01 de Janeiro de 2023

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Dia de todos os santos. Abrem-se os caminhos, abençoa-se os destinos. Axé para quem é de Axé. Hoje não mais. O Brasil quem pensava abraçar essas energias. O Brazil não. Mãos para céu, deu meia noite, e a única voz que pode ser ouvida é um grande coro que diz "bendito seja Deus". A propósito, é o primeiro dos mandamentos, o 1. São os tempos que chamaram de "Boa Nova", não se sabe para quem. Tempos de trevas, mesmo que o sol brilhe no país tropical e bonito por natureza, é, "que beleza". Era dia de todos os santos, em tempos de outrora.

01. O primeiro daquele ano que não sabíamos o que esperar. E como todo número 1, espera-se início, recomeço, por mais ínfimo que seja. É a marca da existência, simboliza que algo ou alguém está ali, preenche o nada e tem um caráter tão exato quanto a verdade de quem vos fala.

Um novo tempo surge em meio a gritos de silêncio, de desespero, gritos oculares. Gritos que juntos formam um quebra-cabeça, um caleidoscópio em tons de verde e azul, assim como os olhos da mosca varejeira que tudo vê, tudo percebe, em múltiplas perspectivas. É o sentimento de viver em Brazil. O tempo surge porque tem que surgir, porque a terra não para, assim como as larvas de uma mosca não param de comer até criarem suas asas, e assim, dar cria a mais dos seus. É um ciclo. É um nascimento de criaturas que travam a garganta e geram ânsia ao formarem seus "condomínios de luxo" depois de comerem a carne que julgaram inválida. As ruas, agora, estão tomadas por essas moscas que unem seus zunidos e aplaudem o novo mundo que só comporta os seus iguais.E para eles "assim seja, Amém".

O movimento das cidades por muito tempo não existiu. As larvas amadureciam em seus casulos para eclodirem no novo mundo. Brazil ainda estava Brasil. A fonte de alimento para esses animais brancos que rastejavam pelos seus ideais era toda e qualquer carne que aparecia em sua frente. Sem escrúpulos, mastigavam braços, pernas, desde crianças a idosos. Orquestravam as sinfonias de seus banquetes, muitas vezes discretos, muitas vezes escandalosos, gritavam aos montes e num misto de preconceitos e mau caratismo regurgitavam seu patriotismo. Assim como as larvas na natureza "acabam" com a carne podre, as larvas do Brasil se sentiram os "desinfectadores sociais" e buscaram retirar o que lhe parecia inválido de estar em sociedade. Pobre gente, por pouco não comeram a si mesmos, pois eram eles quem apodreciam.

Anos anteriores ao hoje, 2023, não foram tempos de bonança. Mortes em excesso marcaram a vida de todos ou o que viria a tornar o fim delas. Todos os dias, diversas famílias perderam um pouco de sua voz, de sua luz. Pessoas queridas partiam para outro plano e se transformavam em números, friamente postas num montante que crescia dia após dia. Vidas tratadas com a mesma desumanização que se derrotam os pinos numa partida de xadrez. Faltou um o xeque mate nas autoridades. Cenário perfeito para as promessas do Messias. A salvação estava em suas mãos, para aqueles que o venerava. O Sem Nome alcançava, facilmente, todos aqueles que estupidamente buscavam um líder. Pessoas carentes de uma liderança que mande e desmande em seus atos, porque são pessoas sem voz, pessoas sem histórias, são fantoches. Povos que não pensam precisam de alguém que pense por si, por isso o Messias foi abraçado e defendido com unhas e dentes pelos "seus", enquanto um terço da população ocupava, agora, os cemitérios, e outros nem direito a uma cova tiveram.

As mãos do Messias estavam manchadas de sangue, e o vermelho que cobria seus membros acendia a pulsação nos corações dos sem destinos. O encarnado que calçava luvas de morte no Messias espalhava a consolidação do domínio das moscas e suas larvas. Pregava a falsa promessa de estar salvando vidas, mesmo que essas carregassem um perfil seletivo que definia sua sobrevivência.

A incerteza dos novos dias faz até mesmo quem é descrente olhar para o horizonte, como quem fita no destino uma luz, sem túnel, apenas a luz, numa linha reta que não define distância, e questiona "um dia a mais ou a menos?". Longevidade, inclusive, é algo que não se conta em números. O futuro pode parecer distante, porém basta um passo no caminho das flores para sentir os espinhos, um passo além, e qualquer cidadão de Brazil sente o peso de "1" caixão e "7" palmos de terra. Tem-se, então, a sentença daquele que enxergam como Deus, como o salvador. É o Sem Nome, a quem chamam Messias, e que comanda essa terra. Em Brazil, não tomais seu santo nome em vão. Como evoca o segundo mandamento, obedeça a ele e terá bençãos nas próximas gerações - das moscas imundas - ou o desobedeça e serás castigado. Um salvador que facilmente seria confundido com a Besta.

Brazil, 2023.Onde histórias criam vida. Descubra agora