Em uma lanchonete pacata e familiar, num dia friorento, com o sol morno do entardecer e o som da mais nova tecnologia moderna das bicicletas motorizadas movidas à gasolina, Ranpo se deliciava com um belo e cremoso milkshake de doce de leite com cobertura de morango, sentado confortavelmente numa das seis cadeiras de plástico branco do ambiente e observando atentamente a entrada da lanchonete.
Estava há espera de um certo alguém que, coincidentemente, sempre frequentava tal local para se reabastecer de uma bela cachaça 51. Um ótimo pretexto para um encontro casual.
Quando o sorvete batido já estava chegando ao fim e Ranpo cogitava certeiramente em pedir ao atendente por mais um – dessa vez, talvez um de morango – um homem alto, cabeludo, com evidente cansaço e sem seu guaxinim a tiracolo, entrava na lanchonete, logo percebendo Ranpo e seu milkshake quase escasso.
Com um amplo sinal de mão por parte de Ranpo, Poe se aproximou de sua mesa, um tanto acanhado e fatigado, mas ainda assim, sutilmente eufórico.
— Não imaginava que um gato como você fosse um cachaceiro. – Poe vacilou um pouco na cadeira que acabara de se sentar, um rubor denso se espalhando por ambas bochechas.
— E-e-eu... b-b-bom, não é b-b-bem assim haha... e eu n-n-não bebo tanto, também... – Poe afagava as bochechas de uma forma incrivemente fofa aos olhos sagazes de Ranpo. Edogawa sentiu uma súbita vontade de tocar seu rosto, mas não era o momento. Ainda não.
— Edgar do céu, fica tranquilo, eu ‘tava brincando! – dizia Ranpo, rindo todo largado como era de praxe – Pelo menos na parte da cachaça. – se recompondo, Ranpo manteve os olhos fixos no olhar levemente envergonhado de Poe, o qual retribuía com a mesma intensidade.
Ambos já estavam nessa de flertarem descaradamente sempre que viam um ao outro, mas até agora não tinham evoluído muito, tirando o fato de que Ranpo estava sendo cada vez mais ousado – para os seus próprios parâmetros – e Edgar com seu olhar 43 misterioso.
— B-bom, eu tenho um novo capítulo de Os Assassinatos na Rua Morgue. Se quiser ver... – com o menear afirmativo de Ranpo, Poe desviou o olhar, enquanto remexia em sua bolsa e tirava um maço de papéis pardos. Quando entregou-os ao seu companheiro de mesa – e de mistérios inacabados – Edogawa fez questão de tocar em seus dedos. O sorriso de Edgar não conseguia disfarçar como tal ato deixou-o contente. Ranpo abriu o manuscrito na prévia marcação e leu o texto destacado, pronunciando em bom tom um dos parágrafos que lhe chamou atenção.
— “Nunca um assassinato tão misterioso, tão intrigante em todos os seus pormenores, foi cometido antes em Paris - se é que se trata de um assassinato”. – Edogawa denunciava um leve sorrisinho de antecipação, já prevendo o verdadeiro autor de tais crimes brutais – Espero que não haja primatas homicidas nesse conto, Edgar. Ficaria um tanto decepcionado.
O rosto de Poe denunciava que, outra fatídica vez, fora superado. Mesmo que não fossem vários animais compostos na história, ainda assim Ranpo desvendou seu curto mistério. Percebendo seu olhar um tanto desanimado, Ranpo tentou levantar um pouquinho sua moral.
— Bem, pra uma história tão curta, acho que valeu a surpresa no final. – disse Ranpo, de forma a acalentar um pouco o triste Poe – Mas, espero que me traga mais mistérios que possam sustentar meu requintado vício para deduções. – sua risadinha esnobe quebrava o clima de acalento, mesmo sendo muito gostosa aos ouvidos de Edgar, ficando novamente corado.
Depois de tanto tempo juntos, resolvendo mistérios e criando novos enredos literários, era natural que acabassem se afeiçoando um ao outro. Mas, se apaixonar? Era algo novo para si. Não estavam um tanto velhos para essa história de primeiro amor e os caralho a quatro?! De qualquer maneira, eram adultos o suficiente para por as cartas na mesa e confessarem seus respectivos sentimentos. Só que... para Edgar, não era tão simples como na teoria. Bom, Poe teria que começar por algum lugar.
— Quer ir lá em casa? Assim, pra me i-inspirar um pouco e dar um oi pro Karl? – mesmo sendo óbvio as suas verdadeiras intenções com aquele convite, Ranpo aceitou-o de bom grado – até porque seu apartamento estava uma completa zona, sem condições de levar Poe para lá.
— Claro que sim! Então vai deixar a cachaça pra depois? – implicava Ranpo enquanto jogava o copo vazio do milkshake no lixo ao lado, logo se levantando de seu assento com o manuscrito abraçado ao peito. Mesmo não sendo um conto tão desafiador, ainda era de Edgar e isso já bastava.
Poe apenas sorriu, enigmático, indo até o atendente e pedindo uma 51 para viagem. Achando graça, Ranpo seguiu direto para a saída, sem muita noção de rumo, mas esperando por Edgar no lado de fora.
Inspirado por uma traquinagem momentânea, assim que avistou Poe chegando perto de si, resolveu também tomar alguma iniciativa. Parou na frente de Edgar e, nas pontinhas dos pés, estalou uma bitoca em seus lábios.
Para sua surpresa, Edgar sorriu mais genuinamente que o esperado, mesmo com as bochechas persistindo em avermelharem. Ranpo também sorriu e, olhando nos alhos, já sabiam o óbvio: estavam apaixonados e era um sentimento mútuo.
— Vamos? – disse um saltitante Ranpo, se aprumando e seguindo ao lado de Poe em direção a sua casa. E na mente de Edgar haviam dois pensamentos latentes: o quanto o beijinho de Ranpo era doce e o quanto estava ansioso para chegarem em casa e avançarem nessa nova relação de pombinhos apaixonados.
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Primeiro Amor
Fanfiction"Onde Edgar e Poe estão apaixonadinhos e uma bitoca tem sabor de doce de leite." ♡°•♡•°♡°•♡•°♡°•♡•°♡°•♡•°♡°•♡ Oiiiiii~ Essa é uma fic para o divino Desafio do Mês do Orgulho LGBTQIA+, lá do grupo babadeiro do face, o Esquadrão da Escrita, tendo tema...