A menina que arretou meu coração

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O ginásio estava lotado. Crianças de mais ou menos 6 anos de idade corriam feito loucas estourando piolhinhos e fazendo desenhos pelo o ar com uma varinha acesa conhecida como chuvinha.

No palco uma banda preparava alguns equipamentos para tocar depois das quadrilhas que iriam se apresentar.

Uma mulher com a voz mais fina e desafinada do mundo gritava pelo o microfone para as crianças saírem do centro do palco, pois as apresentações das quadrilhas iriam começar.

E no meio de toda aquela bagunça, Alessandro se encontrava ao lado do seu primo Luiz, que havia o convencido para estar ali naquela noite. Não que ver quadrilhas se apresentando fosse uma coisa muito ruim para quem nasceu no nordeste, mas o garoto havia se mudado para São Paulo ainda novo e alem de não ter mais o contato com os costumes da região nesta época, não conhecia ninguém daquela escola, somente a sua priminha de 7 anos que iria se apresentar a alguns minutos.

Luiz estava conversando com um homem barbudo que vendia doces em uma barraca sobre os festivais que ainda iriam acontecer na cidade naquele mês. Os dois falavam sobre como o mês de junho era cheio de festança, e como eles adoravam se divertir com as músicas raizes que tocavam em cada evento junino.

Alessandro estava impaciente, achava seu primo muito corajoso por conversar abertamente com um estranho, e queria fazer de tudo para sair de perto daquela barraca.

São João não era uma época muito interessante na opinião daquele adolescente de 17 anos. Ele até gostava das comidas típicas e de algumas músicas que escutava sempre quando iria passar as férias do meio do ano na casa do seu primo. Mas não se sentia eufórico demais quando essa época do ano chegava, como muitas pessoas da região.

Talvez, seu desinteresse enorme tivesse ligado ao fato do garoto não conseguir ter sequer um molejo no corpo para dançar forró. Ele se sentia inseguro quando ia aos festivais da cidade e via todos dançando tão bem, como se já nasceram sabendo. Será que ele era um nordestino mal projetado?

Sentia vontade de aprender, e já até tentou com algumas amigas que viram que ele precisava de ajuda. Elas falaram para o mesmo treinar em casa com uma vassoura, mas o coitado era tão duro que não conseguia se soltar nem com aquelas garotas de cintura solta, quanto mais com algo duro que nem ele! Talvez nada resolvesse o seu problema.

Depois de assustar todas as crianças com seus gritos, a mulher com a voz fina - que depois de uns minutos, o Alessandro descobriu que a mesma era a diretora da escola - anunciou o início das apresentações. Alessandro viu a oportunidade perfeita para sair de perto daquela barraca e levar o seu primo junto com ele.

"Luiz, vamos para o pátio! As quadrilhas já vão se apresentar. A da sua irmã vai ser uma das primeiras, não é?" O garoto de olhos verdes olhou para o Alessandro e assentiu com a cabeça, se despedindo educadamente do senhor barbudo e indo em direção a aglomeração de pessoas que se instalava próximo ao centro do pátio.

A diretora da escola estava dando algumas orientações - como não passear no centro do pátio - as pessoas que estavam assistindo antes de anunciar o nome da primeira quadrilha.

"E com vocês, a nossa quadrilha Brotinhos de girassóis!" Exclamou a senhora de cabelo curto se afastando do centro.

Uma música começou a tocar nos altos falantes que estavam pendurados nas paredes do ginásio e várias criancinhas de mais ou menos 3 ou 4 anos surgiram no meio do pátio em uma fila indiana dançando alegremente vestidas com roupas temáticas, fazendo jus ao nome da quadrilha por serem mesmo uns brotinhos.
As meninas balançavam seus vestidos na maior vontade e os garotos batiam os pés com força no chão.

A menina que arretou meu coração [concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora