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E, então, Charlotte acordou. Mas bastaram poucos segundos para perceber que aquele não era o seu quarto. 

Estava em uma cama de solteiro, como era a sua. As cortinas eram mais claras, assim como as de seu quarto. Mas, ainda assim, não era o seu quarto.

Também não demorou para notar a diferença na textura dos tecidos que a rodeavam: parecia que tudo ali era de cetim. E ela nunca teve lençóis de cetim em sua vida. Muito menos naquelas cores suaves (azul pastel e estampas muito delicadas de flores). Os móveis lembravam aqueles de antigamente, que existiam na casa de seus avós. Parecia uma casa do passado, não fosse pelo notebook repousando ao lado da penteadeira. Um notebook meio diferente, mas ainda era um notebook. Infelizmente, seu reconhecimento do quarto fora brutalmente interrompido pela porta se abrindo:

- Ela acordou! - gritou a jovem moça que entrava pela porta. - Venham, ela acordou!

Charlotte estava catatônica na cama; não sabia ao certo se gritava junto, ficava imóvel ou tentava pular pela janela. No fim, só conseguiu ficar imóvel e muda. A jovem desconhecida se aproximou da cama e se sentou na beirada, com muito cuidado - tão delicada quanto os tecidos dos lençóis. Sua aparência também remetia a tempos antigos: tinha longos cabelos escuros, assim como Charlotte (porém, mais bem cuidados) e ondulados, vestido comprido e pouca maquiagem, como se tivesse saído de algum filme de época. Sua beleza era encantadora.

- Você está bem? Sente alguma coisa? Meu nome é Elizabeth! 

Antes que pudesse responder qualquer coisa, outras pessoas entraram no quarto: mais duas jovens de beleza descomunal e um rapaz, tão bonito quanto. "É claro que isso é um sonho", Charlotte pensava, "ou eu entrei num livro de conto de fadas". Todos vestiam roupas antigas, mas que aparentavam ser bastante confortáveis. Todas as três moças possuíam características semelhantes: longos cabelos, vestidos compridos e uma elegância natural. Uma delas, a ruiva, fez como a primeira e se aproximou, apresentando-se com um sorriso:

- Meu nome é Rúbia. Nós somos irmãs. Nós três!

Charlotte ainda não havia conseguido dizer nenhuma palavra. Apenas olhava embasbacada para todos os presentes. Faltavam duas apresentações. Elizabeth alertou a outra irmã:

- Sabrina, sua vez! E nem pense em se esconder, Jonathan.

Então, a loira se chamava Sabrina. No entanto, esta não parecia tão empolgada quanto as outras. Ela apenas perguntou, de longe:

- Sente-se bem? Está com fome? Nós já tomamos café, mas guardamos para você.

Assim como as outras, essa tal de Sabrina era lindíssima. Aparentava ser um pouco mais velha - a mais adulta. E a menos simpática. Porém, foi a única a quem Charlotte conseguiu responder:

- Er... s-sim, eu acho que estou com fome. Mas... o que eu estou fazendo aqui?

- Isso é assunto para depois. Vamos com calma, certo? - Rúbia respondeu.

- Eu vou para a cozinha. Aguardo vocês lá. Não demorem, não esqueçam disso. - Sabrina falou, enquanto se virava e saía do quarto. O rapaz apenas cumprimentou Charlotte de longe e desejou boas vindas, enquanto saía do quarto também.

- Ah, você vai ter tempo para conhecê-los, não precisamos fazer tudo de uma vez. - disse Elizabeth, num tom suave de voz. Provavelmente esta era a irmã do meio. Sua presença era muito agradável.

- Você quer ajuda para escolher seu traje? Aqui estão as opções, mas podemos te ajudar com isso, se quiser. - Rúbia disse, já em frente ao armário.

E foi então que Charlotte observou a tela touch na porta do armário. Sim, igual ao filme "Patricinhas de Beverly Hills", era possível fazer a combinação de peças de roupa virtualmente. Charlotte levantou-se da cama e notou que vestia uma camisola branca, como aqueles de época. O calçado era bastante macio. Elizabeth também se levantou e acompanhou a irmã ao lado da tela:

Sonhos de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora