1 é pouco, 2 é bom, 6 é demais

2.8K 321 160
                                    

O carro seguia lentamente pela avenida movimentada e, sentado no banco do carona, Zoro olhava de modo impaciente para o relógio de pulso de três em três minutos. Tinha pedido um motorista no Uber com a intenção de não correr riscos de chegar atrasado ou se perder, mas houve um engarrafamento terrível por causa de um protesto sobre lixo jogado pelas janelas de automóveis e por causa disso ficaram presos por mais de hora no mesmo trecho.

Zoro bufou e leu um letreiro aleatório de pizzaria. O plano inicial era buscar Sanji no aeroporto, visto que estava voltando de viagem, e irem juntos de lá para a casa da mãe dele. Como não deu certo, recombinaram de irem direto para a casa da mãe de Sanji, cada um arranjando um meio de ir. Era a primeira vez de Zoro indo lá, por isso havia uma certa tensão em seu corpo.

Namorava Sanji há mais de dois anos e estavam noivos há quatro meses. E nesse meio tempo nunca conhecera familiar algum de Sanji. Inicialmente Zoro não estranhou muito, pois ele mesmo tinha alguns parentes com quem não se dava bem e, portanto, não apresentou seu noivo a eles. Os únicos que realmente considerava e que levou Sanji para conhecer pessoalmente foram seu pai, sua avó e sua irmã. Aquele era de fato seu núcleo familiar.

No entanto, até onde sabia, Sanji não estava brigado com a família. Vez ou outra ficava sabendo que ele ia em reuniões familiares, as vezes até em viagens durante feriados! Mas só começou a suspeitar que tinha algo errado quando noivaram. Sanji se tornava evasivo a qualquer menção de convidar sua família para o casamento que ainda não tinha data marcada, também não conversava muito sobre seus parentes de modo espontâneo. Foi então que Zoro, já formando teorias sobre a questão, lhe interrogou certa noite:

— Você não me quer perto de sua família? — não queria parecer tão ofendido, mas foi inevitável o tom em sua voz.

Sanji, que estava pesquisando detalhes para os novos figurinos que produziria, retirou o cigarro dos lábios e o encarou parecendo pensar no que dizer.

— Não é bem isso. Na verdade, estou lhe poupando de conhecê-los. Meus irmãos são um pouco... Estúpidos... — confessou, encabulado.

Zoro só conseguiu erguer a sobrancelha de tão estranha que achou a resposta. Afinal, quem é que não tinha um ou dois parentes estúpidos? Isso não era lá um motivo forte para não serem apresentados, mas não retrucou. Deixou que Sanji decidisse como lidar com a situação. Entretanto, poucos dias depois foi informado que o aniversário da mãe de Sanji se aproximava e que ela pedira para conhecê-lo. Sem ter como evitar mais esse encontro, Sanji, resignado e nem um pouco satisfeito, marcou um almoço de domingo com a família.

Zoro não podia negar que estava curioso para conhecer essa família que Sanji mantivera oculta por tanto tempo. Deveria, inclusive, já ter chegado em seu destino e conhecido eles, mas constatou pelo relógio que já passada das 13 horas...

Quanto tempo ainda ficaria preso dentro daquele maldito carro?!

Desviou o olhar da suspeita rua onde estavam passando e olhou de soslaio para o motorista, franzindo o cenho. Ele sabia mesmo o que estava fazendo? No aplicativo, além de lhe indicar que seu nome era Luffy, também dizia que era um ótimo motorista, mas estava sendo difícil de acreditar quando ele guiava o carro ignorando totalmente as indicações do aplicativo de navegação por voz. Além disso, estava a uns bons minutos cantando, numa voz desafinadíssima, uma música de sua própria autoria.

Luffy, o motorista de Uber cinco estrelas, desafinou num agudo sem se preocupar com a audição alheia, enquanto entrava com o carro numa rua que mal tinha espaço para o automóvel. Passaram raspando por uma lixeira de metal grande, saindo em seguida numa rua mais ampla de um bairro residencial. Quando Zoro abriu a boca para reclamar, o carro parou em frente a uma casa que parecia ter saído direto de um comercial de margarina onde tudo é perfeito: grama bem verdinha, cerca de madeira separando a calçada do terreno da casa, um belo jardim florido embaixo das janelas frontais, um caminho de pedra sem nada fora do lugar e uma porta que parecia ter sido pintada ontem de tão lustrosa.

Jantar a seisOnde histórias criam vida. Descubra agora