VOLUME 3, CAPÍTULO 9

196 37 1
                                    

As meditações de Emma, enquanto caminhava de volta para casa, não foram interrompidas. Mas, ao entrar na sala, encontrou aqueles que deviam provocá-las. Mr. Knightley e Harriet haviam chegado durante a sua ausência, e estavam sentados com seu pai. Mr. Knightley levantou-se de imediato e, de modo decididamente mais grave do que o habitual, disse:

– Eu não partiria sem que pudesse vê-la, mas não tenho tempo a perder, e daqui estou partindo diretamente. Vou a Londres, passar alguns dias com John e Isabella. Você tem alguma coisa a mandar ou dizer, além do "amor" que não é preciso carregar?

– Não, não tenho nada. Essa não é uma decisão muito repentina?

– Sim, um pouco... Andei pensando nisso por algum tempo.

Emma tinha certeza de que ele não a havia perdoado, nem parecia o mesmo. O tempo, todavia, iria mostrar-lhe que deviam voltar a ser amigos. Enquanto o cavalheiro estava de pé, como se pretendesse ir embora, mas sem conseguir sair... Mr. Woodhouse começou com suas perguntas.

– Bem, minha querida, conseguiu chegar lá a salvo?... E como estão minha boa e velha amiga e sua filha?... Garanto que ficaram encantadas com sua visita. A querida Emma foi visitar Mrs. e Miss Bates, Mr. Knightley, como eu já lhe disse. Ela é sempre tão atenciosa com as Bates!

Emma ficou ruborizada diante desse elogio que não merecia. Então, com um sorriso e um meneio de cabeça, que diziam muito, olhou para Mr. Knightley... Pareceu-lhe que houvera uma impressão instantânea a seu favor, como se os olhos dele captassem a verdade nos olhos dela, e tudo de bom que havia nos sentimentos dela fosse, ao mesmo tempo, percebido e apreciado. Seus olhos a fitaram com um brilho de afeição. Ela ficou muito grata, e essa gratidão aumentou no momento seguinte, quando ele fez um movimento que mostrava mais do que amizade... Tomou a mão dela... se fora ela que fizera o primeiro movimento, Emma não saberia dizer, talvez tivesse oferecido a mão... Ele então a pegou, apertou-a e certamente estava a ponto de levá-la aos lábios, quando de repente desistiu por algum motivo. Ela não podia entender porque ele sentira tal escrúpulo, porque mudara de ideia quanto já tinha chegado quase ao ponto de beijar-lhe a mão. Talvez houvesse pensado melhor, imaginou Emma. Era indiscutível, no entanto, que a intenção existira. E fosse porque Mr. Knightley, de forma geral, não era dado a galanteios, fosse por qualquer outra coisa que acontecesse, ela achou o gesto adequado. Era próprio dele, com sua natureza tão simples e ao mesmo tempo tão digna. Emma só podia lembrar com grande satisfação daquele impulso contido, pois mostrava uma perfeita amizade. Mr. Knightley partiu em seguida... saiu rapidamente. Ele sempre agia com a vivacidade característica de sua mente, que não era indecisa nem hesitante, mas no momento da partida sua atitude pareceu ainda mais decidida do que o normal.

Emma não se arrependia de ter ido visitar Miss Bates, mas desejava ter saído de lá uns dez minutos antes. Teria sido um grande prazer falar sobre a situação de Jane Fairfax com Mr. Knightley. Também não poderia lamentar a partida dele para Brunswick Square, pois sabia o quanto sua visita seria apreciada, mas poderia acontecer em uma ocasião melhor; e se tivessem conhecimento dela antes, a visita seria mais apreciada. Eles se separaram como amigos, no entanto, e ela não poderia se enganar sobre o significado da expressão dele e do galanteio não concluído. Tudo fora feito para assegurar-lhe que recuperara completamente seu bom conceito junto a ele. Soube que Mr. Knightley estivera em Hartfield por meia hora. Era uma pena que não tivesse retornado antes!

Na esperança de distrair o espírito de seu pai do desagrado da partida de Mr. Knightley para Londres – e de forma tão rápida, e ainda por cima a cavalo, o que ela sabia que tornaria tudo pior – Emma contou as novidades sobre Jane Fairfax. Sua esperança no efeito dessas notícias foi justificada, pois forneceu um assunto muito útil e interessante que não perturbava o velho senhor. Há muito tempo ele já aceitara a ideia de Jane Fairfax tornar-se governanta em outro local, e pôde falar disso com satisfação. Mas a ida de Mr. Knightley para Londres era um golpe inesperado.

Emma (1815)Onde histórias criam vida. Descubra agora