VOLUME 2, CAPÍTULO 13

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Emma continuou a acreditar que estava apaixonada. Sua ideia apenas mudava em relação à extensão desse amor. No início pensou que fosse muito, mais tarde achou que era pouco. Tinha grande prazer em ouvir falar dele. E, por afeto a ele, tinha um prazer ainda maior em visitar Mr. e Mrs. Weston. Pensava nele frequentemente e estava impaciente por receber uma carta, para que pudesse saber como ele estava, qual era seu estado de ânimo, como estava a tia dele, e qual era a chance dele vir a Randalls de novo nesta primavera. Mas, por outro lado, não podia admitir que estivesse triste, nem, após a primeira manhã, que estava menos disposta para suas atividades habituais. Continuava ocupada e alegre, e apesar do quanto ele era agradável ela podia ainda imaginar que Frank Churchill tivesse defeitos. E, mais do que pensar muito nele, enquanto se sentava para desenhar ou trabalhar, criava milhares de esquemas divertidos para o progresso e o fim do seu relacionamento; imaginava diálogos interessantes e inventava cartas elegantes; a conclusão de cada declaração imaginária da parte dele era que ela o recusava. O afeto deles sempre se transformava em amizade. Cada cena terna ou encantadora era para marcar sua separação, e sempre deviam se separar. Quando percebeu isso, ocorreu-lhe a ideia de que não devia estar assim tão apaixonada, pois, a despeito de sua prévia determinação de jamais deixar o pai, de nunca se casar, um afeto de fato profundo devia provocar uma luta interna maior do que ela podia adivinhar em seus próprios sentimentos.

"Não posso me imaginar fazendo uso da palavra sacrifício" pensava Emma. "Em nenhuma das minhas respostas inteligentes, minhas delicadas negativas, há alguma alusão a sacrifício. Suspeito que Frank Churchill não seja realmente necessário para a minha felicidade. Tanto melhor. Não vou me persuadir a sentir mais do que sinto, com certeza. Estou amando o suficiente, e lamentaria se estivesse mais."

De forma geral, ela estava igualmente contente com sua visão dos sentimentos dele.

"Ele certamente está bem mais apaixonado, tudo denota isto. Bem mais apaixonado, de fato! E quando ele voltar, se a afeição dele permanecer, devo cuidar para não encorajá-lo. Seria imperdoável fazer outra coisa, já que estou bastante decidida. Não que eu imagine que algum dia o tenha encorajado. Não, se ele acreditasse que eu correspondia aos seus sentimentos, não estaria tão infeliz. Se estivesse se sentisse encorajado, seus olhares e palavras ao partir teriam sido diferentes. Ainda assim devo ficar atenta. Isto na suposição de que seu afeto continue como está agora, mas não sei se continuará. Não consigo vê-lo como esse tipo de homem. Também não consigo confiar na sua firmeza ou constância. Seus sentimentos são ardorosos, mas acho que mudam muito. Em suma, qualquer consideração que eu faça sobre esse assunto, me faz agradecer pela grande felicidade de não estar mais profundamente envolvida. Devo me sentir muito bem de novo, depois de algum tempo. E, então, isso será uma boa lembrança. Dizem que todos amam pelo menos uma vez na vida, e devo deixar que esse amor se acabe naturalmente."

Quando chegou a carta de Frank Churchill para Mrs. Weston, Emma a leu com muita atenção. E sentiu tal prazer e admiração ao lê-la, que primeiro sacudiu a cabeça ao pensar em suas próprias sensações, imaginando que subestimara a força do que sentia. Era uma carta longa e bem escrita, explicando os pormenores da viagem e dos sentimentos dele; expressando toda a afeição, gratidão e respeito, o que era natural e honrado; e descrevendo com espírito e precisão cada detalhe exterior e local que pudesse ser considerado atraente. Não havia nenhum indício de desculpas ou preocupação. Era a expressão de real sentimento por Mrs. Weston. E a transição de Highbury para Enscombe, o contraste entre os dois lugares em algumas das primeiras bênçãos da vida social eram mencionados de forma breve, apenas o bastante para mostrar quão profundamente ele as sentia, e quanto mais ele diria, se não fossem as restrições apropriadas. O charme de seu próprio nome não fora esquecido. Miss Woodhouse aparecia mais de uma vez, e nunca sem alguma conexão agradável, seja um cumprimento ao seu gosto, ou uma lembrança de algo que ela havia dito. E na ultima vez em que se seus olhos se haviam encontrado, quando haviam expressado os sentimentos dele sem nenhuma galanteria, ela ainda podia distinguir o efeito da sua influência e modo de pensar, o que era o maior cumprimento de todos. Comprimidas no último canto vazio da folha de papel estavam estas palavras "Não tive tempo na terça, para despedir-me da bela amiguinha de Miss Woodhouse. Por favor, mande-lhe minhas desculpas e despedidas." Isso, Emma não podia duvidar, era para ela mesma. Harriet era lembrada apenas por ser amiga dela. As informações e projetos dele para Enscombe não eram nada mais do que Emma havia antecipado. Mrs. Churchill estava se recuperando e ele não ousara ainda, mesmo em pensamento, fixar uma data para seu retorno a Randalls.

Emma (1815)Onde histórias criam vida. Descubra agora