Capítulo 7: A encomenda

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 Saul sentiu nojo quando percebeu que Jônatas não havia dormido em casa. Até então ele não queria acreditar que o filho pudesse se relacionar com outro homem, ainda mais com um homem da categoria de Davi. Mas agora ele tinha certeza que os dois estavam juntos. 

 - Ele vai se ver comigo, aquele viadinho filho da puta vai ver o que é bom para tosse - disse olhando para a tela do celular, digitando o número de Golias. 

 Seu capanga era um homem de quase dois metros, carrancudo e muito impaciente. Ele sempre fazia o trabalho pesado por Saul, em troca de muito dinheiro. Para o vice-presidente nunca foi difícil conseguir aquilo que ele queria. Quando finalmente se livrou do incompetente do Obede, viu seu caminho livre para conduzir como bem desejasse a JudáCorporations. Mas Davi apareceu. 

 Agora, além de tirar seu cargo na empresa, ele seduziu seu filho. Seu único filho homem, que deveria continuar seu legado, lhe dar netos. Ele queria acabar de vez com aquela loucura. 

 - Alô? Golias, preciso de você hoje - a voz de Saul era cortante, o capanga já sabia que se tratava.

 - Quem é a pessoa? - A voz fria de Golias falou do outro lado da linha telefônica.

 - Aquele sobre o qual conversamos - Saul não ousaria dizer o nome de Davi mais uma vez, pois sentia que a palavra era suja - você precisa fazer um trabalho limpo, como o da última vez. 

 - O neto do morto, Senhor Saul? - Golias riu de forma debochada - Você não tem medo que isso chegue até você? 

 - Deixe disso e faça como mando - Saul estava extremamente impaciente agora - Não haverá nada que conecte a morte dele a mim, você se encarregará disso, correto? 

 - Contanto que o dinheiro combinado esteja depositado na minha conta até o final do dia, eu farei exatamente como você quiser. 

- O dinheiro estará lá - Saul já havia preparado a transição através de uma conta que possuía num banco do exterior - Seja discreto. 

 Não muito longe dali, Davi estava acordando, ainda abraçado a Jônatas. O jovem possuía uma expressão calma e serena. Davi passou o dedo indicador por todos os traços do rosto de Jônatas, como se quisesse decorá-los. Ele queria ter aquele homem para o resto da vida, não suportaria perdê-lo. O simples pensamento de algo assim acontecendo o fez se agarrar mais forte no abraço, acordando o que dormia. 

 - Está tudo bem? - Jônatas se despertou assustado.

- Está sim, eu apenas tive um pensamento ruim - Davi olhou para os olhos curiosos de Jônatas - Você dormiu bem? 

- Claro que sim - Jônatas respondeu - Como eu não poderia dormir bem se estou ao seu lado? 

- Deixa de ser brega, Jônatas! - Davi disse se levantando da cama e indo até o banheiro.

- Você falou sério ontem? - o outro perguntou 

- Sobre você não poder morar aqui? - Davi gritou do banheiro - Falei muito sério sobre isso, sim - Davi voltou para o quarto e começou a trocar a roupa - Samuel concorda comigo. 

- Davi, eu sei que meu pai é perigoso - Jônatas se levantou e abraçou o outro por trás - Mas eu não quero ficar longe de você. 

- Você é muito grudento, que coisa mais chata - Davi começou a rir - Nós podemos nos ver todo final de semana, não vai ser tão difícil assim. 

Contudo, assim que Davi se virou para olhar nos olhos de seu namorado, percebeu que sentiria muita falta de acordar ao seu lado. Seu ódio por Saul aumentava a cada dia, por mais que Davi não gostasse de nutrir ódio por ninguém. 

 Logo depois de tomarem o café da manhã, os jovens foram para a porta da mansão. Samuel buscou Davi, como haviam combinado anteriormente. 

- Tchau, amor, te vejo mais tarde - disse Davi para Jônatas, cujo carro estava parado na esquina - Bom dia, Samuel - Davi disse entrando no carro. 

- Entra logo no carro, Davi.

- Está tudo bem? 

- Não, não está nada bem - Samuel estava tremendo um pouco, com as pupilas dilatadas - Venho grampeando o telefone de Saul, Davi - Samuel respirou fundo e engoliu em seco - Ele encomendou sua morte.

- Como assim, Samuel? - Davi estava confuso. 

- Ele mandou o capanga dele te matar - Samuel começou a dirigir - Você não está seguro aqui, vou precisar te mandar para outro lugar - Samuel estava muito sério - Sei que você está assustado agora, mas por favor, confie em mim, tudo bem? 

- Sim, eu confio em você. 

 Samuel dirigiu por algum tempo até o seu apartamento, deixando Davi aflito. Chegando lá, subiram até o terceiro andar. Antes que Samuel abrisse a porta de sua casa, Davi conseguiu escutar mais uma voz dentro do apartamento, inclusive uma muito familiar.

- Precisamos chamar a polícia, Daniel - Jônatas afirmava, com os punhos fechados. Assim que viu Davi entrando pela porta, correu até ele e o abraçou bem forte. 

- Como você chegou aqui antes de mim? - Davi perguntou, confuso.

- Viemos pelo caminho mais longo, Davi - Samuel disse enquanto tocava o ombro do namorado Daniel em um gesto de carinho -  Para despistar alguém que pudesse estar te seguindo.

- Daniel estava na esquina, ele que me trouxe aqui e me explicou tudo - Jônatas continuou - Deixei meu carro lá.

- Certo - disse Davi, um pouco menos confuso - Mas vocês ainda não chamaram a polícia? 

Jônatas olha de relance para Daniel, numa expressão de "Eu não te avisei?" ao que é respondido com um olhar de desaprovação de Samuel.

- Nós não podemos chamar a polícia - o advogado explica - Saul é influente demais. Ele conseguiu encobrir seus traços no assassinato de Obede - Samuel respira fundo - Não podemos facilitar para ele. Tenho motivos para acreditar que a polícia ajudou ele a encobrir alguns dos rastros. Confiem em mim, por favor.

Até aquele momento Jônatas não havia realmente entendido o tamanho da ameaça que Saul representava. Ele sempre teve medo do pai e sabia que ele era capaz de tudo para conseguir o que queria. Contudo, naquele momento Saul ameaçava a Davi e ele não poderia mais ignorar. Ele precisava agir. 

- O que posso fazer? - Jônatas perguntou, de forma confiante - Quero ajudar, Samuel. Sei que você tem um plano, por favor, me deixe protegê-lo. 

- Você não vai se colocar em perigo por mim - Davi respondeu bravo - Nenhum de vocês vão. 

- Nós nos importamos com você, Davi - Samuel sorriu pela primeira vez desde que havia acordado - Temos um plano, Jônatas, e vamos precisar de sua ajuda. 

- Eu não quero que ele participe, por favor - Davi suplicou para Samuel, sinalizando com o olhar algo que os dois entendiam muito bem, o medo de perder quem se ama. 

- Ele não vai estar em perigo, Davi, eu prometo - Samuel segurou sua mão em forma de apoio - Vamos todos ficar em segurança, não se preocupe - afirmou, começando a explicar seu plano. 


Jônatas e DaviOnde histórias criam vida. Descubra agora