Prólogo

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Andando de um lado para o outro, não sabia o que fazer e estava à beira do maior ataque de nervos pelo qual já havia passado em toda sua vida. Sentada na cama a maior ameaça que sua carreira recém de colada poderia enfrentar, e ele se recusava a olhar de novo como se isso ajudasse na resolução do problema ou o fizesse desaparecer.

Como se fosse um pêndulo, passou a mão pelos próprios cabelos curtos, quase os arrancando em surto. Não parava quieto e só faltava arrancar pedaço de seus tênis caríssimos emprestados por uma loja de grife de tanto que os esfregava no chão nessa lenga-lenga, parando, ainda nervoso, e encarando de uma vez seu problema em forma de gente.

De onde aquela desgraça de camareira havia saído justo quando falava com seu irmão? Agora todo o segredo que estava escondendo muito bem durante anos estava prestes a ser exposto para todo o Brasil, pois era óbvio que aquela garota que enrolava uma das mechas de seu cabelo mal descolorido no dedo com uma cara de tédio pavorosa espalharia para Deus e o mundo o que ouviu.

Como a grande ardilosa que parecia ser, ela ainda sorriu falsa e isso foi assustador. Puta merda, tinha se fodido legal. Conseguiu imaginar como estariam as manchetes de tablóides de fofoca e o tal vídeo que ela gravou estampando os trends do Twitter e espalhados pelos mais variados Instagram’s de fofoca. Hernane Noites ia comer seu cu em rede nacional e enfim destrui-lo como sempre quis. Pensar que conseguiu esconder isso do maior jornalista de celebridades do país mas vacilou perto de uma funcionária de hotel fuleiro só o fazia sentir-se mais otário.

Será que se encarasse a estranha com cara de coitado ela desistiria de acabar com sua carreira promissora? Tentou e ela continuou apática, mostrando que a resposta era um não tão grandioso quanto o tamanho da queda de sua reputação. Pior que não era nenhum crime, mas o cancelamento viria numa Ferrari de Fórmula 1. Respirou fundo, tentando fazer um jogo mais intimidador já que o fofo não havia funcionado.

— Você sabe que eu posso acabar com o seu emprego, não sabe? - perguntou e ela deu de ombros.

Não que emprego estivesse fácil, mas com o que podia receber expondo a confidência ficaria tranquila por um bom tempo e, também…

— Se vai te ajudar, acho uma boa você parar de produzir provas contra si mesmo! - aconselhou.

Ele nunca tinha visto como exposeds funcionavam na internet? Uma ameaça dessas só deixaria o caso mais grave diante do público. Ela não era tão ardilosa assim, mas a burrice dele só lhe dava mais crédito. Muito que bem!

Em pânico, Sandro buscou tanto ar que temeu explodir, mas essa foi a única reação que teve pra não ceder aos nervos e ter uma crise de choro. Inês, entretanto, se perguntava como ele fingia tão bem ser um cara marrento, todo seguro e misterioso a ponto de ser um ótimo avatar em grupos sobre fanfic.

— Já tentou ser ator? - sugeriu achando essa farsa dele maravilhosa e ele positivou.

— Já pensei sim, inclusive tô negociando com… - ia se revelar como o grande bocudo que era.

Por sorte, o rapaz sentado do outro lado, pensando numa solução pra essa confusão toda, chiou repreensivo, o impedindo de dar mais uma informação sigilosa pra meliante da vez.

— Sandro! - reclamou na mesma hora e seu irmão caçula tampou a boca.

Assustado, mirou a moça. Que tipo de poder ela tinha para pegar essas informações dele sem que sentisse? Ou seria muito fofoqueiro mesmo? Como sempre diziam, era sorte demais que o tal segredo não tivesse caído nas mãos erradas há muito mais tempo e bastaria um descuido de Ítalo pra que todo o esforço se perdesse.

Dito e feito! Lá estava o empresário tendo que limpar as cagadinhas do caçula e carregando todo o gerenciamento de carreira dele nas costas, sem desmerecer, claro, os talentos do rapaz, mas enfim. Como não tinha nada mais inteligente a fazer e qualquer coisa além dessa sutil "apertada" seria bem pior, acenou para Sandro descansar e deixar o assunto para os adultos resolverem.

— Vamos resumir as coisas. - disse virando-se para Inês  querendo falar de igual para igual. - Quanto você quer pra guardar esse segredo? - foi direto.

Conhecia muito bem esse jogo. No final ela seria só mais uma oportunista se aproveitando de gente rica, porém ela era uma oportunista com cartas na manga, do tipo que seria perigoso deixar sem controle por aí. Se comprasse a informação dela, sairia mais barato que lidar com o furor das fãs indignadas, das portas fechadas e da perda de patrocínios. No entanto, se Ítalo era esperto, Inés era esperta e meia e os pegaria no pulo, sacudindo a cabeça em negativa.

— Em dinheiro? Nada. - rebateu fazendo nó na cabeça do par de irmãos.

Sandrake encarou o outro, notando-o tão ou mais confuso que ele enquanto a camareira se sentia até ofendida. Era fofoqueira, intrometida e até maldosa, mas não era nenhuma criminosa e jamais extorquiria alguém. Ao menos não em benefício financeiro e próprio.

Como indenização por pensarem mal dela, levantou-se e pegou no frigobar uma das barras de chocolate que o hotel deixava ali, escolhendo uma das caríssimas. Merecia um pouco de mimo depois de encarar tanta tensão e, agora, os olhares raivosos dos dois que esperavam seu sinal pra poder relaxar, mantendo-se atentos a seus lentos passos de volta à posição inicial.

— A pergunta certa é o que eu quero. - corrigiu cínica.

Tudo dentro do esperado, Ítalo pensou.

— Tudo bem. Pode pedir. - mostrou-se aberto e Sandro negou.

— Eu não vou fingir namorar você pra você ficar famosa no Instagram. - rebateu na hora, não sendo acatado.

— Se ela pedir, você vai sim! - ordenou como empresário, não como irmão, mas contando com o segundo lado para segurar aquele moleque que o olhou pidão.

— M-mas…

— Calado. - interrompeu como se tratasse de uma criança, apontando pra dona da cocada preta da vez. - Ela que manda! - reconheceu dando seu melhor pior sorriso, sentindo-se como o professor de alguma creche. - Diga meu chuchuzinho que adora meter o nariz onde não foi chamada, o que você deseja? - indagou até fofo apesar do nervosismo.

Não precisava forçar tanto a barra e nem achar que ela precisava de alguém pra ficar famosa – ou que queria isso. Era uma grande oportunidade que tinha nas mãos pra ajudar uma amiga e não perderia o foco por nada, muito menos pela autoestima elevada de qualquer famosinho falso.

— Calma, já é? - amenizou se voltando para Sandrake com desdém. - E pra sua informação, eu não ficaria com você nem de fachada. - informou quase rude.

— Como não? - o cantor perguntou boquiaberto.

Não fazia o tipo dela? Ela o achava feio? Era só o que faltava. Seu irmão, notando seu faniquito, revirou os olhos. Não era hora de questões de ego.

— Sandro, essa não é a questão. - interferiu e a garota concordou.

— É, Sandro. Essa não é a questão. - imitou se achando poderosa e foi divertido quando os dois lhe olharam assustados, esperando seu pedido como se fosse uma rainha.

O ar pesava em clima da subentendida pergunta do que danado ela queria e, bondosa, Inês não quis mais cozinhá-los em banho-maria, terminando seu doce bem mais gostoso do que em suas expectativas, mas fazendo-o devagar por curtir muito a sensação. Só não brincou mais com a cara deles por medo que eles cansassem e saísse de mãos abanando.

— Eu guardo seu segredinho mequetrefe sem que você me pague, mas pra isso… - continuou o suspense para a tortura dos moços.

— Pra isso… - incentivaram juntos.

Travessa, Inês sorriu balançando a cabeça e se questionando se fazia bem o tipo vilã de novela mexicana, segurando o mistério e soltando uma risadinha nada amigável a eles. Não seria nada demais, nem doeria muito, muito menos era ilegal, logo só faltava a eles fazerem suas partes. Se apoiou no braço esquerdo, inclinando o corpo para o lado e apontando para o funkeiro, seu alvo principal.

— Pra isso vocês vão ter que me fazer um favorzinho!

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