deu tudo errado

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Acordei com o Sol quente que entravapela janela sem cortina. Felix já estava de pé, o cabelo penteado, e já usava outra roupa.
Ele segurava um copo térmico na mão, e a outra usava para conversar com alguém por mensagem.

— Bom dia delícia. Meu tio já está esperando a gente…  — Ele me entregou o copo assim que me sentei na cama. Eu tomei o liquído quente e amargo, o pior/melhor café da minha vida, direto das mãos de Lee Felix, feito por alguém que não sabe fazer café.
— Bom dia… — Foi tudo o que disse antes da porta ser arrombada por uns homens musculosos, Felix correu até mim e me abraçou com toda sua força, ele me olhou, com aquele olhar de sempre, e antes de ser carregado por um daqueles homens ele me beijou, e eu tive certeza que aquele seria nosso último beijo.

— NÃO! POR FAVOR, NÃO. FELIX. EU TE AMO. TE AMO MUITO. — Eu gritei enquanto via ele sendo arrastado pra fora do quarto. Eu tentei ir atrás dele, mas dessa vez eu não podia, um homem me segurava, baixinho ele sussurrava  pedidos de desculpas.
— EU TAMBÉM TE AMO. MUITO, MUITO MESMO. NÃO SE ESQUEÇA DE MIM, POR FAVOR. EU NÃO ME IMPORTO QUE SE CASE… MAS NÃO ESQUECE DE MIM.

O carro em que ele estava saiu devagar, eu só consegui chorar, até vomitar e ser ajudada pelo mesmo homem que me impediu de correr até Felix.

— Mas é muito idiota… Hoje é o dia do casamento e você resolveu fugir com ele? Poderia ter pensado nisso antes. — A voz tão bem conhecida por mim falava alta e irritada. Minha mãe me arrastou pra fora da cama e me jogou um vestido no rosto.
— Vista-se. Vamos direto a loja ver o seu vestido para o casamento e então passaremos na empresa pra destruir qualquer  vestígio desse garoto da sua vida.

Ela me ajudou a colocar o vestido e arrumou o meu cabelo. 

Em Seul, fomos até uma dessas lojas de vestidos de noiva, a cada troca as atendentes faziam elogios exagerados e parabenizavão pelo casamento, eu não estava mais aguentando. O vestido escolhido por minha mãe era um desses longos e cheios de tecido,   o único detalhe eram as perolas na parte de cima que iam sobre as mangas compridas e transparentes. Era um vestido muito, muito, muito lindo, que eu definitivamente não queria usar.

No caminho até a empresa eu vi o ruivo em pelo menos uns sete garotos diferentes, ele não tinha um rosto comum, mas eu precisava do apoio dele, mesmo que não fosse ele.
 
Antes de entrar na sala, passei por uma série de exames rápidos para terem certeza de que eu poderia realizar o processo.

— Filha. Isso tudo é pro seu bem. Isso aqui, é a forma de esquecer o garoto, você não vai sofrer tristeza alguma da perda, porque ela nunca vai ter existido. Aliás, boas notícias, semana passada seu pai conseguiu implantar a função de trocas, ao invés de Felix, todos os momentos que teve com ele, na verdade, vão ser momentos com o Christopher. Isso não é ótimo?!

A máquina enorme em minha frente foi ligada,  eu me deitei e aos poucos senti que estava sendo sugada para dentro dela.
Nela eu vi tudo sumir, aos poucos uma luz branca começou a aparecer, eu estava com medo. Muito medo. No fundo, eu escutava Felix, ele me chamava eufórico. Tudo se apagou, e aos poucos pude ver Felix a minha frente.

— Trinta minutos no máximo. Eu entro aqui quando achar que já deu. — Minha mãe disse e eu percebi que não era alucinação, sai da máquina o mais rápido que pude e abracei meu ruivinho. Ele estava lindo, tão lindo.

— Eu não quero te esquecer… Não mesmo.
— Eu não quero que você me esqueça… e, quer saber, acho que isso é impossível. Nosso amor é maior que isso né?
— Sim. Sim… como você…?
— Eles me prenderam na sala ao lado, eles vão te apagar de mim também.
— O que…?
— É… ao contrário de você, não tinha ninguém me viajiando, e aqui tô eu.
— Como sempre…

Felix retirou do seu pulso uma pulseira de macrâme que eu dei pra ele quando completamos seis meses de namoro, ele a prendeu no meu pulso. E por uns segundo me abraçou. Eu enchi seu rosto com beijos, e ele apenas riu da situação, eu parei quando senti o nó em minha garganta se formar. Poderíamos planejar umas mil fugas dali, nenhuma daria certo.

— Você me deu quando fizemos seis meses de namoro. Você mesma que fez S/N.
— Eu sei… por que tá falando isso? — Ele encarou os pés e mordeu os próprios lábios, uma única lágrima desceu pelo canto de seus olhos.
—  A gente teve nossa primeira briga e a mais fria aquele dia, faz exatamente oito meses desde que isso aconteceu, mas não importa… você precisa lembrar dessa pulseira, precisa lembrar do que ela é para nós dois. Eu li um manual, demora até duas horas ou então apenas quinze minutos dependendo do quanto queira excluir do cérebro, o seu processo e o meu vão demorar, vamos pensar nisso, tudo bem? Lembrar dessa pulseira.
Eu apenas balancei minha cabeça confirmando.
Retirei o anel de coco que ele havia tingido de cinza com spray e coloquei no seu dedo.

— Você me deu dois depois de me conhecer. Falou que era pra eu não esquecer me esquecer de você, a gente se conheceu na praia, e eu não esqueci mesmo… um ano depois você foi estudar no mesmo colégio que eu estudava.
Eu comecei a chorar e ele me abraçou.
— Tudo bem. Pensa em mim, e eu penso em você. Desde o início do processo até o fim. Lembrede mim, e, eu lembro de você.Eu te amo.
— Eu também te amo.
— Muito.
— Muito.

Uma de suas mãos segurou minha cintura com força e a outra subiu até meu cabelo. Ele aproximou nossos corpos e iniciou o beijo, quente, sóbrio e calmo, com lágrimas intrometidas, muitas delas na verdade.

A mulher toda de branco entrou na sala interrompendo-nos, um dos seguranças levou Felix. E os cientistas da mulher me colocaram novamente na máquina, reiniciando o processo, o qual, faria eu esquecer de tudo.
A cada batimento cardíaco eu segurava firme a pulseira e repetia o nome Felix, até a atitude começar a se tornar sem sentido.

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