Segundo o tal demônio laplaceano, uma vez conhecidas a posição e a velocidade de todas as partículas do universo, podia-se prever com exatidão onde elas estariam daqui a alguns segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos e séculos.
Emprestando tal conceito aos “motivacionistas”, o discurso segue o mesmo caminho: “saiba o que motiva João, Pedro ou Maria que seremos capazes de prever como agirão daqui até o dia do juízo final”.
Conhecer, prever e controlar desde partículas atômicas, vegetais, clima, até os seres humanos é o sonho dourado da ciência moderna. Um sonho grandioso que esconde benefícios e pesadelos, conforme espero demonstrar.
Vejamos... o homem como um ser movido por necessidades e aspirações é a base teórica do modelo motivacional. Temos apetites considerados nobres (amar, superar desafios, auto-estima etc.) e plebeus (comer, dormir, receber o salário mensal etc.) e lutamos para satisfazê-los. E é justo que as organizações e sociedades facilitem o acesso de seus membros a tais objetivos.
Uma breve reflexão nos mostra que há acertos e equívocos teóricos nesse modelo. Temos que nos alimentar! Só que santos, ascetas e anoréxicos fazem do jejum um estilo de vida. Clamamos por segurança, e nos esquecemos que mártires, bombeiros e policiais ganham o pão de cada dia arriscando o próprio pescoço. Ansiamos por amigos e ignoramos que há pessoas que se casam e se relacionam por conveniências ou interesses mesquinhos. Isso sem mencionar os sociopatas que são imunes a qualquer rasgo de sociabilidade.
Ou seja, nem todos os motivos que inspiram a ação humana são nobres ou são o que aparentam ser, e, portanto, merecem ser reprimidos no lugar de incentivados.
Os defensores da teoria motivacional dizem que ela pressupõe uma troca pessoa a pessoa ou organização e funcionários. No balcão de negócios as partes interessadas permutam comprometimento, competências e lealdade em troca de salários, benefícios e oportunidades de crescimento profissional.