01 - Favorita

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    O loiro encarou-a. Juntou as mãos e desfez o sorriso, devolvendo o mesmo olhar cauteloso a ele. Era como estar sendo observada minuciosamente, qualquer mínimo ato era percebido.

- Vim cobrar o favor.

    Os olhos densos como ouro derretido foram cobertos em parte pelas sobrancelhas. A pele de marfim quase repuxou-se em sua testa, por pouco de criar vincos. A mulher soltou um suspiro em pleno tédio e tirou um papel colorido de dentro de sua bolsa. A foto escapuliu de seus dedos e em milésimos de segundo estava nas mãos do médico.

- Essa é minha filha. - apontou, passando a mão pela nuca. - Preciso que vocês a protejam, Carlisle.

- Proteger do que, exatamente?

    Franziu os lábios pintados em carmim.
    Carlisle podia sentir dentro de si que estava pisando em terras minadas, talvez cometendo uma loucura ao simplesmente perguntá-la isso; sabia perfeitamente que a velha conhecida se envolvia em coisas perigosas. Esme avaliou os dois, o semblante preocupado em seu rosto, que distoava totalmente com ele.
    Examinou a foto. Uma menina sorridente de cabelos lisos e franja, a face indicando traços asiáticos e um copo de milkshake na mão, o canudo batendo na bochecha. Uma humana que precisava de proteção de um grupo - ou família - de vampiros "vegetarianos" e extremamente pacíficos que evitavam conflitos a todo custo. Um pedido um tanto quanto incomum, avaliou em seus pensamentos nebulosos.

- Eles querem ela, Carlisle. - a voz, antes cortante, era agora quase trêmula. - Querem que ela seja um deles.

    O vampiro retesou as costas. Só podia estar falando de um conjunto específico que a assustaria deste jeito. Como um sopro, a conclusão também veio a sua mulher, que deixou transparecer o seu horror a simples ideia de uma pessoa se juntando àqueles que queriam a morte de sua futura nora ou que se tornasse um ser como eles, dando uma sentença letal se não cumprissem suas condições.

- Por que os Volturi a querem? - Carlisle disparou, ainda de maneira cuidadosa.

- Porque ela é especial. Você não tem ideia do que ela seria capaz de fazer se virasse vampira e subordinada deles. - a fala foi desaparecendo até virar um sussurro, os ombros encolheram-se por debaixo da blusa social. - Ela não pode cair nas mãos deles. Aro ficaria invencível.

- E por que acha que somos capazes de pará-los? - Esme, rompendo com o seu comportamento calmo, indagou com um princípio de fúria. Os olhos brilhando em tal sentimento. - Não acha que é muita pretensão sua pedir que nos arrisquemos pra proteger a vida da sua filha?! Você é tão capaz quanto nós, Eleanor!

- Mas eu não tenho os talentos que vocês têm. - argumentou cerrando os punhos, os tendões sobressaindo por debaixo da pele alva. - Hana precisa de vocês.

    No segundo andar, Alice paralisou. Jasper tentou não retorcer o rosto pelo desconforto que aparecia toda vez que a menor fazia isso. Era sempre uma tortura agonizante ficar se perguntando, mesmo que por instantes, se o que ela estava vendo era bom ou ruim.
    E, como um choque, ela voltou com os olhos úmidos. Os dedos compridos começaram a tremer até abraçá-lo e encaixar o rosto na curvatura do pescoço do loiro. Ficou atônito e tentou usar o seu talento para influenciá-la a se acalmar.
    Frustrou-se quando viu que tentar aquilo era inútil. Não estava conseguindo se concentrar com a moça - com a aparência quase que de uma fada - horrorizada soltando múrmurios sem nexo.

- Alice, o que você viu? - articulava as suas cordas vocais da maneira mais lerda que conseguiu, esquivando-se, mesmo que sem sucesso, do pânico que arrastava-se em sua direção, como um monstro louco para mastigá-lo. - Diga o que viu, por favor.

- E-Eu vi sangue, m-muito sangue. - gaguejou, ainda com o medo exalando na voz como um gás, contagiando Jasper, que arregalou os olhos dourados. - E-E tinha uma menina de olhos vazios... e-ela os matou.


    Já mais calma, Eleanor afiou o olhar, tracejando um plano em sua cabeça.

- Já que não acreditam, vou dar três dias até que aconteça algo suspeito com a minha filha. E então, vão ter que protegê-la.

    O casal se entreolhou.

- Como vamos saber que ela sofreu um ataque dos Volturi?

- Vou trazê-la pra cá. - respondeu ávidamente - Assim vocês vão saber quase na mesma hora que acontecer, já que vocês rondam metade de Forks.

    Carlisle assentiu, seguindo a linha de raciocício da morena. Esme pigarreou, ainda com resquícios de ira e, agora, incredulidade.

- Vai arriscar a vida dela desse jeito?

- Não, não seria louca de pô-la em risco, Esme. Acima de tudo, ela é minha filha. - os olhos cor de âmbar brilharam com a incidência da luz do Sol que emanava da janela lateral da sala, quase refletindo nas paredes brancas da enorme sala. - Até porque eles vão cercá-la antes de fazer qualquer coisa. Não há porque ter pânico.

- Se nada acontecer em três dias, estamos livres do seu pedido, certo? - o médico precisava afirmar aquilo mais pra si mesmo do que pra outra a sua frente. Algo dentro de si se remexia, dando a entender que em três dias algo muito profundo iria acontecer. Odiava esses maus presságios. - Hana ficará bem e não precisaremos nos arriscar.

- Sim, meu querido amigo; mas garanto que vai acontecer e então estaremos quites. Aceita? - estendeu a mão.

    O Cullen pensou em conjecturar. Poderia pedir esse favor a outro de seus amigos, de seus conhecidos. Porém, no fundo do seu âmago, sabia que ninguém iria aceitar tão fácil e de bom grado tal proposta. Era uma zona inexplorada e se nem ele próprio queria avançar, quem mais iria querer?
    Suspirou, apertando a mão de Eleanor que sorriu e sem querer deixou as suas presas à mostra. Estava satisfeita por fora, sem deixar transparecer o medo e a paranoia que a corroíam. Hana era o seu bem mais precioso e - infelizmente - a escolha favorita de Aro para uma nova recém criada. Tinha de fazer alguma coisa antes que o tempo acabasse.

Lua Crescente - twilight ◐Onde histórias criam vida. Descubra agora