O sangue não torna família

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JUSTIN

Eram 19:40 quando eu cheguei em casa, certamente teria sido mais rápido se eu andasse em uma velocidade normal e não há dois passos por minuto. Fiz isso pois não estava nem um pouco a fim de encontrar uma das namoradas da minha mãe fumando alguma coisa, que provavelmente era o que me esperava.

Enquanto eu subia as escadas do prédio em que moro pude ouvir um barulho de música eletrônica, respirei fundo e continuei o caminho. Parei em frente a uma porta branca, número 401, era de lá que a música vinha, e para minha não tão surpresa assim... era o meu apartamento.

Abri a porta.

― Justin! Você nem avisou que estava che-chegando ― Minha mãe falou enquanto tirava um baseado da mão e se desvencilhava de uma outra mulher rapidamente.

Sabia... pensei comigo mesmo. Pelo menos dessa vez estavam cobertas por um lençol no sofá minusculo da sala.

― Do que iria adiantar? Você não vê mensagens, tem coisas mais importantes pra fazer, né? ― Eu respondi olhando o estado deplorável que a casa estava.

― Qual é, não fala assim com ela ― A mulher rebateu.

― E quem é você mesmo? ― Perguntei enquanto tentava passar pela pilha de sujeira e bagunça no meio daquele cômodo.

― O nome dela é Kate ― Minha mãe respondeu.

Eu só respirei fundo e no meio do caminho do caminho para o meu quarto desliguei o som.

― Ei! - Ambas falaram ao mesmo tempo.

Revirei os olhos.

Larguei a mochila no chão e suspirei pela milésima vez no dia, tenho esse hábito. Eu poderia ter dado um sermão na minha mãe, como geralmente faço, mas hoje eu estava mais desgastado mentalmente que o normal. Na verdade, já não é muito eficiente discutir, eu falo com ela e depois de uns três dias as coisas voltam a acontecer.

Quando eu aluguei esse apartamento ano passado achei que finalmente teria paz, sem as brigas ou surtos dos meus pais, mas eles se separaram e tudo piorou mais ainda. Meu pai pediu o divórcio e logo depois foi morar na casa da sua família na cidade vizinha, enquanto minha mãe ficou com nossa antiga casa. Ela acabou sendo demitida do seu antigo emprego e usou o dinheiro da pensão pra comprar bebidas, drogas e fazer festas, então ela foi expulsa por atraso no aluguel. Eu não à julgo, depois de um tempo percebi que era a forma dela de lidar com o que estava acontecendo, pena que quando notei já era tarde demais. Desde então moramos juntos e bom... as coisas ficaram complicadas. O dinheiro que recebemos do meu pai não é muito alto, sobra um pouco para pagar parte das contas e o restante eu deposito em uma poupança pra faculdade, que só aceitei depois de muita resistência. Não queria nada que viesse dele, essa é a sua única preocupação conosco, e tenho certeza que só existe pois é judicial. Fora isso tem o meu salário que é o que nos sustenta de fato. Sou funcionário da Cooper's, uma loja de mecânica que fica à dois quarteirões daqui, que é basicamente onde passo minha manhã.

Meu celular tocou e me fez voltar a realidade, era a Sabrina.

Atendi.

―  O-oi... Justin ― Ela disse com a voz trêmula.

― Tá tudo bem? Você tá chorando? ― Perguntei assustado.

― Você pode sair? E-eu tô perto da sua casa.

― O que? Posso sim, mas... estou descendo ― Eu disse enquanto pegava as chaves no bolso da mochila e abria a porta do quarto.

― Okay... ― Ela disse e desligou.

Passei pela sala, a tal Kate já tinha ido embora e estava tudo apagado, inclusive minha mãe no sofá, deitada com a TV ligada.

― Que merda - Disse apagando tudo.

Abri a porta e desci as escadas correndo, quando cheguei na frente do prédio vi Sabrina andando na minha direção. Ela estava com o cabelo preso e um casaco cinza, seu rosto estava vermelho e seus olhos inchados. Instantaneamente fui abraça-la. Ela me retribuiu apertando mais forte e começou a chorar enquanto balbuciava algumas palavras que eu não estava entendendo. Fiquei tentando acalma-la, mas depois de um tempo ela apenas largou o abraço.

― Ele... e-ele me bateu... ― Ela disse em meio a soluços.

― O que? Quem te bateu? Como assim? ― Perguntei em choque.

― Meu... pai, ele me deu um ta-tapa, ele chegou em casa bê-bêbado mais um dia, só que dessa vez foi pior, e-ele começou a falar merdas e... minha mente só consegue repetir o momento que... ― Sabrina tentava enxugar as lágrimas na manga do casaco.

― Mano... é, é... vamos entrar no prédio ― Disse ainda sem uma reação.

Entramos no prédio sentamos no salão de festas, Sabrina soluçava um pouco ainda e eu estava processando a informação.

― Eu sabia que era uma relação complicada de vocês, mas... jamais imaginaria que chegaria a esse ponto ― Falei sentando na cadeira ao seu lado.

― Eu também... fui uma idiota por não ter continuado tentando ajuda-lo ― Ela disse olhando para o chão.

― Ei, não! Você não foi uma idiota, Sabrina ― Falei.

― Ele já tinha agredido minha mãe antes, Justin... e-eu fui idiota por acreditar que ele não faria o mesmo comigo um dia.

― Você não tem culpa de ter esperanças nele, Sabrina... ele é seu pai. O meu fez merda e eu continuo sendo hipócrita dizendo que o odeio, porque não é verdade.

― Não, esse imbecil não é meu pai. Não quero vê-lo nunca mais, ele não é nada pra mim ― Ela disse com lágrimas escorrendo e caindo pelo casaco.

― Ei, eu tô aqui, isso nunca mais vai acontecer, eu prometo. Ele nunca mais vai te machucar, você pode ficar aqui em casa o tempo que precisar ― Eu falei e puxei ela para um abraço.

Eu havia ficado de frente para a portaria, então dava para ver as coisas do lado de fora enquanto a abraçava. Apareceu um homem na rua da frente, ele olhava fixamente para onde nós estávamos. Um segundo depois já não tinha ninguém, e quando eu pisquei novamente haviam três, quatro, cinco, e não paravam de aparecer. De repente, ninguém estava lá, todos sumiram.

― Queria que Hannah estivesse aqui também ― Sabrina falou.

― É... eu também queria - Respondi ainda olhando para a portão, tentando entender o que tinha acontecido.

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