Segunda Chance

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Quando Geralt chegou as coordenas expressas na carta ficou estarrecido. Imaginava o covil terrível de alguma criatura ou humano. Não esperava encontrar uma gentil casa de dois andares, com flores crescendo em suas paredes, combinando com o jardim que a rodeava. Para completar havia o som de ondas do mar ao fundo, tornando toda a paisagem muito pacífica. O bruxo desconfiou, mas o seu medalhão de lobo não reagiu, o que era um indicativo que não havia magia ou seres sobrenaturais nas imediações.

O seu medalhão e a paisagem não fizeram que o bruxo baixasse a sua guarda. Pelo contrário, com a espada em punho, ele avançou para a casa. Yennefer não iria fazer uma travessura, era mais de o feitio da feiticeira criar outro tipo de punição...Normalmente tais punições envolviam longas e maçantes missões, com poucos monstros e mais quebra-cabeças e jogos de lógica. Algo para humilhá-lo intelectualmente.

Com cautela ele abriu a porta só para encontrar...

— Oh! Pelos deuses, você fede! — declarou um jovem de cabelos castanhos e estonteantes olhos azuis. Entretanto, o que realmente chamou atenção foi dois fatos. O primeiro era que o rapaz estava usando apenas suas roupas de baixo, deixando bastante evidente seu esguiou corpo sem nenhuma cicatriz. O segundo era que Geralt foi invadido por uma sensação de nostalgia, como se aquele garoto fosse um velho conhecido. Será que era filho de alguém de seu passado? Não conseguia se lembrar.

— Não me falaram que você viria tão cedo... — continuou falando o rapaz, claramente embaraçado pela as suas condições — Digo, a Yen...

— Você conhece a Yennefer?

— Geralt? — agora o jovem parecia irritado — Olha, eu sei que a Ciri pode ter exagerado um pouco nessa onda de "rejuvenescimento"...Eu disse para ela que queria voltar a época em que nós nos conhecemos! Mas ela não me deu ouvidos, ou melhor, ela não sabe de fato controlar o seu poder! E assim, ela me colocou no corpo da minha versão universitária! Acho que entendo a sua confusão. Eu era um magrelo meio desengonçado... Nada parecido com o meu formoso eu mais maduro! Minha voz nem tinha amadurecido, sabe? Ainda tenho aqueles falsetes esganiçados da puberdade. Imagine como eu era ridicularizado na Universidade de Oxenfurt!

Geralt piscou uma vez e depois mais outra. Aquele tagarelar lhe era familiar.

— E por que está com essa espada levantada? Eu esperava outra coisa estivesse levantada... — deu uma risada nervosa — Nossa, isso saiu tão pornográfico... Desculpe, faz um certo tempo desde que eu fiz essas coisas. Digo, cantadas, sabe? Eu estou meio na abstinência, sabe? Eu tenho que parar de falar sabe...Eu sou um poeta! Eu devia ter uma lista de palavras românticas e melosas para conquistar o coração de qualquer jovem donzela, mas eu não sei que palavras eu devo dizer para um homem!

— Jaskier?

O jovem sorriu e agora Geralt podia ver a clara semelhança entre o seu bardo preferido e aquele "garoto" recém ingresso na vida adulta.

— Demorou, bruxão. — piscou divertido.

— Como posso ter certeza... Você pode ser um tipo de doppler ou mesmo estar sob o efeito de um feitiço de roubo de identidade. — disse isso sem abaixar a espada. Já tinha sofrido diversas decepções no passado, já estava acostumado a ser pessimista. Ter Jaskier ali, depois de anos de separação? E jovem? Só podia ser brincadeira... O destino de Geralt de Rívia parecia estar escrito que coisas boas não iriam ocorrer com ele. Já estava resignado a tal destino.

— Triss me avisou que você poderia desconfiar... — disse aquele que se autodenominou Jaskier — Eu até entendo. Quando me olhei no espelho a primeira vez, quase tive um ataque cardíaco. Pois bem, acho que devo revelar coisas especificas sobre mim para te fazer acreditar...

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