Capítulo 04: Kiseki

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Coreia do Sul, Terra

1992

Antes de partirem, Rei exigiu que ele fizesse a despedida honrosa que a Raimei fazia para os irmãos que tinham caído em combate. Min-ji não gostou muito, afinal, eles eram seus inimigos e ela podia muito bem comer o fígado de cada um deles, mas por fim, aceitou. Ela fez com que seus jug-eungs os enfileirassem no chão próximos uns aos outros.

Um a um, Rei abriu a parte de cima de seus quimonos, revelando o Inazuma de cada um deles. Ajoelhou-se ao lado deles e depositou dois dedos sobre o símbolo, recitando com o respeito, a gravidade, a solenidade e a importância que essa sequência de palavras possuía:

Anata ga kita kage kara, anata ga modotte kuru kage e. – Palavras em japonês que, para o coreano, traduziam da seguinte forma: das sombras tu vieste, para sombras tu voltarás.

Do Inazuma nascia uma sombra, uma fumaça preta fosca, que envolveu o corpo completamente. Quando ela se dissipou, o cadáver já não estava mais ali. Ele repetiu o processo mais vinte e duas vezes. Assim, seus irmãos de armas conseguiriam paz em qualquer que fosse o lugar para onde iriam depois da morte – sim, ele sabia da existência do Paraíso e do Inferno, mas também sabia que uma alma poderia evitar ir para ambos; a Raimei com seu Inazuma era um desses meios.

Min-ji, impaciente, depositou as duas mãos sobre os ombros de Rei, dizendo para ele se concentrar no lugar aonde deveriam ir, mas que deveria tomar cuidado com proteções mágicas, ou eles poderiam acabar se destruindo. Por isso, ele pensou na rua logo a frente da casa de chá, ao invés da parte de dentro.

Rei não saberia explicar como eles havia chegado ao lugar onde estavam Sook e Hyo. Min-ji instruíra que ele não tirasse os olhos dos dela; ele não sentiu coisa alguma, não sentiu a magia correndo em volta deles, sua visão não se tornou um borrão nem nada semelhante. Um segundo ele estava no castelo, no outro, na calçada da casa de chá – por pouco, não acertando alguém. Ele ouviu uma pessoa do outro lado da rua soltar um gritinho de susto.

Kanan os recebeu no salão principal, com um sorriso. Ele pediu o medalhão de volta, o qual Rei entregou sem problemas depois de retirar de seu pescoço. Eles encontraram as Gumihos onde Rei as tinha deixado, apesar de que Sook estava com o rosto mais quente e corado. Hyo estava sentada em uma mesa, lendo um mangá que Jae-ho tinha trazido para ela.

– Então prontas? – Min-ji perguntou, com certo carinho na voz. As duas concordaram; Min-ji acrescentou: – Eu só posso levar uma pessoa por vez.

– Eu irei primeiro – Rei disse –, assim ela aprenderá onde é o lugar e poderá levar vocês em seguida. Primeiro Hyo, já que ela não pode ficar sozinha – a menina fez um protesto, mas os adultos ignoraram – e depois Sook.

Eles concordaram com o plano. Outra vez, Min-ji colocou a mão nos ombros de Rei, que se concentrou no destino. Como da outra vez, ele se perdeu no olhar vermelho-rosado. Sem qualquer sinal, eles desapareceram, e ressurgiram no meio de uma floresta, mais especificamente, em uma estrada de terra; logo atrás deles, estava um portão. Ele esperou alguns minutos para que as duas Gumihos surgissem.

Hyo tinha os olhos colados no portão duplo, gigante, feito de ferro. Rei não tinha como julgá-la, pois o portão era imponente, apesar de não estar preso em um muro e qualquer um poderia simplesmente contorná-lo para entrar na propriedade. Tinham cinco metros de altura, pelo menos, cada uma das portas tinha um escudo de metal com uma águia careca desenhada. No arco do portão havia uma placa feita do mesmo metal estava pendurada sobre ele. Nela havia palavras na língua do país em que estavam, o português.

– O que está escrito? – Hyo disse, deslumbrada.

– Colégio Católico Padre Andersen. – Min-ji disse, para surpresa de Rei.

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