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A rua ainda estava deserta, a polícia ainda dominava,parando  alguns pais de familia que necessitavam  sair para conseguir seu pão, poucos como eu ainda se aventuravam por entre os barracos e puxadinhos, becos e vielas, não podia entrar em minha própria casa.

Havia mais policiais lá que na própria delegacia, ao longe vi algumas crianças chorando, pareciam estar assustadas com tudo que estava acontecendo, o corpo de meu pai jazia no chão ao lado de uma poça de esgoto, seu crânio litetalmente estourado e o "cano" do lado, que ele batizou de Susan sujo de barro.

Ouvi passos e me escondi atrás de uma caçamba:

---Graças a Deus, finalmente matamos aquele filho da puta--- os passos cessaram, deduzi estarem a minha frente--- Vou fazer até um churrasco pra comemorar.

---- É, mas sabe que foi errado né?.

---- E daí? Menos um idiota pra Humanidade, vamos limpar esse lugar.

Os passos começaram novamente, devagar fui me retirando de trás.

Eu queria chorar, eu queria poder gritar ,queria poder ficar de luto.

Mas não podia, não tenho no mundo onde sobrevivo, o ar estava ficando rarefeito, tudo começou a rodar, fixei meus pés no chão recuperando o equilíbrio.

Balancei a cabeça afastando todos os pensamentos que não eram importantes naquele momento e foquei em meu único objetivo.

Pegar Susan.

Susan era a arma de estimação de meu pai, a única forma de lhe manter por perto.

Um camburão estacionou em frente, os policiais desceram entrando na casa, de lá traziam algemados, todos os meus colegas de infância, aqueles que eu alguma vez brinquei e saí para festas.

Estavam todos indo para a Tranca.

É algo que se você mora na favela, provavelmente vai ver no decorrer de sua vida.

---- Oh! Sargento! Vou fechar aqui ,levar esses vagabundos! ---- O polícia loiro deu um tapa na cabeça de um dos garotos.

Tiago, Eu sinto muito.

---- Okay, vou só esperar a perícia, Podem ir ,acho que a área já ta limpa--- Eles se cumprimentaram e o Camburão se foi, levantando poeira.

A Rua ficou silenciosa, em poucos minutos a perícia chegaria, minha última chance.
Coloquei o capuz do moletom, e me abaixei dando passoas largos e apressados, quanto mais me aproximo mais quero correr.
Eu não me importo com oque dizem sobre ele, pra mim sempre será o meu pai.
Foi Ele que me ensinou a andar, e a atirar, eu o amo apesar de tudo.

Eu jurei que tentei resistir, mas a mesma sensação de antes voltou mas três vezes mais forte,  cai de joelhos por terra, as lágrimas rolavam e eu abraçada ao corpo de meu pai, chorava como uma criança.

----Oh Pai!--- não percebi mas estava gritando.

A visão embaçada dificultava tudo, vi alguém se aproximando e em um solavanco me puxaram, me debati enquanto gritava, vi susan ser pega por alguém e isso me fez gritar ainda mais, senti minha garganta doer.
E então um estrondo alto e forte me calou, tiros.
Aos poucos percebi que era um policial em minha frente, ao olha pra cima, vi um rosto familiar.

Valter, o melhor amigo de meu pai, estava me salvando de levar um tiro, ele me arrastou pra mesma caçamba de antes.
Com a visão um pouco mais limpa, vi que com Valter eram 3 que trocavam tiros com a policia.

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