02

5 2 0
                                    

  Narrador

O galo cantou no morro, o sol invadiu a casa despertando Eduarda de seu paraíso: O sonho. Com dificuldade se levantou, a luz solar machucava seus olhos então fechou a cortina grosseiramente, voltando a se deitar. Eduarda encarava o teto, tijolos a mostra em conjunto com os resquícios de cimento, que ameaçavam cair, lhe traziam nostalgia de um época que só se preocupava se seu pai voltaria para casa. Ela até tentou adormecer novamente mas os lampejos da noite anterior, cortavam como uma faca de açogueiro cada vestígio de esperança de que tudo oque passou fosse só efeito da maconha.
   De um dia para o outro se tornou chefe de uma das maiores facções do Rio de Janeiro, sua mente mandava ela ficar, obedecer, e viver de acordo com as leis da favela.
   Mas seu coração era de uma criança, perdeu o pai, estava assustada e aterrorizada, fugir era a única opção a sua frente.
  Ela se virou de lado, ficaria o dia todo na cama, processando cada informação. Após meia hora batidas no portão fizeram a mesma estremecer e resmungar alguns palavrões mas continuou deitada, rezando para que fossem embora. Outra batida, ela se levantou tropeçou em algo que julgou ser um sapato mas continuou em frente, a silhueta franzina na porta de vidro denunciou Zóio que sorriu assim que ela abriu a porta:

---Acordou princesa!--- Exclamou ao vê-la.

Eduarda revirou os olhos.

--- Oque quer aqui?-- disse ela trazendo a camisa social que usava, mais junto ao corpo se protegendo do frio.

---- Cabelin te chamou pra ter os informe da "endolação".-- O garoto arrumou seu colete que era grande demais para o seu físico.--- Mas temos que tomar cuidado "os home" podem estar por ai.

Eduarda assentiu tirando o cabelo do rosto.

--- Notícias do Valter?--- Perguntou.

O garoto balançou a cabeça em negação.

--- talvez só ta escondido.--- deu de ombros--- A gente não vai parar o corre por causa disso e além disso, eu vou te ajudar com tudo.

---como assim?.

--- vou te mostrar o básico do bagulho, e depois te vira--- Zóio soltou um sorriso amarelo.

--- Muito obrigada, eu não sabia nem oque fazer--- Eduarda abraçou Zóio saltitando de alegria.

Conversaram por mais alguns minutos e desceram, por mais que a favela estivesse movimentada, o clima tenso de hoje ainda prevalecia, a polícia ainda patrulhava por alguns locais mas estavam bem atentos sobre onde passar.

Chegaram um pequeno barraco no topo do morro, sem acabamento, parecia um local simples sem mal algum.

Eduarda ao entrar, foi de encontrão com o cheiro de maconha que a engoliu, havia uma mesa enorme, nela estavam disposta barras de maconhas, balanças e vários instrumentos para embalagem.

  Eduarda reconheceu alguns dos dez "trabalhadores", alguns de seus vizinhos de anos estavam ali, era uma forma de conseguir uma grana a mais, já que a maioria não conseguia sobreviver com o dinheiro do emprego.

--- Chefe!!!--- Cabelin correu e parou a sua frente sorrindo--- Não esperava te ver aqui tão cedo.

--- me chamou?--- As pessoas se entreolhavam, confusas com uma mulher está no topo--- e ai?

--- Dez quilos até agora,  eles até que trabalham rapido--- Cabelin colocou o fuzil nas costas--- Espero chegar até cinquenta no final do dia.

--- Não tem como chegar a Sessenta?.--- Respirou fundo, se era pra entrar nisso começaria aos poucos.

--- bom... Posso tentar--- O sorriso de cabelin não era totalmente amarelo quanto os dos outros, era até branco constratando com cabelo platinado.

Eduarda resmungou um ótimo, o restante foram apenas explicações de como era feito o processo, explicaram também como era feito cada remessa, anotando tudo em caderno assim como a distribuição, em todas as bocas.
Ao todo eram seis casas de Endolação, colocadas estrategicamente pela favela, cada uma com três soldados a vigiando.
  Eduarda estava pegando o jeito, se sentia mal as vezes, via crianças no meio de todo o esquema quando deviam estar brincando ou estudando.

  Mas como ela mesma disse, não era inocente e nem santa, mesmo não querendo admitir tinha a mesma ambição por dinheiro fácil, que seu pai e todos ali. Também tinha o vício por adrenalina, estava um pouco assustada mas se soltaria conforme pegasse o jeito.

--- Amanhã tem um novo carregamento do armeiro, ai nós vai ver okay? Seu papel de chefe e não deixar que nada se foda, tu é a mente do morro.--- Zóio explicou, enquanto subiam a rua em direção da casa de Eduarda--- Precisa achar um gerente também.

--- Vou escolher depois, preciso de mais informações--- Disse Ela enquanto cumprimentava alguns colegas de "trabalho".

--- entendo... Amanhã o macacão é o armeiro, então não caía nas provocações dele, ele nunca foi a favor de vc, na verdade nunca foi a favor de mulher no topo, se alguém começaria um motin seria ele.

--- Não vou deixar, tem um mapa do morro?--- perguntou parando em frente a porta de sua casa.

--- Na verdade quem tem é cabelin, mas arrumo pra você--- Eles se cumprimentaram e zóio foi embora a deixando sozinha.

Eduarda entrou em casa, tomou um banho e ligou a TV em algum programa de variedades que passava tarde da noite, acabou adormeçendo.

No dia seguinte, acordou com batidas portes na porta,  as janelas tremian aumentando o barulho, correu e abriu.
  Cabelin estava parado a sua frente, a camisa de time colada ao corpo, consequência de ter subido correndo o mais rápido que pode.

--- "os home" brotaram aqui, levaram Zóio, e derrubaram três da endolação--- Eles estava ofegante, Eduarda o puxou para dentro fechando a porta.

--- Alguém te seguiu?--- perguntou nervosa prenssando ele na parede.

O mesmo negou.

Eduarda o soltou buscando um copo de água, entregou e Cabelin bebeu rapidamente.

--- Zóio foi o único lá embaixo, pegaram ele e depois de alguma forma destruiram as outras três--- Cabelin devolveu o copo--- posso sentar?

Assentiu, ele se jogou no sofá.

--- Acha que ele pode ter sido x9?.

--- Não, Zóio não, eles nos caçam a anos, já devem ter tido algum tipo de informação.

--- Zóio te falou de mapa?.

--- Ah sim!--- O mesmo se ergueu um pouco retirando um papel amassado do bolso.--- Toma!

Eduarda o pegou, abriu, era uma folha de caderno comun, algumas ruas desenhadas e em X marcado cada base do tráfico.

Alguns x estavam borrados.

--- você chama isso de mapa?--- Reclamou a mesma, guardando o papel em uma pequena caixa ao lado de sua cama.

--- Nós não somos bons desenhistas ta ligado? Aliás vai fazer oque? Precisa tomar uma providência.

---Marque uma reunião com todos, aqui em casa, vou resolver isso.





RajantesOnde histórias criam vida. Descubra agora