A MULHER, O PADEIRO E O SOBRINHO.
Eu suava
Sempre suo quando fico nervoso. Porém, havia outro agravante: os fornos estavam quentes, quentes demais. Eram dois fornos à lenha que estavam “a todo vapor”. A minha camisa estava completamente ensopada, grudava no meu corpo. Porém, o que me incomodava era aquele cheiro de carne e ossos queimados. Na rua, provavelmente, aquele cheiro insuportável estaria se misturando com o cheiro que exalava do esgoto. O esgoto que, até hoje, a prefeitura não veio consertar. Quem diria, ele viria a ser meu comparsa.
Não fazia muito tempo, três meses, três meses e meio, talvez, eu acabara de tirar uma fornada de pães doces, e, num cesto grande, levei-os para o balcão da padaria. Ao sair da cozinha, passando por uma porta com uma cortina de plástico, cheguei atrás do balcão. Estava arrumando os pães na vitrine do balcão, quando, por instinto, levantei os olhos. Foi aí que a vi pela primeira vez: era uma morena de lábios carnudos (pintados de vermelho) e cabelos negros em cachos. Aqueles cachos iam das costas até quase os quadris. Estava com vestido de alças finas, feito de um tecido leve e estampado. Era uma estampa de flores miúdas. O tom que predominava era o laranja, que ajudava a realçar aquela cor morena. Aliás, o que ela precisava para se realçar? Nada. Ela se realçava.
Os biquinhos de seus seios, ligeiramente volumosos (ela não estava usando sutiã), pareciam querer furar o tecido, o frágil tecido. Ela deve ter percebido a minha insegurança diante da sua beleza. Será que ela sabia o quanto era bela, o quando era sensual? Sabia. Claro que sabia.
Do alto do balcão, dava para ver o decote que descia suavemente em direção ao meio dos seus seios, deixando à mostra aquelas carnes rígidas, rígidas e morenas. Havia, naquelas carnes, fios delicados de cabelos loiros, provavelmente, queimados pelo sol. Havia, também, algumas gotas de suor. Fazia muito calor naquele verão de 1957. Ela suava.
Virei o rosto. Não era de bom tom aquele meu comportamento, ficar admirando a beleza de uma freguesa.
– Este que é o famoso pão de frutas?
Ela perguntou, apontado para os pães que eu trazia no cesto, com o biquinho feito com os seus lábios carnudos.
(Ela falou comigo!!)
Até a sua voz era sensual. Meio rouca, suavemente rouca, sensualmente rouca.
Deixei o cesto de pães sobre o balcão. Não ia conseguir arrumar os pães na vitrine. Ainda mais que tinha que atendê-la.
Tentei me controlar.
– Se são famosos não sei. Só sei que são pães de frutas.
Minha resposta me pareceu meio grosseira. Pareceu, não. Foi muito grosseira. Tentei corrigir:
– Muitas pessoas gostam deles...
– Então... me vê dois deles.
Ela continuava sorrindo. Não percebeu ou não ligou para a minha grossura. Talvez não tenha achado uma grossura. Tomara.
Seus dentes eram claros e miúdos. Ao sorrir, seus olhos verdes, que eram redondos, grandes, pareciam querer fechar. Na bochecha, surgiam aquelas “covinhas” encantadoras. E, sorrindo, ela se dirigiu ao caixa.
Ela iria pagar. Deveria deixar? Se não deixasse, o que pensaria o meu sobrinho, que estava no caixa, o outro freguês, que estava no balcão escolhendo os seus pães, e o “filho do guarda”, que viera pegar o frango?
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A Mulher, O Padeiro E O Sobrinho-Contos (sexo, paixão, crime e suspense)
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