Capítulo 6: O jardim

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 - Davi, você está bem? - Jônatas perguntou - Por que você está tão nervoso? 

 Davi não conseguiu responder. Ele estava tão irritado que sentia seu peito arder, como se estive pegando fogo. Ele queria gritar mais com Saul. Muito mais. 

- Davi, pare de andar de um lado para o outro - Jônatas se levantou e segurou Davi em seus braços - Só quero saber o que está acontecendo.

Davi tentou formar palavras, mas não conseguiu articulá-las. Ele sentia um nó se formando em sua garganta e quando menos percebeu estava chorando abraçado à Jônatas. Ele se sentia fraco diante da fala de Saul. 

- Davi, respire fundo - Jônatas não sabia o que fazer e abraçava o outro com força, praticamente o mantendo em pé - Sente-se aqui na cama, por favor - Davi obedeceu - Agora me explique o que está acontecendo, está bem? 

- E...Eu briguei com o seu pai - Davi começou a explicar - Eu e Beatriz estávamos conversando na cozinha quando ele desceu - Jônatas limpou as lágrimas de Davi com as costas da mão - Ele me perguntou para onde eu havia ido hoje de manhã e eu fui sincero. Lhe contei que havia me encontrado com Samuel - Jônatas já imaginava o que Saul poderia ter dito - Ele foi tão arrogante e preconceituoso. Disse que ele era um viadinho. Me disse para ter cuidado, essas coisas. 

- Davi, eu sinto muito. Sei como meu pai pode ser uma pessoa horrível - Eles se abraçaram - Não fique assim, por favor - O jovem beija todo o rosto de Davi, com beijinhos estalados, que fazem os dois rirem - Vamos sair hoje, o que você acha? - Davi encara os olhos castanhos de Jônatas - Só nós dois. 

- Para onde você quer ir? 

- Vamos para a empresa - Jônatas se levanta e começa a trocar de roupa - Lá no último andar do prédio tem uma horta comunitária bem bonitinha. Na verdade, foi criação do seu avô: ele gostava muito de jardinagem. 

 Davi se sentiu feliz por ter isso em comum com Obede. O jovem sempre sonhou em ter uma fazenda para si mesmo, onde pudesse cuidar dos animais e plantar alimento para sua família. Claro que agora esse sonho seria impossível, mas era um alívio para Davi que a jardinagem fosse tão importante para o avô como era para ele. 

 Jônatas pediu o carro da mãe emprestado por mensagem de texto e assim que Emília o liberou, correu para fora de casa, procurando não encontrar Saul. Em poucos minutos estavam no imponente prédio comercial da JudáCorporations. Assim que estacionaram, os dois subiram de elevador até o último andar. 

 Davi não pode acreditar o quão lindo era aquele lugar. Além da vista da cidade de São Paulo, o jardim era um verdadeiro oásis no conjunto cinza que o contornava, trazendo um ambiente acolhedor para a realidade urbana. 

 - Estou vendo que você gostou - Jônatas abraçou Davi por trás, colocando a cabeça em seu ombro - Sei que não é uma fazenda, mas é bem bonito, não é mesmo?

 - Sim, é lindo - Davi abraçou o outro um pouco mais forte - Eu nunca vou me cansar desse lugar.

 Davi se virou para encarar Jônatas e quase sentiu que começaria a chorar novamente. Ao invés disso, o beijou com carinho, como se estivesse agradecendo. 

  Os dois permaneceram no jardim por horas. Entre conversas e alguns beijos eles conversaram sobre seus sentimentos. Os dois se sentiam tão bem junto ao outro, que até mesmo o preconceito de Saul não poderia atrapalhar aquela felicidade. Quando saíram do telhado decidiram voltar para casa, apesar do receio em relação à Saul. Felizmente quando chegaram o homem não estava. 

 Naquela noite eles se amaram. O toque da pele do outro era familiar, trazendo um conforto que nunca haviam sentido. Davi dormiu abraçando Jônatas durante boa parte da noite, sentindo-se alegre e calmo. 

 Durante a semana seguinte Samuel mostrou a Davi como ele deveria conduzir a empresa. O jovem era um rápido aprendiz e impressionou o advogado com seu conhecimento. Ele contava sobre os livros que recebia da igreja da cidade que ficava perto da fazenda e como eles eram boas companhias para os dias de tédio. Além disso, Davi contou que era o melhor aluno de sua escola, antes de ter que abandonar os estudos por conta da morte de seus pais. 

 - Você gostaria de terminar os estudos? - Samuel perguntou 

- Com certeza - o jovem respondeu - É importante para mim. Quero muito ter o diploma do ensino médio - Davi possuía um olhar sonhador - Quem sabe no futuro eu não poderia fazer faculdade também? 

- Qual faculdade você gostaria de fazer, Davi? - Samuel gostaria de ajudá-lo. Ele devia isso ao Senhor Obede. 

- Eu nunca pensei sobre isso, na verdade - Davi olhou para os próprios pés - Acho que eu gostaria de fazer algum curso que me ajudasse a conduzir bem a empresa. Administração, talvez? 

- Isso seria bom, Davi - Samuel se sentiu feliz por ver o jovem abrindo suas expectativas sobre o próprio futuro. No dia em que havia ido buscá-lo, Davi não conseguia acreditar que era neto que alguém importante. Alguém rico! O advogado se lembrava da expressão de confusão no rosto do menino, quando descobriu que seria presidente de uma empresa em São Paulo. Mesmo que houvessem se passado poucos dias, ele já podia perceber que Davi havia mudado. 

 Semanas se passaram e Jônatas aconselhou Davi a fazer um supletivo. Ele poderia estudar para a prova do Encceja, que daria a ele o diploma de conclusão do ensino médio. Além disso, ele também se inscreveu no ENEM, já que estava planejando cursar administração no ano seguinte. Logo após os bens de Davi serem liberados, ele e Jônatas conversaram sobre como manteriam o relacionamento daquele momento em diante. 

 - Por que você não pode ficar aqui comigo? - Davi perguntou - Sei que seu pai já suspeita de nós por causa daquele dia - lembrar da briga que teve com Saul deixava os ombros de Davi tensos - Mas eu não quero ficar longe de você. 

 - Davi, eu também não quero ficar longe de você! - Jônatas o abraçou por trás, encaixando suas pernas ao redor das coxas do outro, enquanto os dois se sentavam na cama king size da suíte principal da mansão - Mas meu pai é louco. Você precisa entender que eu só estou tentando te proteger. 

 - Pelo menos durma aqui comigo essa noite - Davi se virou para ficar de frente e poder olhar nos olhos de Jônatas.

 E Jônatas se perdeu mais uma vez nos lindos olhos escuros de Davi. Ele se sentia hipnotizado toda vez que o olhava. Mais ainda quando o tocava. 

 - Jônatas, pare de me olhar assim! - Davi enterrou sua cabeça no travesseiro, quebrando a breve conexão que tiveram - Não é hora para isso, ok? Tenho que acordar cedo amanhã e você tem aula às 7. 

 Jônatas começou a rir da reação de Davi, o que fez o mais novo ficar irritado. 

 - Não ria de mim, Jônatas - ele o encarou, de forma brava - Por favor. 

 - Davi, eu sou a pessoa que mais te leva a sério, deixe de bobagem - ele acariciou o rosto do outro com a ponta do polegar. 

 - Tudo bem - Davi se enfraqueceu com o carinho - Mas você vai dormir aqui, não é mesmo? 

 - Sim, posso dormir aqui hoje. 

E então ambos se deitaram na cama que parecia grande demais depois de meses dividindo uma de solteiro. Dormiram rapidamente, envoltos num amor jovem e forte. 


Jônatas e DaviOnde histórias criam vida. Descubra agora