🌺

169 27 62
                                    

gaivotas beijavam o mar de maneira singela conforme o sol ia lentamente se esvaindo de nossos olhos profundamente vazios em todos os aspectos. eu olhava para changbin e changbin assistia o apocalipse antagônico dentro dos meus globos oculares vazando um tom saturado de rosa, quase um laranja muito próximo do que costumávamos chamar de felicidade.

agora, mal consigo me concentrar em beijar loucamente seus lábios do mesmo jeito que as gaivotas graciosamente descontroladas voejavam sob as ondas do mar num constante prelúdio, uma constante prévia da calmaria que a humanidade dentro de seus parâmetros possíveis conseguiria alcançar, porque tudo ultimamente tem aquele gosto infeliz ao paladar; aquele sabor azedo e amargo ao mesmo tempo, nos dizendo que coisas nem sempre são pratos cheios para conquistas concretas, mesmo que esteja ao mesmo tempo, gritando em nossos ouvidos constantemente fartos de toda essa baboseira.

e então, changbin se encontrava inerte na varanda do hotel analisando novamente a adolescência que tivemos: liberdade, amor e as maiores ondas do mundo banhando nossos corpos dourados de crianças havaianas que se beijam em luais enquanto trocam confidências inocentes sobre flores bonitas em seus cabelos loiros cor do sol e suas desgastadas pranchas de surfe.

o vento soprava numa sinfonia confortável lá fora. o clima estva abafado, mas não o suficiente para que nos incomodasse de alguma maneira. o mar estava calmo e as palmeiras balançavam numa dança sincronizada; inumana, mas ainda assim, natural.

o céu estava vazio, entretanto. não completamente, claro, afinal de contas, as estrelas nunca somem do nosso campo limitado de visão. sento ao lado de changbin no parapeito da sacada, nossos pés livremente balançando pelo ar da noite. seu corpo estava quente, seus olhos abrigavam os tons de laranja que as cerimônias de envelhecimento arrancaram da nossa juventude antes de avisar sobre a maré ter subido e o tempo ter deixado por algum inverno rigoroso, que os surfistas abandonassem suas flores para que cachecóis adornassem seus pescoços agora pálidos.

changbin não me disse uma palavra sobre a sua inquietude.

naquela noite eu sonhei com uma lenda infantil sempre recitada como cantiga em festivais de verão.

quando acordei, changbin escondia seus tons alaranjados em conchas variadamente mágicas. senti a nostalgia percorrer meus ossos ocos até o infindável bater do meu coração que se apagava as vezes por falta de emoção.

- ouvi falar sobre uma lenda...

- você lê pensamentos ou é um intruso qualquer?

- foi o mar que me contou.

seo changbin, afinal de contas, jamais seria uma gaivota, e eu estava feliz demais por poder tocar- lhe o rosto enquanto atrelo seus olhos às cores do céu e a cor dos seus lábios à flores escarlate que brotavam pertinho da praia.

eu tive um sonho sobre conchas mágicas e lamúrias felizes do mar azul. quando changbin beijou meus lábios, todos os ossos do meu corpo tremeram.

o mar também me contou um segredo, mas dessa parte ninguém se lembra direito.

CRIMSON HAWAII WAVESOnde histórias criam vida. Descubra agora