém..."

Patético, patético, patético, patético! Ele é tão idiota e patético! Gritava em sua mente, sentindo ódio junto com uma certa melancolia. Kaminari não merecia aquelas chances, não merecia aquela piedade, não perecia aquela compaixão, o afeto, a amizade, ele não merecia nada disso.

"Cala a boca!" Gritou, tapeando a mão de Kirishima com mais força do que o necessário, e o ruivo não pode disfarçar que sentiu dor com o tapa, mas isso nem se comparava em o quão quebrado emocionalmente estava. "Não sabe que esse seu apelo me enoja?! Você é tão inútil, fraco e ridículo que tenho pena de te manter vivo."

Aquilo machucava, machucava ao ponto de parecer que uma faca havia sido cravada em seu peito. Não deveria se lamentar, era culpa dele que aquela desgraça havia acontecido.

"Denki..."

"Quieto!"

"Eu sei que você não queria fazer isso..."

"Você não sabe nada sobre mim!"

"Você não é mau."

"Cala a boca, cala a boca, cala a boca! Eu te odeio, te odeio, te odeio!"

Era uma dor tão insuportável, tão destrutível. A dor de quebrar a confiança de seus amigos, a dor de romper todas as amizades feitas, a dor de se lembrar que todas as suas memorias felizes não eram nada mais que puro fingimento. Ele queria dar tudo que tinha para troca de lugar com Kirishima, para ter seus ossos quebrados, para ser punido, para ser deixado para morrer sem a chance de se salvar.

Aquilo não era justo, Kaminari não merecia perdão, nenhuma espécie de perdão, principalmente perdão dele, já que de todos, era quem mais lhe trazia tristeza quando o encarava com sua verdadeira face e natureza.

Não sou o traidorOnde histórias criam vida. Descubra agora